Açoriano Oriental
OE/Crise
O dia em que o Orçamento ‘chumbou’, apesar dos apelos e referências musicais

Os apelos e referências musicais do Governo, de José Mário Branco a Jorge Palma, ou os cumprimentos à margem entre antigos parceiros de esquerda, não foram suficientes para ‘salvar’ o Orçamento do Estado para 2022, que acabou chumbado.

O dia em que o Orçamento ‘chumbou’, apesar dos apelos e referências musicais

Autor: Lusa/AO Online

O segundo e derradeiro dia de discussão do Orçamento do Estado para 2022, com um ‘chumbo’ já praticamente garantido, tinha hora marcada para as 10h00 (menos uma nos Açores) da manhã na Assembleia da República, mas o debate só começou pelas 10h20, quando o Governo chegou, cabendo ao ministro das Finanças, João Leão, o ‘pontapé’ de saída.

Com o debate em andamento, o movimento nos corredores era escasso, à parte da comunicação social presente, alguma concentrada junto ao grupo parlamentar do PSD, aguardando a chegada de Rui Rio, que aconteceu pelas 11h00.

Nos últimos dois dias, o líder social-democrata desdobrou-se em declarações sobre o Orçamento do Estado, mas também sobre a situação interna do partido, num total de quatro vezes, a pouco mais de um mês das eleições diretas marcadas para 04 de dezembro, que disputará com o eurodeputado Paulo Rangel.

Dentro do hemiciclo, ainda durante a manhã, o Governo insistia na defesa do documento, e a ministra da Saúde, Marta Temido, sem nunca se referir diretamente ao Bloco de Esquerda ou ao PCP, citava José Mário Branco: “Eu vim de longe, de muito longe, o que eu andei para aqui chegar. Eu vou para longe, para muito longe, onde sei que nos vamos encontrar”.

No dia anterior já o primeiro-ministro, António Costa, tinha aberto o debate com uma referência musical, desta feita do cantor Jorge Palma: "Ainda há estrada para andar e devemos continuar. Da parte do Governo, enquanto houver ventos e mar a gente não vai parar", frisou, dirigindo-se aos antigos parceiros de ‘geringonça’.

A tirada musical do primeiro-ministro inspirou, mais tarde, o deputado socialista Ascenso Simões que citou o hino comunista - “Avante camaradas, juntai a vossa à nossa voz” - para apelar à viabilização do OE pelo PCP. Para o líder da bancada parlamentar dos comunistas, João Oliveira, o discurso socialista soou a música para entreter, tendo respondido com uma mímica de violino.

Na dinâmica política à esquerda, outro dos momentos que marcou o debate deste Orçamento foi a chegada antecipada, no primeiro dia, do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, que cruzou os Passos Perdidos do parlamento e, sozinho e antes do restante executivo, entrou no plenário, dirigindo-se às bancadas da esquerda.

O ministro cumprimentou os líderes partidários e parlamentares do PCP, BE e PEV, antes de se sentar na bancada do Governo.

Já na reta final do debate António Costa voltou a citar a música "A gente vai continuar", de Jorge Palma, mas pelas 18:30, o 'veredito final' ditava o chumbo anunciado do documento, com votos contra de PSD, CDS-PP, IL, Chega, PCP, BE e PEV.

"O resultado foi a rejeição desta proposta do Governo", afirmou o presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, no final da votação.

As habituais reações nos Passos Perdidos seguiram-se ao chumbo, com o executivo a juntar-se em torno de António Costa, na saída do plenário, enquanto o primeiro-ministro reiterava aos jornalistas que estava de “consciência tranquila” e que não irá virar as costas à adversidade.

Ao mesmo tempo, pelos corredores do parlamento as reações multiplicaram-se, com Ana Catarina Mendes, líder parlamentar do PS, a considerar que este foi “um dia muito triste para todos os portugueses”. Já o PEV e o PAN consideraram que há alternativas às eleições legislativas antecipadas, como a governação em duodécimos ou a apresentação de uma nova proposta do OE

Em contraste, os ex-parceiros do governo, Bloco de Esquerda e PCP, saíram do plenário em silêncio.

À direita, houve o consenso de que a rejeição deste orçamento refletiu o fracasso da solução governativa que ficou conhecida como ‘geringonça’, chegando-se a ouvir um deputado no corredor do PSD a dizer, em tom de brincadeira, "a luta continua, Governo para a rua".


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