Autor: Lusa/AO Online
Os números mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que, no final de junho, os portugueses poupavam 13,6% do rendimento disponível, um valor acima do registado nos dois anos anteriores (11,6% em 2012 e 9,1% em 2011), o que denota um aumento da poupança apesar do corte de rendimentos provocado pelo aumento de impostos, desemprego e cortes de salários.
O economista Rui Serra, do Montepio, aponta três razões para este crescimento: precaução em relação ao futuro, o reforço da poupança decorrente da dificuldade em aceder a crédito e o aumento dos incentivos à poupança devido ao aumento da remuneração dos depósitos.
“A crise levou os portugueses a terem uma atitude mais cautelosa e a alinharem mais os seus rendimentos com as suas despesas e passando a ter em mente que a época do crédito fácil é algo que não se deverá repetir novamente nos próximos anos”, afirmou à Lusa.
Também Teresa Gil Pinheiro, do BPI, entende que o aumento da poupança está relacionado com uma atitude “mais cautelosa das famílias”, que perante a incerteza do mercado de trabalho tendem a reduzir o consumo.
Análises que coincidem com a do Banco de Portugal (BdP) que, no Boletim de Inverno de 2013, publicado já este ano, referia que o “elevado grau de incerteza quanto à duração do período de ajustamento poderá ter induzido um aumento da poupança por motivos de precaução”.
O BdP comparou mesmo a evolução da poupança nesta crise com o que aconteceu no início dos anos de 1990 e início da década passada para concluir que se está a comportar de modo diferente nesta recessão: “A evolução da taxa de poupança das famílias contrasta com o observado em anteriores períodos recessivos, que decorreram em contextos de políticas orçamentais pró cíclicas e condições de financiamento acomodatícias”.
Sobre o destino que os portugueses dão ao dinheiro que guardam, os depósitos continuam a ser o principal produto de poupança, ainda que a subscrição de dívida, sobretudo de empresas, venha a ganhar terreno.
Dados do BdP indicam que, em agosto, os particulares tinham depositado 132 mil milhões de euros nos bancos, ou seja, mais 12,9% do que há cerca de três anos atrás, quando se considera que a economia entrou em recessão técnica (quarto trimestre de 2010).
Para Rui Serra, a escolha dos depósitos para guardar dinheiro beneficiou também das “taxas relativamente mais atrativas que foram sendo oferecidas” pelos bancos numa altura em que tinham dificuldade em se financiar (os juros baixaram entretanto) e que levaram a realocar algumas poupanças para aquele instrumento.
Ao mesmo tempo, outros produtos de poupança também perdiam interesse, como os certificados de aforro, que davam remunerações cada vez menores, os fundos de pensões, com a perda de benefícios fiscais dos Planos de Poupança Reforma, ou os fundos de investimento, apesar de ainda serem o "segundo produto mais importante entre os ativos financeiros domésticos detidos pelos portugueses".
Mais recentemente, são muitas as emissões de obrigações de empresas a que os particulares acorrem devido à remuneração oferecida (em alguns casos o dobro dos depósitos). Também os certificados de aforro têm registado um aumento das subscrições depois de alteradas as condições de remuneração.
Apesar de estar a subir, a taxa de poupança dos portugueses continua abaixo da registada nas décadas de 1970 e 1980. Em 1972, segundo dados do INE e do BdP, atingia os 24,8% e, até meados de 1980, manteve-se acima ou perto dos 20%.
A adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (1986) aumentou o rendimento disponível, a que se somou a facilidade de acesso ao crédito com a liberalização financeira, o que alterou o comportamento das famílias, que passaram a consumir mais do que em épocas anteriores.
O Dia Mundial da Poupança celebra-se a 31 de outubro e foi criado em 1924, no I Congresso Internacional de Economia, realizado na cidade italiana de Milão.
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