Autor: Lusa/AO online
"Quando Trump anunciou a sua decisão, não foi um choque. Era uma das suas promessas de campanha, ele acredita que o programa é uma amnistia ilegal. Já estávamos a preparar-nos psicologicamente para isto desde a sua vitória", disse Brigida, mãe de Iuri, à agência Lusa.
O jovem de 16 anos é um dos 520 portugueses que podem ser deportados devido à decisão do Presidente americano de terminar o Deferred Action for Childhood Arrivals (DACA). Estes portugueses concentram-se nos estados de Massachusetts, Nova Jérsia e Califórnia.
O programa, que foi lançado em 2012 por Barack Obama, permite aos jovens receberem proteção contra deportação, autorização de trabalho e número de segurança social.
Neste momento, perto de 800 mil pessoas usufruem das suas proteções, o que lhes permitiu ir para a universidade, trabalhar de forma legal, visitar o país de origem e ter carta de condução.
As únicas diferenças destas pessoas para um cidadão norte-americano é que não têm passaporte, não podem votar e correm risco de deportação caso cometam algum crime.
Iuri chegou a Newark, em Nova Jérsia, com apenas três anos, trazido pelos pais. Os seus dois irmãos mais novos, nascidos no país, já são americanos, mas Iuri e os pais continuam sem cidadania.
"Não nos preocupamos tanto com a nossa situação, porque decidimos vir sem documentos, enquanto adultos. Mas tomámos a decisão pelo Iuri, que era um bebé, e isso é difícil enquanto pais", explica Brigida.
Iuri estava protegido pelo programa desde fevereiro de 2016. Segundo a decisão da administração republicana, os jovens cuja licença termina antes do fim do programa, a 5 de março do próximo ano, podiam candidatar-se à renovação por mais dois anos.
"Enviámos o pedido de renovação logo em setembro. Já fomos à entrevista e tirar impressões digitais, mas ainda não recebemos a renovação. É muito importante receber, porque são mais dois anos em que o Iuri estará protegido", lembra Brigida.
Quando a Casa Branca anunciou a decisão em setembro, deu um prazo de seis meses para o Congresso encontrar uma solução legal para as pessoas protegidas pelo programa.
"Eu acredito que vão aprovar uma nova lei. Mas será muito restrita, com muitas condições para que estes jovens possam um dia ser cidadãos", diz Brigida.
Uma solução legislativa tem apoio nos dois partidos, tanto na Câmara dos Representantes como no Senado, mas enfrenta forte oposição de alguns republicanos e uma agenda já muito preenchida, com a reforma fiscal, a aprovação de um novo orçamento e um novo limite de endividamento do país.
"Um dos planos que foi apresentado pelos republicanos, cria um período de 15 anos até que possam ser cidadãos, com várias exigências como ir para a universidade ou ser militar. É exigente, mas seria melhor do que nada", diz Brigida.
Iuri, que planeava ir para a universidade usando as proteções legais do programa, considera agora juntar-se às forças armadas americanas se isso lhe oferecer um caminho para a cidadania americana.
"É algo que ele nunca tinha considerado, mas se essa acabar por ser uma das opções, ele diz que se alista", diz Brigida.