Açoriano Oriental
Mundial2022
'Magriços’ recuperaram o respeito para um Portugal “ostracizado”

Portugal estava “ostracizado pelo mundo inteiro” na década de 60, devido à guerra em África, mas o “brilharete” da seleção de futebol no Mundial1966 ajudou o país a recuperar o respeito e admiração, segundo o ‘magriço’ António Simões.

'Magriços’ recuperaram o respeito para um Portugal “ostracizado”

Autor: Marco Oliva/Lusa/AO Online

“Conseguimos um brilharete, numa altura em que o país estava ostracizado, marginalizado no mundo inteiro, por causa da guerra de África. Não era um país que criasse simpatia nessa altura. E nós fomos pôr Portugal no mapa com alguma simpatia, com muita admiração. É impagável. Tenho o privilégio de ter feito parte dessa geração”, afirmou o antigo internacional português, em entrevista à agência Lusa.

António Simões foi um dos 22 jogadores liderados pelo selecionador Otto Glória na primeira participação da equipa das ‘quinas’ numa grande competição internacional. Uma equipa eternizada sob o nome ‘magriços’ e que levou Portugal a um - até hoje – irrepetível terceiro lugar num Mundial.

“Infelizmente, ninguém conseguiu fazer igual até hoje. Corresponde a uma geração que, sem ser organizada, é uma geração espontânea, que contou com a preciosa ajuda das ex-colónias, com os Eusébios, os Colunas, os Vicentes, os Hilários”, recordou o antigo extremo, de 78 anos, salientando que “o Campeonato do Mundo de 1966 é a confirmação universal desta geração extraordinária”.

As memórias de Inglaterra começam com a vitória (3-1) diante da Hungria “com alguma sorte, com golos de cabeça de José Augusto e José Torres após cantos”, percorrem o “3-0 à Bulgária” e detêm-se na histórica partida com o Brasil, então bicampeão em título e que contava com o inigualável Pelé.

“Era um Brasil em grande dificuldade. O Pelé magoou-se logo no primeiro jogo [com a Bulgária], apesar de os brasileiros dizerem que nós é que o magoámos. Isso foi tudo conversa, desculpas. Eu faço um golo de cabeça, ganhámos esse jogo, somos apurados e vamos por aí fora. Discutimos as meias-finais com a Inglaterra, que estava a jogar em casa, perdemos, mas conseguimos uma medalhazinha, com um terceiro lugar, diante da então União Soviética, com Yashin na baliza”, lembrou Simões.

Aquele que era um dos mais novos daquela seleção, então com 22 anos, recorda-se “perfeitamente” do único golo que apontou nesse Mundial, iniciando precisamente o triunfo por 3-1 sobre o Brasil, desde logo por ter assinado um tento incomum face à baixa estatura que tinha.

“Levanta-se a questão de eu ter feito um golo de cabeça a um guarda-redes de 1.90 metros, que era o Manga. Eu inicio a jogada do lado esquerdo e venho para dentro. O Eusébio faz uma diagonal entre o lateral e o central, eu meto-lhe a bola, ele faz um centro/remate que o Manga não consegue encaixar. A bola bate-lhe no peito e vem direita a mim. Eu faço-lhe um chapéu e corro para abraçar alguém. Eu tinha de partilhar aquele deslumbramento. Uma das melhores coisas da vida é partilhar e eu corri, tinha de abraçar alguém, como que dizendo ‘vejam, eu fiz este golo de cabeça’”, contou o ‘magriço’.

Passada a fase de grupos, Portugal ultrapassou a Coreia do Norte no quartos de final, depois de uma épica reviravolta (5-3), antes de se deparar com os anfitriões nas meias-finais. A Inglaterra, de Gordon Banks, Bobby Moore, Nobby Stiles ou Bobby Charlton, autor dos dois golos que ditaram a eliminação lusa (2-1).

No entanto, os desempenhos inesperados de Portugal até esse jogo levaram os ingleses a ‘mexer cordelinhos’ para alterar o local do encontro para Wembley, o que acabou por contribuir para as dificuldades sentidas pela equipa das ‘quinas’, que também teve culpa própria, segundo Simões.

“O regulamento era muito claro. Quem ficasse em primeiro lugar no grupo não sairia da zona para ir jogar numa cidade diferente. Jogaríamos em Liverpool ou Manchester. Houve um descuido nosso. Fomos de comboio [para Londres], mas o comboio chegou muito tempo antes. Lembro-me de estar sentado nas escadas das bancadas [de Wembley], à espera da hora do jogo. Em vez de chegarmos uma hora antes do jogo, chegámos 2:30 horas antes. Houve um desgaste desnecessário, que não aconteceria se não nos tivéssemos deslocado. Mas não se pode tirar mérito à seleção inglesa, que era uma excelente equipa e jogou bem contra nós”, referiu.

Na sequência da eliminação frente à Inglaterra - que viria a conquistar o troféu, ao vencer a RFA na final (4-2, após prolongamento) -, a seleção portuguesa disputou o jogo de atribuição do terceiro e quarto lugares com a União Soviética, vencendo por 2-1 e assegurando o terceiro posto do pódio, naquele que foi o melhor desempenho de uma formação lusa num Mundial.


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