Autor: AO/Lusa
“Comecei logo de criança (…). A minha mãe sempre fez igual”, contou à agência Lusa a moradora, de 64 anos, depois de ajeitar a pequena mesa onde, além de água, não faltam limonada, ovos cozidos ou filhós.
Maria, que vê nesta ação um “passatempo” que os “peregrinos gostam” e pela qual alguns deixam dinheiro, vai chamando quem passa na estrada defronte à sua casa.
“Uma filhós para subir a ladeira e um ovo cozido, não paga nada por isso”. É este o convite que repete, desejando a todos, quem para e quem não para, “boa viagem”, e recebendo, sempre, um “muito obrigado”.
Dos dois dedos de conversa que trava com os caminhantes, a moradora aponta as “dificuldades” da viagem e da vida.
“O que se queixam da viagem é as coisas estarem muito caras”, disse Maria Augusta, frisando: “Vêm muito cansados, são muitos quilómetros a andar”.
A mulher recordou o dia em que um pequeno grupo, que “já não podia mais” caminhar, lhe pediu para dormir no pátio da casa. Ela ofereceu-lhes a sala, um caldo verde e coelho guisado.
No ano seguinte, bateram-lhe à porta com “feijão-verde e dois sacos de batatas”, disse, adiantando que a sua casa já foi abrigo noutras ocasiões.
Carina Monteiro, de 36 anos, de Campo, Valongo, distrito do Porto, referiu que pelo caminho, de 220 quilómetros, o grupo de 87 pessoas teve “ajuda” como a que encontrou em Santa Catarina da Serra.
“Há pessoas assim pelo caminho, que ajudam umas com água, outras com sumo, outras com rebuçados”, explicou, confessando um “bocadinho de dor” nesta sua segunda peregrinação ao santuário onde quer pedir, também, pelo país: “Que isto melhorasse para toda a gente, que é o essencial, estamos a passar uma grande dificuldade em tudo”.
Do mesmo grupo, Margarida Oliveira, de 81 anos, enquanto saboreia uma filhós, afirmou: “Gosto de vir, a gente deve fazer o que gosta”.
“Não [é fácil], mas também não é difícil, haja vontade”, declarou a octogenária.
No mesmo local, Manuela Cerqueira, de 46 anos, emigrante na Alemanha, acrescentou: “Vim um ano de promessa e gostei tanto que volto”.
Após quase 285 quilómetros cumpridos desde Figueira de Castelo Rodrigo, a emigrante, que marca férias para poder fazer esta peregrinação, fica sem palavras quando se lhe pergunta porquê: “É uma experiência que não se pode reviver a contar, tem que se viver”.
Na segunda-feira, dia em que os caminhantes que ali passam serão em menor número, Maria Augusta retira a mesa para preparar a sua peregrinação: “No dia 13, também tenho a minha promessa a Fátima, 13 de maio, de agosto e outubro, sempre”.
A abertura oficial da peregrinação de 12 e 13 de maio, 97 anos após os acontecimentos de Fátima, está marcada para as 18:30 de segunda-feira, na Capelinha das Aparições, encerrando com a missa, seguida da procissão do adeus, na manhã de terça-feira, no recinto do santuário.
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