A importância geoestratégica do arquipélago dos Açores, nomeadamente da ilha de Santa Maria, no programa espacial europeu vai começar a materializar-se, ao nível do retorno de veículos espaciais, já a partir do próximo ano.
Para além do Space Rider, que no seu regresso à Terra vai aterrar em Santa Maria em 2028, a “ilha do sol” vai ser local de acolhimento, já no próximo ano, do regresso da Phoenix 2, uma nova geração de cápsulas de reentrada que está ser desenvolvida pela startup alemã Atmos Space Cargo.
Este projeto conta, no seu programa, com dois voos agendados para o próximo ano (de um total de sete missões espaciais), tendo Santa Maria como seu principal ponto de retorno.
Para além destes, mais outros dois voos estão a ser negociados pela Agência Espacial Portuguesa - Space Port (AEP) para utilizarem Santa Maria como local de regresso após a realização das expedições espaciais.
“Há mais dois que estamos a negociar. Há muito interesse e, como é evidente, temos que reservar ainda algum sigilo para, de alguma forma, acautelarmos o interesse”, afirmou Ricardo Conde, presidente da AEP, à margem da assinatura de um protocolo de cooperação assinado com o Governo Regional dos Açores.
O acordo rubricado com o secretário Regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades, visa estreitar a colaboração entre as duas instituições, tendo em vista o desenvolvimento do ecossistema espacial existente na ilha de Santa Maria.
Neste sentido, é objetivo arrancar no próximo ano com a construção do Centro Tecnológico Espacial, uma infraestrutura central no apoio às missões espaciais europeias, mas também nos voos de regresso a Santa Maria, como também nos lançamentos de pequenos satélites que vão ocorrer a partir da ilha mais oriental da Região. A sua construção, avançou Ricardo Conde, vai iniciar-se nos próximos seis meses.
“Estamos na fase de projeto e a entrada do projeto na Câmara Municipal [de Vila do Porto]. No primeiro semestre vai-se dar início à construção. Obviamente isto obedece a concursos públicos, temos que acelerar porque temos 2028 como a meta para a aterragem do Space Rider. É necessário em 2026 e 2027 termos duas infraestruturas prontas”, perspetivou o dirigente da entidade que está sedeada em Vila do Porto.
De acordo com o responsável da AEP, as infraestruturas a construir são o Centro Tecnológico Espacial (que vai nascer no lugar do antigo kartódromo, terreno cedido pela edilidade mariense), bem como uma nova estação que vai permitir a expansão do Teleporto de Santa Maria, uma estrutura que vai estar “dedicada também às missões de reentrada, mas também com características para operações de segurança a nível daquilo que é o acesso ao espaço, nas futuras atividades de acesso ao espaço”, especificou Ricardo Conde.
O investimento da AEP nestas infraestruturas ronda os 15 milhões de euros (ME), com a Região a suportar três milhões.
“Em 2027 o Governo dos Açores terá de, impreterivelmente, participar com três milhões de euros. É um esforço significativo, mas é um esforço que fazemos para um projeto de uma importância estratégica fundamental”, assinalou Paulo Estêvão, o secretário regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades que rubricou, em nome do Governo Regional dos Açores, o acordo de cooperação com a AEP.
O protocolo tem por objeto definir o quadro geral de cooperação entre o Governo açoriano e a AEP, no âmbito da implementação articulada da Estratégia Nacional para o Espaço e da Estratégia dos Açores para o Espaço, bem como estabelecer as linhas orientadoras de coordenação e execução conjunta de atividades nos cinco eixos prioritários definidos na Estratégia dos Açores para o Espaço.
As partes comprometem-se a cooperar em cinco eixos estratégicos da Estratégia dos Açores para o Espaço: o desenvolvimento do setor downstream - aplicações com base em dados espaciais; a instalação de locais de ensaio para tecnologias espaciais e integração de redes in situ; a promoção do acesso ao Espaço; fomentar a investigação, o desenvolvimento e a inovação sobre o Espaço e a divulgação, educação e cultura científica para o Espaço.
Ao mesmo
tempo, será criado um grupo de acompanhamento conjunto, composto por
representantes designados de ambas as partes, com funções de, entre
várias matérias, contribuir para a elaboração do plano de atividades da
AEP, por via das iniciativas conjuntas, a realizar no arquipélago, e
definir planos anuais de ação conjunta. O protocolo tem a duração de três anos, renovável por iguais períodos.
