Autor: Carlota Pimentel
João Teixeira, presidente da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade dos Açores, afirmou que a imposição de tarifas pelos Estados Unidos da América (EUA) à União Europeia (UE) terá impacto na economia açoriana, mas “não será significativo”.
O economista falava na sequência do anúncio feito pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, na quarta-feira, sobre a aplicação de ‘tarifas recíprocas’ às importações, impondo uma taxa de 20% aos produtos da UE.
Em declarações ao Açoriano Oriental, João Teixeira referiu que os produtos açorianos exportados para os EUA, como queijo, conservas de peixe, refrigerantes, ananás e carne, poderão ser penalizados pelo aumento das tarifas.
“Temos um conjunto de produtos açorianos, que são essencialmente exportados para o mercado da saudade, que, naturalmente, vão ficar mais caros com a aplicação dessas tarifas. Quando os americanos forem comprar esses produtos, vão sentir que estão mais caros, o que poderá levar a uma redução da procura e essa redução fará com que as empresas que exportam para esse mercado tenham maiores dificuldade”, salientou.
O economista realçou que o setor leiteiro poderá ser um dos mais afetados, sendo que “o exemplo mais específico é o do queijo de São Jorge”, tendo em conta que “algumas cooperativas anunciaram que cerca de 11% da sua faturação é para os Estados Unidos”.
Porém, segundo João Teixeira, embora possa haver uma retração nas exportações, “não estamos a falar de uma cota muito significativa”.
O docente sugeriu que os Açores considerem “encontrar outros mercados, onde essas tarifas não são tão significativas”, reforçando que “apesar desse efeito de retração, o impacto na economia açoriana não será muito significativo”.
Recorde-se que, em 2024, as exportações açorianas para os EUA valeram 9,6 milhões de euros à Região, de acordo com o Serviço Regional de Estatística dos Açores.
Todavia, apesar do impacto nas exportações, João Teixeira sublinhou que a economia açoriana não será “tão afetada” devido à importância do turismo.
“A economia dos Açores tem sido alavancada nos últimos anos pelo turismo. O seu setor exportador assenta, acima de tudo, no turismo e não se vai aplicar uma tarifa sobre os fluxos turísticos. (...) Continuarão a chegar, para já, turistas americanos aos Açores e a Portugal”, frisou.
Conforme explica o economista, Portugal e os Açores não estão entre as regiões europeias mais vulneráveis às novas tarifas, comparando a situação com a Alemanha, Dinamarca e Irlanda, cujas indústrias, automóvel e farmacêutica, serão mais afetadas.
No entanto, o presidente da FEG alertou que “se a Europa retaliar, como se prevê”, aplicando tarifas aos produtos importados dos EUA, poderá haver “um efeito indireto, a médio e longo prazo”, causando “um aumento dos preços na indústria automóvel, no setor farmacêutico e numa série de produtos europeus”.
“Podemos estar, outra vez, num contexto de crescimento da inflação, aumento dos preços e crescimento económico menos acentuado, que acaba também por retrair o crescimento económico que se antevia para os Açores”, prosseguiu.
No caso dos Açores, “as transferências no âmbito da Lei das Finanças das Regiões Autónomas são feitas em função da taxa de crescimento do PIB nos últimos anos”, elucidou, acrescentando que “se agora se antever um menor crescimento do PIB português, por via desse contexto internacional de uma maior retração da economia”, isso poderá traduzir-se em “menores transferências para os Açores dentro de dois ou três anos”.
Refira-se que o secretário regional das Finanças, Planeamento e Administração Pública, Duarte Freitas, está a recolher contributos junto dos empresários para avaliar o impacto das tarifas anunciadas nas exportações açorianas e, consequentemente, na economia da Região.
Segundo a Lusa, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, revelou ontem que a Comissão está “a finalizar o primeiro pacote de contramedidas em resposta às tarifas sobre o aço”, adiantando que estão a ser preparadas “outras medidas para proteger os nossos interesses e negócios, se as negociações falharem”. Por sua vez, o Comité das Regiões Europeu solicitou à Comissão Europeia que adote “medidas sólidas” para proteger as economias locais e os produtores.
O Ministério da Economia, por seu turno, anunciou que se reunirá na próxima semana com 16 associações empresariais de diferentes setores para avaliar “o impacto e as medidas de mitigação” em relação às tarifas que foram anunciadas por Trump.