Autor: Lusa/AO online
Pelas 8:00 (mais cinco horas em Lisboa), 19 ‘jihadistas’ da Al-Qaida, na sua maioria sauditas, já tinham passado o controlo de segurança nos aeroportos de Boston, Washington-Dulles e Newark.
Embarcaram em quatro voos para a Califórnia armados com facas para sequestrar os aviões e atacar o “coração” da principal potência mundial.
Joseph Dittmar, 44 anos, um especialista em seguros, está numa reunião no 105.º andar da Torre Sul do World Trade Center (WTC). Às 08:46, as luzes da sala começam a piscar.
Na sala sem janelas, as 54 pessoas presentes "não viram nada, não sentiram nada, apenas as luzes a cintilar", disse Dittmar, uma das testemunhas entrevistadas pela agência France-Presse (AFP) 20 anos mais tarde.
Só do 90.º andar, para onde desceram quando receberam uma ordem de evacuação do edifício, é que veem o buraco que o primeiro avião provocou entre os pisos 93 e 99 da Torre Norte.
"Foram os piores 30-40 segundos da minha vida, (...) ver estes enormes buracos negros no edifício, chamas vermelhas como nunca tinha visto na minha vida e nuvens de fumo cinzento e negro a sair dos buracos”, contou à AFP.
"Ver mobília, papéis, pessoas levadas pelo vento... Coisas terríveis, terríveis. Estava tão assustado", disse, engolindo as lágrimas.
Lá em baixo, o ‘chef’ Michael Lomonaco sai do centro comercial subterrâneo do WTC - onde tinha ido antes de subir para o seu restaurante “Windows on the World” no 107.º piso da Torre Norte – e olha horrorizado para o topo da torre em chamas.
"Pude ver pessoas a abanar toalhas de mesa brancas das janelas" do restaurante, disse. Dos 72 empregados que estavam no restaurante, nenhum sobreviveu.
Dittmar retoma a descida pelas escadas - uma decisão que lhe vai salvar a vida – convencido de que se trata de um acidente, como milhares de pessoas em Nova Iorque. O próprio Presidente dos EUA, George W. Bush, é informado disso ao visitar uma escola primária na Florida.
“Algures entre o 74.º e o 75.º andar", a escada "começa a balançar violentamente. Os corrimãos soltam-se da parede, os degraus ondulam sob os nossos pés como ondas no oceano, sentimos um muro de calor, cheira-nos a querosene", contou.
Dittmar e os colegas ainda não sabiam nessa altura que outro avião tinha acabado de atingir a Torre Sul, mesmo por cima deles, entre os 77.º e 85.º pisos. Eram 09:03.
George W. Bush, que estava a ler uma história para crianças na Florida, é avisado pelo seu chefe de gabinete. "A América está a ser atacada", sussurra-lhe ao ouvido.
Quando Dittmar e os colegas chegam ao rés-do-chão, após cerca de 50 minutos, o piso está repleto de aço torcido, cimento e manchas de sangue.
"Sabíamos o que era", disse Dittmar, com pudor. As imagens de pessoas encurraladas pelas chamas a mergulhar no vazio estão entre as mais chocantes do dia.
Já na rua, caminham durante alguns minutos antes de ouvirem o ensurdecedor desmoronamento da Torre Sul, que tinham acabado de deixar para trás. E, quase imediatamente, o "grito" de milhares de nova-iorquinos.
Al Kim, 37 anos, um paramédico de Brooklyn, tinha acabado de chegar ao WTC para ajudar a levar feridos para o Hotel Marriott, localizado entre as torres. Escapou ‘in extremis’.
"Não conseguia respirar, havia tanto fumo no ar. Lembro-me de usar a minha camisa para cobrir a boca. Nem conseguia ver as minhas mãos diante dos meus olhos", disse à AFP quando visitou o Memorial do 11 de Setembro pela primeira vez, este verão, a alguns passos do local onde quase morreu.
A explosão de calor do colapso da torre queima-lhe as narinas e as sobrancelhas. Uma espessa camada de cinzas cobre-lhe todo o corpo.
A escuridão é completa, mas Kim ouve as vozes de dois colegas, que consegue localizar.
Avançam de mãos dadas, "como crianças de escola", através dos escombros, das chamas, dos pedidos de ajuda e dos alarmes individuais dos bombeiros presos nos escombros, concebidos para explodir automaticamente quando não se movem durante muito tempo.
No Pentágono, a sede do Departamento de Defesa, nos arredores de Washington, Karen Baker, 33 anos, está convencida de que está "no lugar mais seguro do mundo". Mas essa certeza é abalada às 09:37.
"Houve um grande estrondo e depois sentimos um abanão", recordou à AFP esta especialista em comunicação de crises. "Na altura, pensávamos que era uma bomba".
Era o terceiro avião sequestrado que tinha acabado de se despenhar no lado ocidental do Pentágono.
Às 10:03, o quarto avião cai numa zona rural na Pensilvânia, a cerca de 20 minutos de voo de Washington, depois de alguns passageiros terem enfrentado os sequestradores. Tomaram essa decisão quando souberam o que estava a acontecer em Nova Iorque em telefonemas para familiares.
Em Wall Street, às 10:28, depois de arder durante 102 minutos, a Torre Norte do WTC acaba por ruir.
A bordo do Air Force One, George W. Bush, é levado para uma base aérea na Luisiana em vez de Washington, porque a capital federal não é considerada segura.
Socorristas e jornalistas começam a referir-se às ruínas fumegantes das Torres Gémeas como "Ground Zero". Ainda sem números de vítimas, é já evidente que este é o maior ataque terrorista coordenado da história.
Ao fim da tarde, quando o metropolitano retoma o serviço, Joseph Dittmar nota que o “silêncio é total” no comboio em que segue para casa dos pais. Todos estão em estado de choque.
Às 20:30, Bush anuncia um número ainda incerto de "vários milhares" de mortos – serão contabilizados 2.753 no WTC, 184 no Pentágono e 40 em Shanksville (Pensilvânia), além dos 19 sequestradores.
Bush adverte que, na caça aos culpados, os EUA não farão "nenhuma distinção" entre "os terroristas e aqueles que os abrigaram".
"Nenhum de nós esquecerá este dia, mas iremos em frente e defenderemos a liberdade e tudo o que é bom e correto no nosso mundo", conclui.
De volta a casa, Karen Baker apercebe-se da dimensão do que aconteceu ao abraçar o marido e os dois filhos pequenos. Todos “estavam a soluçar”.
Al Kim não estará em casa em Brooklyn antes da meia-noite. Toma um banho, deita-se durante algumas horas e sai cedo.
"Havia muito que fazer, funerais para assistir (...). não havia tempo para parar e pensar”, disse à AFP.