Autor: Ana Marques Gonçalves/Lusa
“Casualidade. O judo tem atletas muito bons, o ténis de mesa também. A ginástica também tem força. Casualidade das casualidades, não me pergunte porquê”, refletiu, quando questionado sobre a ‘exclusividade’ do atletismo na galeria de campeões olímpicos nacionais.
Há 40 anos, Carlos Lopes conquistou o primeiro ouro olímpico em Los Angeles1984, na maratona, prova que fez também Rosa Mota entrar no ‘Olimpo’ quatro anos depois, em Seul1988. Seguiram-se Fernando Ribeiro, nos 10.000 metros, em Atlanta1996, e Nélson Évora (Pequim2008) e Pedro Pablo Pichardo (Tóquio2020), ambos no triplo salto.
“Se tudo correr pelo normal, estou convencido de que o atletismo poderá trazer a medalha [de Paris2024], poderá é não ser a de ouro. O Pichardo… mas é preciso que tudo corra bem”, perspetivou, em entrevista à Lusa, em sua casa, em Santa Cruz (Torres Vedras).
O antigo atleta, atualmente com 77 anos, considera que, “neste momento”, o atletismo português é bom “em quase todas as disciplinas, menos no meio fundo”.
“É um facto. Mas ainda tenho esperança que o Samuel Barata faça qualquer coisa de giro. Tenho esperança. É um miúdo que merece, que trabalha. É um miúdo que tem condições. E os resultados, tanto nos 10.000 como na maratona, deixam-me satisfeito. E com vontade de ver essa prova”, antecipou sobre o único atleta masculino apurado para a maratona dos Jogos que decorrem entre 26 de julho e 11 de agosto.
Carlos Lopes não vai viajar para a capital francesa, por já não ter “idade para fugir” – em alusão aos desafios de segurança colocados a Paris2024 - e preferir “ver tudo ao pormenor” em vez de ter de “andar quilómetros e quilómetros” para assistir às provas, nomeadamente as de natação, remo, judo e, claro, atletismo.
“Aquilo é um mundo maravilhoso. Mas é preciso saber estar neste mundo maravilhoso. Porque aquilo é de uma dimensão tal. Há uns [atletas] que se deslumbram e há outros que se acanham. A pressão é de tal ordem. E com o aproximar das competições, é terrível. Há uns que se aguentam e há outros que não se aguentam”, analisou.
Quatro décadas passaram desde que subiu ao lugar mais alto do pódio, mas o também vice-campeão olímpico dos 10.000 metros em Montreal1976 mas Lopes crê que a essência dos Jogos Olímpicos permanece “a mesma”.
“Agora, os resultados é que são diferentes, as fórmulas são diferentes. E faz todo o sentido. Porquê? Muitos dos países também têm fórmulas adversas à realidade do que é o desporto de alto rendimento. Transformam jovens do nada em grandes campeões. Por isso é que há passaportes biológicos”, salientou.
Para Lopes, “há mais matreirice no desporto hoje”. “Baseia-se tudo nisto, infelizmente. E aqueles que andam no desporto pelo prazer e fazem resultados fabulosos, às vezes ficam um bocadinho desapontados pelo seu sacrifício em prol daqueles que pouco fazem e que muito ganham”, lamentou.
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