Autor: Lusa/AO Online
Como é tradicional, a presidente do Parlamento Europeu dirigiu-se aos líderes dos 27 antes de estes iniciarem mais um Conselho Europeu, em Bruxelas, tendo iniciado a sua intervenção abordando precisamente a “semana difícil” vivida, à luz da investigação policial que levou à detenção de membros da assembleia, entre as quais uma vice-presidente, a deputada grega Eva Kaili, por alegado envolvimento num caso de corrupção relacionado com subornos do Qatar para influenciar as decisões políticas do parlamento.
“Posso dizer-lhes que as informações que recebemos das autoridades belgas indicam que existem sérias suspeitas de pessoas ligadas a governos autocráticos que praticam um tráfico de influência de uma forma que suspeitamos ter a intenção de subjugar os nossos processos”, apontou a dirigente maltesa.
Metsola apontou que os serviços do Parlamento Europeu trabalharam em sincronia com as autoridades belgas e regozijou-se por, no seu entender, ter sido impedida a intenção de “subverter os processos” democráticos da assembleia, assinalando que “os suspeitos foram detidos, interrogados e acusados, como não poderia deixar de ser”.
“Mas devo também dizer que, embora possamos sempre procurar reforçar a dissuasão e a transparência, e eu vou liderar um forte processo de reforma, haverá sempre alguns para quem um saco de dinheiro vale sempre o risco. É essencial que estas pessoas compreendam que vão ser apanhadas. Que haverá consequências. Que os nossos serviços funcionarão e que enfrentarão toda a extensão da lei”, concluiu Roberta Metsola.
À chegada à sede do Conselho, a dirigente maltesa já adiantara que a sua principal mensagem aos líderes dos 27 seria a de garantir que "não vai haver impunidade" e a justiça será aplicada, até para que todos os atores estrangeiros com objetivos maliciosos saibam que "o Parlamento Europeu não está à venda".
Na passada segunda-feira, ao abrir a sessão plenária do Parlamento que ainda decorre em Estrasburgo, França, Metsola já havia assumido a sua “fúria, raiva e tristeza” com o caso de corrupção que envolve membros da assembleia e anunciou uma reforma interna a nível de transparência, com uma séria de medidas tais como uma investigação interna e uma reforma do acesso dos grupos de pressão (lóbis) às instalações parlamentares, assim como a proteção de denunciantes de atos criminosos.
No mesmo dia, o Parlamento Europeu destituiu do cargo a vice-presidente Eva Kaili, detida pela polícia belga por alegado envolvimento num escândalo de corrupção.
A decisão que a eurodeputada socialista grega não pode exercer o cargo foi aprovada por 625 votos a favor, um contra e duas abstenções, representando uma dupla maioria de dois terços dos votos expressos e uma maioria dos deputados que compõem o hemiciclo.
A votação foi realizada ao abrigo do artigo 21.º das regras de procedimento do PE, na sequência de investigações que as autoridades belgas estão a realizar no âmbito de suspeitas de corrupção que envolvem a eurodeputada helénica, entre outros suspeitos.
Eva Kaili, que já tinha sido suspensa e posteriormente expulsa do grupo parlamentar dos Socialistas e Democratas (S&D), encontra-se detida na Bélgica por alegado envolvimento num caso de corrupção relacionado com subornos do Qatar para influenciar as decisões do Parlamento Europeu relativas à realização da edição de 2022 do Mundial de futebol naquele país.
O seu companheiro, Francesco Giorgi, também permanece detido, depois de ter comparecido perante um tribunal de Bruxelas, juntamente com o ex-deputado socialista italiano Antonio Panzeri.