Autor: Nuno Martins Neves
A pobreza nos Açores deve ser combatida através da coordenação de esforços dos setores da Educação, Saúde, Emprego e Segurança Social. Este foi um dos caminhos traçados no debate promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em conjunto com a Universidade dos Açores e a RTP Açores, sobre a pobreza, o desenvolvimento humano e o futuro dos Açores, a pretexto do lançamento do livro “Jénifer, ou a princesa da França – as ilhas (realmente) desconhecidas”, de Joel Neto, e que teve lugar ontem, na Aula Magna, em Ponta Delgada.
A pobreza é o tema central do livro, que integra a coleção de Retratos da Fundação, e foi também do debate do programa que hoje irá passar na RTP Açores.
Mais do que evidenciar as causas para os Açores estarem na cauda de Portugal e da Europa em vários indicadores, o debate abriu alguns caminhos para a Região deixar de ter, em 2022, quase um terço (29,6%) da sua população em risco de pobreza. E entre os vários caminhos, a Educação foi o mais focado.
“Os nossos baixos níveis de instrução não nos tem permitido quebrar este ciclo”, assinalou Anabela Borba, presidente da Cáritas Açores, lembrando que os Açores têm a mais alta taxa de abandono escolar precoce do país (27%, quase quatro vezes mais do que a média nacional) e a mais baixa taxa de população com ensino superior (16%, contra 24% na globalidade do país).
O professor universitário e investigador Fernando Diogo diz que “há 20 anos” que identificou a Educação como um aspeto primordial e criticou o que apelidou de “mentalidade rotundista”. “Significa equivaler crescimento às obras. Essa ideia está disseminada nos políticos, nas elites e na população geral. As obras públicas tem um impacto quase nulo no desenvolvimento dos Açores”.
Os rendimentos baixos também foram realçados pelo investigador e acompanhados por Gualter Furtado: o responsável pelo Conselho Económico e Social dos Açores apelou a uma maior “participação, cidadania e organização” da população, pois sem isso “estaremos a falar do mesmo problema daqui a 20 anos”.
A ex-secretária regional da Segurança Social do governo de Vasco Cordeiro, Andreia Cardoso defendeu que o combate à pobreza terá de ter duas dimensões: uma, de emergência, “pois a situação de hoje é diferente de há um ou dois anos”; e outra, estrutural “que coloquem a saúde, educação, emprego e segurança social coordenadas”.
Aliás, Fernando Diogo defendeu que “acantonar a luta contra a pobreza à segurança social é perder o combate à partida”.
Já o escritor Joel Neto assinalou que é necessário “reconhecer sem vergonha” o problema da pobreza, ao mesmo tempo que “não se culpa a vítima”, pois “é muito fácil diabolizar os beneficiários do RSI”.
Por último, o vice-presidente do Governo Regional dos Açores, com a tutela da Segurança Social Artur Lima enalteceu algumas medidas que o atual governo já avançou, como o incremento do Compamid e o pagamento das creches a todos os açorianos, por exemplo. E apontou a nova Estratégia Regional contra a Pobreza, que está a ser desenvolvida pela Universidade de Coimbra, como um passo importante: traçará o caminho na próxima década, pois “pois basta de navegarmos à deriva”.