Autor: Lusa/AO Online
“Está aqui já uma equipa de 12 pessoas, que tem mais de 20 projetos internacionais e que para os próximos três anos já têm um volume de financiamento superior a 1,6 milhões de euros”, disse o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, numa conferência de imprensa em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira.
Entre os projetos apresentados está o desenvolvimento da Constelação de Satélites do Atlântico, em colaboração com a Agência Espacial Portuguesa, a Agência Espacial Europeia e sete países membros do Air Centre, que deverá ser financiada no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência.
“O projeto-bandeira mais importante que estamos a desenvolver é a Constelação do Atlântico. São 16 satélites para fornecer dados com uma frequência a cada duas, três horas. Nós já temos satélites muito sofisticados europeus e americanos, mas fornecem dados a cada dois a três dias. Muitos fenómenos oceanográficos precisam de dados a cada duas, três horas. Queremos fazê-lo com satélites mais pequenos, que podem fornecer esta frequência de dados, que é muito importante”, adiantou o diretor executivo do Air Centre, Miguel Bello.
Está ainda prevista a instalação de uma nova estação recetora de dados de satélite que receberá diretamente em tempo real os dados enviados pelos principais satélites que cobrem o Atlântico Norte, incluindo os satélites das agências norte-americanas NASA e NOOA, que resulta de um protocolo entre o Air Centre e o Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira, Terinov, onde o centro está sedeado.
“Este sistema vai gerar um volume muito grande de dados, 300 gigabytes de dados todos os dias, e precisamos de transferir estes dados para os nossos parceiros”, afirmou Miguel Bello, acrescentando que foi estabelecido um protocolo entre o Air Centre e a Fundação para a Ciência e Tecnologia, com vista à extensão da rede pública de comunicações científicas, que permitirá uma ligação mais rápida de dados.
Criado em 2018, o Air Centre envolve parceiros de Portugal, Espanha, Reino Unido, Noruega, África do Sul, Nigéria, Angola, Namíbia, Cabo Verde, São Tomé, Brasil, Colômbia, México e Estados Unidos e promove projetos de investigação nas áreas do espaço, atmosfera, oceano, clima, energia e ciências dos dados.
Para Manuel Heitor, ficou comprovado que “é possível fazer nos Açores um centro de investigação internacional e uma rede de nível internacional para a cooperação norte-sul, sul-norte, este-oeste do Atlântico”, que poderá agora contribuir também para a recuperação económica dos Açores e de Portugal.
“Iremos hoje lançar a preparação daquilo que poderá vir a ser uma agenda mobilizadora no âmbito do plano de recuperação para Portugal, que venha possibilitar centrar aqui neste laboratório a gestão e coordenação de uma futura constelação de satélites”, apontou, defendendo que os futuros satélites poderão possibilitar “o desenvolvimento de novas áreas de negócio, de maior valor acrescentado”.
O Air Centre conta com uma equipa de 25 pessoas, 12 das quais a trabalhar no Terinov, na ilha Terceira, oriundos de Itália, Espanha, Inglaterra, mas também de Portugal, incluindo alguns dos Açores.
“O Centro Internacional de Investigação tem uma agenda científica e técnica clara, mas também tem uma agenda de desenvolvimento regional, de criar emprego qualificado nas regiões atlânticas, dando uma centralidade internacional aos Açores”, frisou o ministro.
Também o presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, destacou as oportunidades de emprego criadas e manifestou-se “orgulhoso” por os Açores conseguirem “captar jovens talentosos”, mas também por terem “talento açoriano” que regressa à região depois da formação.
Bolieiro, que lidera o governo da coligação PSD-CDS-PPM, assumiu o compromisso de dar “continuidade” ao trabalho iniciado pelo anterior executivo, do PS, e de cooperar com o Governo da República no desenvolvimento do Air Centre.
“Conte com o Governo Regional para podermos, em cooperação e sem disputa de domínios, desenvolver com sucesso esta afirmação portuguesa regional dos Açores, mas europeia no contexto do mundo da ciência e da investigação no planeta”, disse, dirigindo-se a Manuel Heitor.
Segundo o presidente do executivo açoriano, com projetos como os desenvolvidos pelo Air Centre, os Açores deixam de estar “condenados à ultraperiferia” e afirmam “uma centralidade nova no conhecimento, na informação e na captação e residência de talentos e investigadores”.
“Estamos a ganhar uma esfera de dimensão de conhecimento, pesquisa e investigação, que permite colocar os Açores como uma geografia relevante e geoestratégica no planeta, mas sobretudo com a concentração e a captação de ciência, de investigação, de inovação, de conhecimento e saber”, sublinhou.
Segundo Miguel Bello, o Air Centre já concorreu a 70 propostas internacionais e ganhou mais de 20 projetos, que envolveram um valor total de 35 milhões de euros para todos os parceiros e permitiram a criação de 120 empregos.