Autor: Lusa/AO online
“É preciso uma utilização que permita a conservação e passar o solo de forma intergeracional sem o esgotar nos seus nutrientes”, avançou, em declarações aos jornalistas, o secretário regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural dos Açores, António Ventura, num conferência de imprensa na Serra do Cume, na ilha Terceira.
O protocolo que será assinado com a Universidade dos Açores, orçado em cerca de 50 mil euros, junta as tutelas da Agricultura e do Ambiente.
António Ventura defendeu que o solo “tem de ver vigiado, acompanhado e aconselhado no processo produtivo”, para assegurar que é transmitido às gerações futuras “com capacidade produtiva”.
“Numa altura em que os fertilizantes estão a subir de preço constantemente, tem de haver uma maior racionalidade na utilização dos adubos, tem de haver mais critérios e temos de, obviamente, utilizar os adubos de maneira a que os solos se mantenham conservados”, afirmou.
Por outro lado, considerou que este instrumento pode permitir “ganhos de eficiência e de rendimento” para os produtores agrícolas, admitindo que possa ser necessária uma revisão das reservas agrícolas e dos perímetros de ordenamento agrário.
“Nós pretendemos identificar a aptidão produtiva destes perímetros, ou seja, que culturas podem lá estar, que utilização estas culturas têm relativamente aos nutrientes do solo, para ter efetivamente uma ação educativa na utilização destes solos”, frisou.
Já o secretário regional do Ambiente e Alterações Climáticas, Alonso Miguel, realçou a importância desta cartografia na definição das “tipologias de sumidouros de carbono que devem ser implementadas em cada local”.
“Dito de outra forma, se numa determinada área devemos apostar, por exemplo, em floresta produtiva, em floresta nativa não produtiva, em recuperação de turfeiras, em pastagem permanente ou em qualquer outra tipologia”, explicou.
O titular da pasta do Ambiente defendeu também que a informação disponibilizada nesta cartografia deve ser tida em conta na revisão dos Planos Diretores Municipais (PDM) dos municípios da região, “de forma a garantir que é salvaguardada e respeitada a aptidão do uso dos solos dos Açores”.
Segundo o professor aposentado da Universidade dos Açores Jorge Pinheiro, especialista em solos, este trabalho vem dar continuidade a um processo já iniciado “há muitos anos” de caracterização do solo dos Açores e será “uma base fundamental para o ordenamento do território” da região.
“Se há coisa que temos em pequena quantidade nos Açores é o solo. Temos muito mar, mas pouca terra e, como tal, tem de ser devidamente conhecido, para depois ser devidamente utilizado e preservado”, sublinhou.
O investigador, que vai trabalhar neste projeto, defendeu que é preciso “compatibilizar” o desenvolvimento económico com a sustentabilidade ambiental.
“Infelizmente, ao longo do tempo vão-se cometendo erros. A gente vai verificando que há delapidação de belíssimos solos que deveriam ser preservados para a agricultura, mas também o desenvolvimento nem sempre permite que tudo seja feito na perfeição”, admitiu.
O docente da academia açoriana João Madruga, que também participa no projeto, admitiu que o sistema de agropecuária dos Açores já provocou alguns casos de “contaminação de aquíferos com nitratos”, mas, de um modo geral, disse que não há uma “degradação profunda dos solos” na região.
“Tendo em conta o nosso tipo de cultivo, a nossa ocupação do solo, não temos grandes níveis de erosão. Ela acontece efetivamente nos meses de outubro e novembro, pontualmente, mas não podemos falar em termos de contaminação”, apontou.
O especialista em solos realçou a importância da adaptação da cartografia existente “tendo em conta as novas ferramentas digitais” existentes, sobretudo numa altura em que “quase todos os municípios estão a fazer a revisão dos PDM”.
“É importante que se faça uma adaptação da reserva agrícola, porque a reserva agrícola regional, que teve por base as cartas de capacidade de uso por nós elaboradas, era feita com recurso a fotografia aérea. Na delimitação de zonas há aspetos que têm de ser aprofundados, não a legislação em si, mas a delimitação de zonas”, reforçou.