Açoriano Oriental
Comunidade portuguesa do vale do Okanagan é das mais bem estabelecidas no Canadá
A comunidade portuguesa que reside no vale do Okanagan, oeste do Canadá, é uma das mais bem integradas no país, dada a sua distância geográfica, disse à agência Lusa o investigador José Carlos Teixeira.
Comunidade portuguesa do vale do Okanagan é das mais bem estabelecidas no Canadá

Autor: Lusa/AO Online

 

"A comunidade portuguesa localizada no vale do Okanagan é das mais bem integradas no Canadá, por diversas razões", considera o investigador, residente em Kelowna, cidade localizada na parte oriental do lago Okanagan e emigrante de São Miguel, Açores, que há 30 anos se dedica ao estudo da comunidade portuguesa no Canadá.

Geógrafo urbano e social e professor catedrático da Universidade da Colúmbia Britânica (Okanagan Campus), José Carlos Teixeira aponta como segredo para este sucesso da comunidade portuguesa, "quase único no Canadá", a distância que a comunidade sentiu de Portugal que a levou a adaptar-se e a integrar-se "muito bem" na sociedade canadiana. 

"Sempre que visitei os clubes e associações portugueses foi impressionante o grau de conhecimento da língua inglesa, até por membros da primeira geração", frisou. 

Na região sul do vale do Okanagan, no interior da província da Colúmbia Britânica, onde estão as pequenas cidades de Penticton, Oliver e Osoyoos, "fala-se pouco em insucesso escolar", com os lusodescendentes a estarem "completamente integrados na sociedade canadiana". 

"O perfil socioeconómico e demográfico da segunda e terceira gerações, é um perfil muito positivo, na  medida que foram jovens que não abandonaram as escolas, foram para as universidades e ocupam ótimos cargos em diversas profissões nas várias cidades canadianas", continuou. 

A comunidade tem tido um impacto "muito positivo ao nível social, cultural, económico e até mesmo político", apesar de no capítulo político não se verificaram "nomes sonantes" como se constata nos grandes centros urbanos.

Atualmente existem no vale do Okanagan cerca de 2.500 portugueses e lusodescendentes, dispersando-se principalmente por Vernon, Kalowna, Penticton, Oliver e Osoyoos, que não "esquecem as suas origens". 

"São comunidades que não se concentraram, que não criaram bairros portugueses, aqueles 'Little Portugal' como se verifica em Toronto e em Montreal. Os portugueses (do vale do Okanagan) dispersaram-se nessas três pequenas cidades, que são localidades relativamente pequenas, mas criaram os seus três clubes, fazendo as festas tradicionais e missa celebrada em português, não esquecendo a sua portugalidade, cultura e língua", acrescentou.

Dos portugueses que se fixaram no sul do vale do Okanagan, 65% provêm do continente e começaram a chegar àquela região em 1955, quando se verificou a imigração oficial para o vale do Okanagan, na sequência de acordo estabelecido entre os governos do Canadá e de Portugal, para trabalharam na "agricultura e nos caminhos-de-ferro".

Os primeiros trinta imigrantes portugueses para aquela área foram recrutados pelo governo canadiano para a apanha de fruta.

Os portugueses "sempre foram conhecidos por serem bons trabalhadores e estabelecendo-se gradualmente no setor de agrícola", trabalhando para os canadianos, com um espírito de poupança enorme, e no final da década de 1950, já tinham as suas próprias quintas com pomares.

Um dos casos de sucesso verificou-se com Joe Fernandes, um madeirense que chegou a Osoyoos em 1959. O emigrante adquiriu uma quinta com três hectares por sete mil dólares canadianos (cerca de 4.900 euros, ao câmbio atual) e criou um pouco de Portugal no Canadá. 

"Provavelmente produziu na sua quinta as primeiras bananas no Canadá. Há muitos outros casos de sucesso de agricultores portugueses que hoje são multimilionários", frisou. 

O jornal Vancouver Sun chegou a fazer uma reportagem sobre o emigrante português Joe Fernandes em 1992, que devido ao clima produziu e comercializou bananas da Madeira na sua quinta. A propriedade foi apelidada pelo jornal de "República das Bananas", após recriar uma pouco de Portugal no interior da província da Colúmbia Britânica. 

Segundo dados de 1987, das cerca de 420 quintas em Oliver, cerca de 25% eram propriedade de portugueses, das 223 em Osoyoos 44% eram de portugueses. Em 2005, registavam-se 81 propriedades de portugueses.

"Atualmente muitos dos agricultores já estão com uma idade avançada, e já venderam metade desse número das quintas, com os filhos a optarem por outras áreas profissionais, verificando-se ainda alguns casos de sucesso entre as novas gerações", concluiu José Carlos Teixeira. 

Na Colúmbia Britânica vivem cerca de 30 a 40 mil portugueses e luso-canadianos, a grande maioria em Vancouver e arredores, existindo também importantes comunidades em Kitimat e no vale do Okanagan.

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