Açoriano Oriental
Consulados na diáspora falham “até nos pedidos mais simples”

Muitas vezes, a ourivesaria de Francisco Viveiros transforma-se num escritório do Consulado Português com a quantidade de pedidos de ajuda que lhe chegam às mãos

Consulados na diáspora falham “até nos pedidos mais simples”

Autor: Joana Medeiros

Francisco Viveiros é natural de Ponta Delgada e é, desde 2018, o presidente da Casa dos Açores da Nova Inglaterra, em Fall River, onde se fixou em 2006 graças a uma oportunidade de negócio.

Para além de ourives, profissão que abraçou em 1982, sendo hoje proprietário de uma ourivesaria, a sua vontade de querer contribuir na comunidade faz com que seja também membro do Conselho Consultivo do Consulado de Portugal em New Bedford, o que faz com que o seu espaço de trabalho seja, muitas vezes, procurado pelos emigrantes açorianos que necessitam de vários tipos de ajuda relacionados com a emigração.

“Muitas vezes, as pessoas entram na minha ourivesaria e perguntam: É o senhor Cônsul?”, conta Francisco Viveiros, entre risos, explicando que esta situação acontece porque, de uma forma geral, “todos os consulados no mundo da diáspora portuguesa funcionam muito mal”, falhando na resposta a “pedidos de ajuda tão simples como o próprio acesso aos consulados”.

Estando perante uma comunidade envelhecida, Francisco Viveiros utilizada o “contacto privilegiado” com o Consulado para marcar as reuniões mais urgentes, que, mesmo assim, “são conseguidas no espaço de 15 dias, três semanas ou um mês”.

Dá o exemplo dos idosos que se aposentaram nos Estados Unidos e que, por um erro de morada, deixaram de receber os cheques de reforma durante alguns meses, o que leva a que o balcão da sua ourivesaria se transforme, muitas vezes, num balcão de atendimento do Consulado Português de New Bedford, onde são preenchidos formulários e enviados e-mails para a Segurança Social local para que os cheques sejam reenviados.

Esta necessidade de se envolver com a comunidade desde que chegou aos Estados Unidos da América, em 2006, aconteceu de uma forma muito natural, conforme relembra, confessando que é algo que “acontece sem que se dê por isso”, sobretudo no que diz respeito aos migrantes mais recentes.

“Sem darmos por isso, ficamos envolvidos com a comunidade a partir do momento em que temos ideias novas. Somos migrantes recentes, trazemos ideias novas, viajamos muito para Portugal e para os Açores e vemos um tipo de cultura contemporânea que aqui não é conhecido”, diz Francisco Viveiros.

Por outro lado, mesmo estando nos Estados Unidos, o presidente da Casa dos Açores da Nova Inglaterra refere que se mantém também o vínculo com o arquipélago de onde nasceu, com o qual sente uma responsabilidade a nível social, dando como exemplo o facto de, todos os anos, serem enviados para várias instituições nos Açores entre 40 a 50 barris por ano com roupa ou bens alimentares não perecíveis no seu interior.

No que diz respeito à comunidade açoriana em Fall River, há também uma responsabilidade social acrescida, complementada igualmente com a distribuição de vários bens, considerando que “viver nos Estados Unidos nem sempre é o sonho que era antigamente”, gerando agora uma comunidade envelhecida que, por vezes, conta também com dificuldades financeiras.

Por outro lado, o associativismo nos Estados Unidos da América atravessa dificuldades, sendo a Casa dos Açores da Nova Inglaterra um bom exemplo disso mesmo, tendo em conta o desafio que tem sido apresentar uma nova lista que permita a entrada de um novo presidente.

O principal desafio das associações com raízes nos Açores passa, sobretudo, pelo facto de se estar perante “uma sociedade de emigrantes envelhecidos”, considerando que “os mais novos se afastam, quer por força do trabalho, quer por economicamente terem outro tipo de condições, e acabam por se desligar das próprias associações”.

Na opinião de Francisco Viveiros, o associativismo nos Estados Unidos prepara-se para “atravessar um período de limbo, tal como se passou no resto do mundo”, embora em países como o Brasil, as fortes ligações com Portugal, e com os Açores em particular, tenham reemergido com “uma pujança enorme”, tendo em conta que ali “se vive muito a açorianidade”.

Resta esperar que também na Nova Inglaterra, “daqui a muitos anos, as gerações mais novas façam a redescoberta dos Açores” e que, com isso, se revitalizem as associações.

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