“A perceção que tenho é que a peregrinação continua a ser um fenómeno vivo e, como fenómeno vivo que é, está em permanente mutação. Uma das mutações a que se assiste hoje é precisamente essa, de aumento do número daqueles peregrinos que fazem a sua caminhada por etapas”, afirmou o padre Carlos Cabecinhas, a propósito de mais uma peregrinação internacional ao santuário, na segunda e na terça-feira.

O sacerdote explicou que há casos de peregrinos cuja “saúde não permite fazer de uma só vez” a caminhada para Fátima, sendo que outros “não têm outra possibilidade em termos de disponibilidade”, nomeadamente “o não poder faltar ao trabalho para fazer uma peregrinação de uma semana”.

“Penso que é um sinal dos tempos de que a peregrinação continua a ser uma realidade viva e, por outro lado, de que a fé encontra sempre novos caminhos criativos para se realizar”, acrescentou Carlos Cabecinhas.

Foi por não poder faltar ao trabalho que Alexandra Alves, de 38 anos, se fez peregrina a pé num domingo de abril, em São Pedro do Sul, distrito de Viseu. A primeira etapa terminou em Águeda, Aveiro, onde começou a segunda, dias depois, no feriado do dia 25 de Abril.

“Não posso faltar ao trabalho”, justificou a peregrina, referindo que lhe “dá mais jeito” aproveitar os fins de semana ou feriados para a peregrinação que faz por “fé, devoção e promessa”.

Ana Abreu, de 52 anos, fez a caminhada, de Coimbra a Fátima, em quatro etapas, retomando a caminhada no preciso local onde terminou na etapa anterior.

“Fiz sozinha, sem apoio e, todos os dias, voltei a casa. Fica-me mais barato”, afirmou a peregrina, no Santuário de Fátima, após completar o último percurso, entre Caranguejeira, concelho de Leiria, e a cidade-santuário.

Neste dia, saiu de Coimbra em comboio e parou em Pombal. Aqui seguiu de autocarro até Leiria e, depois, noutro autocarro até à Caranguejeira e reiniciou a peregrinação.

“Estou desempregada, mas não podia deixar de vir”, contou Ana Abreu, que já experimentou a jornada contínua, mas a memória não apaga as dificuldades: “É muito difícil. Ficamos de rastos e não há necessidade, podendo fazer-se por etapas”, declarou.

Já Ricardo Pinheiro, de 31 anos, fisioterapeuta a trabalhar em Londres há sete anos – “porque se antecipou à ‘troika’” -, optou por esta forma de peregrinar por “comodidade”.

“Na primeira e segunda noite regressámos a casa e, no dia seguinte, retomámos no local onde interrompemos. Descansamos melhor”, disse o jovem que, acompanhado pelo irmão, realizava pela segunda vez o que designou de “jornada espiritual”.

O Serviço de Peregrinos do Santuário de Fátima, que previa que até terça-feira 30 mil pessoas se deslocassem a pé ao maior templo mariano do país, elevou esse número para 35 mil. Não há contudo dados de quantos fazem a caminhada por etapas.

A abertura oficial da peregrinação de 12 e 13 de maio, 97 anos após os acontecimentos de Fátima, está marcada para as 18:30 de segunda-feira, na Capelinha das Aparições, encerrando com a missa, seguida da procissão do adeus, na manhã de terça-feira, no recinto do santuário.