Açoriano Oriental
“Tento sempre aproveitar todas as oportunidades e os desafios que me são propostos”

João Moniz. Nasceu em Ponta Garça, Vila Franca do Campo, concelho pelo qual tem uma grande paixão. A sua ligação à música das “nossas raízes” surgiu ainda pequenino. Todas as músicas que faz “não é por obrigação” e quer cantar até ser “ficar velho”


“Tento sempre aproveitar todas as oportunidades e os desafios que me são propostos”

Autor: Susete Rodrigues

João Moniz é natural de Ponta Garça, Vila Franca do Campo, concelho onde passou a sua infância, adolescência e juventude, e pelo qual tem uma paixão enorme. Atualmente a viver em Ponta Delgada, o cantautor, confessa-nos que tem “uma ligação muito forte com Vila Franca do Campo. Quase todos os dias, sinto necessidade de querer voltar para onde nasci e cresci. Essa importância para mim tem a ver com o mar, que não vejo da minha casa agora. Na minha freguesia vemos o mar de qualquer zona. Faz falta o mar, apesar de estar perto do mar...”.

Conta-nos que desde pequenino que sentiu “uma grande ligação à música, e os meus pais dizem que aos três anos pedi para aprender a tocar guitarra. Era um instrumento que me fascinava e que ainda hoje me fascina”. Aos seis anos, João Moniz começou as primeiras aulas na Academia Musical de Vila Franca do Campo, prosseguindo os seus estudos de guitarra clássica no Conservatório Regional de Ponta Delgada. Refere que também aprendeu “muito com os grupos locais, tais como o grupo de cantares, ou seja, não eram só as aulas propriamente ditas, procurava fazer também coisas diferentes”, recordando que, na altura, os Amigos de Ponta Garça “foi o meu primeiro grupo de cantares. Eles faziam as noites das estrelas, e lá estava eu, com 10 ou 11 anos, até às duas, três da manhã”. 

João Moniz reitera que é muito ligado à música das “nossas raízes, a nossa música tradicional. A música tradicional tem de ser valorizada por todos nós porque é uma música sobre as nossas vivências”, explicando que a música que “tenho feito hoje em dia também tem esse traço, mas um bocadinho mais contemporâneo, também devido às suas sonoridades. Os dois trabalhos que fiz, o ‘Saudade’ e ‘Depois da Saudade’, tem a intenção de contar uma história”. Fez parte de vários projetos musicais, mais ligados ao rock, projetos de “covers e foi uma experiência muito engraçada porque tinha 14 ou 15 anos.

A partir de 2018 é que “comecei a me dedicar a sério. No Festival da Povoação desse mesmo ano apresentámos dois, três temas em inglês e que ainda não foram lançados... E só no início de 2019 com o lançamento da ‘Saudade’, o meu primeiro tema a sério, que passou nas rádios, é que “percebi que me tinha encontrado. Pensei: se calhar é isso que vou fazer porque, acima de tudo, é uma coisa natural. Todas as músicas que faço não é por obrigação”. Com essas canções João Moniz venceu o concurso ‘One Step for Music Fest’ em Lisboa. Para si “era uma coisa impensável porque estava sozinho com uma guitarra emprestada, a ‘combater’, digamos, com bandas, muitas delas já com uma ‘máquina’ por detrás e eu, um rapaz da ilha, com uma guitarra emprestada de um amigo, o Ed Gomes, que também é músico, e ganhei”, disse-nos, sublinhando que “ganhei por causa das letras e acima de tudo por causa do sentimento que transmitia às pessoas ao cantar as canções”. Esta proeza levou-o ao palco do Meo Sudoeste. São esses desafios que o cantautor vilafranquense aceita e faz com que continue: “Tento sempre aproveitar todas as oportunidades e os desafios que me são propostos, quer nas músicas originais, quer também com outros projetos de que faço parte e que estão completamente fora do meu habitat”, como por exemplo “tenho um projeto com músicos de Coimbra, o Ricardo J Dias, o Ni Ferreirinha, o Manuel Rocha, que é ‘Fado de Coimbra’. Este projeto tem o objetivo de dignificar os açorianos que criaram música de Coimbra, que são muitos... o Tavares de Melo, o Machado de Soares....”.

João Moniz afirma que tem muitas influências musicais, no entanto, a nível de letra “há uma ou outra canção que vai buscar alguns registos históricos (…) destaco sempre o ‘Anel da Princesa’ que é do último CD. Para quem não sabe, o ‘Anel da Princesa’ é o Ilhéu de Vila Franca do Campo. (…) A primeira vez que se fala de Vila Franca do Campo na obra do Gaspar Frutuoso, ‘Saudades da Terra’ - costumo falar disso nos meus concertos - é aquando da chegada dos portugueses a Vila Franca do Campo, eles aportam no Ilhéu e fazem lá uma missa. Gaspar Frutuoso diz que depois dessa missa, eles ouvem do fundo do Ilhéu muitos vozes a sussurrar: ‘Esta terra é nossa’ e fogem. Então, coloco no meio da música esta frase e faço uma explicação para o público entender que o Ilhéu é uma das provas de que a Atlântida existiu”.

Questionado sobre as exigências que tem consigo quando pisa um palco, João Moniz adianta que “tocar sozinho é muito mais fácil. A exigência principal é que tudo faça sentido e acho que tenho conseguido fazer isso. Há pouco tempo estive na Feira do Livro em Lisboa, em que 99% do público não me conhecia, mas as pessoas paravam para ouvir e para sentir o que estava a cantar”. Quando atua em formato de banda “já há mais preocupações, já não é só o passar a mensagem, porque tocando sozinho posso fazer diversas abordagens à música, é o dobro da responsabilidade, porque requer não me sentir demasiado à vontade, não ser demasiado livre”. João Moniz faz parte do ‘Tempo de Sonhar’, um projeto delineado pelo maestro Jacinto Neves. Conta que o maestro “tinha o sonho de fazer algo com as filarmónicas dos Açores. (…) A ideia seria ter um músico açoriano, fazer arranjos e correr as 9 ilhas. Tive a sorte de ele ter gostado do meu trabalho e escolheu-me para ser este músico açoriano”, explicando que “temos as orquestrações das minhas canções que o maestro fez. Ele vai trabalhando, remotamente, com as filarmónicas convidadas de cada ilha. Depois, na semana do espetáculo, trabalhamos com a filarmónica pessoalmente, para depois montar o espetáculo”.

O cantautor tem uma profissão paralela, mas ligada à música. “Dou aulas de guitarra já há dez anos. Comecei aqui na Academia de Expressões, que já fechou, dou aulas na Academia Musical da Lagoa e dou aulas individuais”. Tem outros projetos de “ação social, ligados também à arte em Ponta Garça, através da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca, também faço animação musical na Casa de Saúde de Nossa Senhora da Conceição, já há sete anos. Não são atuações mas está sempre ligado à música”.

Diz que “há muita música na gaveta... ainda no início deste ano lancei uma canção nas plataformas de streaming ‘Acaso Feliz’ que teve a participação do Iuri Oliveira um grande percussionista - conheci-o quando há dois anos abri o concerto da Ana Moura no Teatro Micaelense - ele desafiou-me”. (…) Salienta que “tenho tido essa sorte. Das pessoas que vou conhecendo e tenho feito muitos amigos. Isso faz com que aprenda coisas novas, o que também reflete na criatividade. Ou seja, inspira-me para fazer novas canções”.

Se tem algum sonho, João Moniz refere que “agora pensando bem nisso, era continuar a fazer o que estou a fazer. Ter sempre essa oportunidade de apresentar as minhas canções, seja em que palco for, seja para cinco pessoas, seja para cinco mil pessoas. O meu sonho é esse até ficar velho”, sublinhando que “sou muito grato e sinto-me um privilegiado por ter conseguido chegar a essa fase em que simplesmente faço o que gosto”.

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