Autor: Lusa/AO Online
“Foi muito controverso, porque na altura impunham-se vários processos de iluminação. A eletricidade ainda não era consensual em termos de opinião pública de forma alguma. Havia os perigos inerentes, uma certa tendência também de resguardo social e tradicional em relação a esse processo, que era completamente inovador”, disse Madalena San-Bento à agência Lusa.
A historiadora apresenta na sexta-feira, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, o “Diário do Grão-Mestre da Luz – A luta pela iluminação elétrica dos Açores”, edição com cerca de 200 páginas da Fundação Engenheiro José Cordeiro, ligada à Empresa de Eletricidade dos Açores.
Madalena San-Bento adiantou que a primeira iluminação nos Açores foi a azeite de peixe, a que se seguiu o petróleo, mas "concomitante com o azeite de peixe em certas regiões", apesar de a "luta" ter sido, "essencialmente, entre a iluminação a gás e a eletricidade".
"O livro pretende mostrar que foi uma luta de mentalidades contra os medos, contra o progresso científico e que, se calhar, alguns consideravam ainda muito prematuro estender aos Açores", disse a autora, salientando que "existiam sempre vozes a favor e vozes contra", daí que a obra reflita, também, "uma outra luta que ocorreu, naquele período - a luta pela autonomia dos Açores".
Neste processo de implementação da iluminação elétrica, o livro destaca o nome de José Cordeiro, definido como "um impulsionador", e que, antes de morrer "prematuramente em 1908", conseguiu colocar alguns postes de eletricidade.
"O livro tenta fazer um ‘périplo’ ao longo do século XIX e de todos os processos de iluminação que se foram impondo, os azeites, depois o gás, o petróleo e, por último, o processo de eletricidade, que foi liderado pelo engenheiro José Cordeiro, um visionário, que morreu subitamente com 40 e tal anos", sublinhou Madalena San Bento.
Segundo a historiadora, apesar de Ponta Delgada ser na altura "o centro mais importante dos Açores, não foi o primeiro foco onde o engenheiro José Cordeiro conseguiu pôr iluminação elétrica", mas foi sim em Vila Franca do Campo e Ribeira Grande, num processo que se foi expandindo para outras zonas.
"Ponta Delgada só conseguiu muito mais tarde por vários motivos, essencialmente porque estava amarrada a um contrato de fornecimento de iluminação a gás que só acabaria muito mais tarde (…) e, mesmo assim, quando fez a primeira experiência no início foi só para particulares e depois é que estendeu à iluminação pública", explicou.
De acordo com a historiadora, a iluminação elétrica dos Açores "só chega mesmo quase nos finais do século XIX".