Açoriano Oriental
Santuário do Senhor Santo Cristo quer acolher doentes oncológicos de outras ilhas

Na antevisão das festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, Adriano Borges, reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo, adiantou ao Açoriano Oriental as novidades para este ano de celebração dos 60 anos de elevação a santuário diocesano. O sacerdote adiantou, também, mais pormenores sobre as obras de requalificação do Convento da Esperança.

Santuário do Senhor Santo Cristo quer acolher doentes oncológicos de outras ilhas

Autor: Tatiana Ourique / Açoriano Oriental

AÇORIANO ORIENTAL: O Santuário prepara-se para receber mais uma edição das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Que novidades trazem as celebrações neste ano em que se assinalam 60 anos de elevação à categoria de Santuário Diocesano?

ADRIANO BORGES: Este é o maior Santuário Diocesano. Não pela dimensão física, mas pelo número de peregrinos que aqui se deslocam diariamente. Este ano temos “novidades materiais” e “novidades não materiais”. As materiais assentam na abertura de dois novos espaços: um que já existia e que esteve em obras durante quase um ano, o coro alto, e que agora abre ao público para ser visitado e também inauguramos um armazém onde possamos guardar todos os nossos materiais e oficinas do dia a dia do Convento da Esperança. Também tivemos o lançamento de um selo comemorativo dos 60 anos do Santuário que decorreu na quinta feira, na apresentação da capa que foi, este ano, oferecida por uma emigrante no Canadá.
A novidade é o inédito encontro de Reitores Diocesanos: os dois reitores da ilha Terceira, o reitor jorgense e o reitor do Santuário do Senhor Bom Jesus do Pico. O encontro pretende assinalar os 60 anos e, sobretudo, com o objetivo de caminharmos juntos. A criação de um “Roteiro de Santuários” é um dos objetivos e também queremos aproveitar estas datas para firmarmos um caminho comum e de partilha eu vai de encontro ao projeto da Diocese de Angra de criar um sínodo diocesano.

 

 

AÇORIANO ORIENTAL: Não está diretamente relacionado com o Santuário, mas é um projeto da Irmandade do Senhor Santo Cristo que organiza as festas e a autarquia de Ponta Delgada. Este ano as festas têm uma vertente ecológica. Como é que o Santuário vê esta questão?

ADRIANO BORGES: Houve uma parceria, e bem, entre a autarquia e a irmandade que controla a parte exterior da festa, numa experiência num “mega” acontecimento. Esta será uma prova de fogo e não será fácil que todos os que vão vender por estes dias estejam habilitados a usar apenas material biodegradável. Vamos ver como corre. Espero que a adesão seja forte, mas acredito que é um processo que vá melhorando a cada ano e espero, acima de tudo, que tenha impacto nas pessoas e que traga uma nova consciência ecológica que é, também, o que o Papa Francisco nos pede: “que tomemos conta da nossa casa comum” que é o planeta.

 

 

AÇORIANO ORIENTAL: Que iniciativas destaca das comemorações destes 60 anos de elevação a Santuário?
ADRIANO BORGES: Tivemos já 3 conferências extraordinárias que não ficaram limitadas ao espaço físico do Santuário. Tivemos uma com o reitor do Santuário de Fátima que nos falou sobre os santuários serem escolas de oração quer individual quer comunitariamente. O Dr Alexandre Palma esteve no Senhor Bom Jesus da Pedra, em Vila Franca, a falar-nos sobre a importância de Cristo nas nossas vidas e no Dia do Pai, uma conferência na Igreja de São José sobre os santuários como lugares de encontro da fragilidade humana.
Num futuro próximo teremos um colóquio de 3 dias, a acontecer no mês de julho, relacionado com o Espírito Santo e a religiosidade popular e que vai debater duas devoções micaelenses: ao Espírito Santo e ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. Aproveitando a passagem pelos Açores de Dom Carlos Azevedo, para presidir as Festas do Divino Espírito Santo em Ponta Delgada, vamos organizar uma conferência na Ribeira Grande por ser “casa” da Madre Teresa da Anunciada, que iniciou o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.

 

 

AO: O Santuário assinou recentemente um protocolo de salvaguarda do património com o Governo dos Açores. Em que consiste esta parceria?

ADRIANO BORGES: O santuário tem, atualmente, e nos próximos anos, um enorme volume de obras que têm tido apoio do Governo Regional mas cujos valores são “uma gota de água no oceano”. A par disso a Secretaria Regional das Obras Públicas ofereceu um plano de salvaguarda do Convento da Esperança e do Santuário, sobretudo daquilo que é tesouro regional, nomeadamente as joias principais e a própria imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres. É um projeto necessário por ser, também, um plano de emergência para as pessoas e para as “coisas”. As pessoas que trabalham e ou vivem aqui vão ter diretrizes para em caso de incêndio ou catástrofe natural saibam o que fazer, como fazer e o que salvaguardar.



AO: Como estão a decorrer as obras no Convento da Esperança? O que se pretende com elas?

ADRIANO BORGES: Nós concluímos as obras no coro alto. Faltam alguns pormenores, mas já está aberto ao público. Tivemos que refazer o teto para torná-lo mais seguro. A próxima intervenção, que deverá arrancar já este verão, será no telhado do corpo da Igreja. Já identificámos térmitas e trata-se, portanto, de uma questão de salvaguarda e de segurança.
Há neste projeto de requalificação um percurso museológico, que é a parte que temos de assegurar, mas também pretendemos ter uma vertente humana e social muito importante. A parte do convento onde, outrora, recebemos jovens de fora para estudar está desativada. O objetivo é que seja convertida (com a recuperação de todos os quartos) num local cómodo onde possamos receber pessoas deslocadas de outras ilhas para tratamentos na ilha de São Miguel, sobretudo tratamentos oncológicos. Queremos receber as pessoas no convento, dar-lhes o melhor conforto possível, mas também oferecer um acompanhamento e proximidade através de uma equipa de 2 ou 3 técnicos e com auxílio de voluntários para que essas pessoas estejam ocupadas e acompanhadas nos dias de intervalo dos tratamentos que são relativamente rápidos e que atiram os doentes para a deambulação solitária pela cidade sem ocupações. Assim encontrarão aqui apoio humano e nos dias de sol poderão passear acompanhados e conhecer um pouco melhor a ilha e, por outro lado, fazer um acompanhamento espiritual que a comunidade religiosa poderá fornecer.



AO: A comunidade manifesta muitas vezes dúvidas sobre os destinos das contas do Santuário. Pode dizer-se que ele é o coração financeiro da Diocese de Angra?

ADRIANO BORGES: É certamente o coração e talvez até os pulmões da diocese. É um precioso auxílio para a vida da Diocese, mormente para a vida do Seminário Episcopal de Angra e para os alunos sacerdotes que a diocese envia para formação em Roma. Também entregamos, como todas as paróquias, 10% dos nossos lucros à Diocese. Claro que quando falamos do Santuário esses valores ascendem a alguns milhares. Mas não nos podemos esquecer que, depois de tantos anos sem fazer obras, temos que guardar largos milhares (se não milhões) para as obras de requalificação. Ainda não sabemos o valor total dos apoios públicos (que poderão ascender até ao máximo de 75%) e, por isso, temos que garantir essa “folga” orçamental já que estamos a falar de obras que devem atingir os 8 milhões de euros. A par dos apoios governamentais espero que possamos também contar com o apoio dos nossos emigrantes. Eu próprio me deslocarei aos Estados Unidos para estar com os nossos emigrantes e fazer-lhes este apelo para que todos juntos possamos suportar estes custos.

AO: Como é que quem está longe poderá acompanhar “mais de perto” as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres este ano?
ADRIANO BORGES: Em primeiro lugar podem acompanhar 24 sobre 24 horas as celebrações e a imagem do Senhor Santo Cristo através das câmaras fixas e que são exibidas no site do Santuário. Depois podem sempre acompanhar os diretos na RTP- Açores, desde a abertura das festas, na sexta feira, passando pela mudança da Imagem no Sábado, à eucaristia e procissão maior no domingo. Envio, também, uma mensagem de conforto e esperança a todos os que desejariam estar em São Miguel nestes dias mas que a vida não lhes permitiu e envio um desejo redobrado que possam estar connosco nos próximos anos.

AO: E aos que marcam presença no Campo de São Francisco por estes dias?

ADRIANO BORGES: Acima de tudo que sejam umas festas muito ordeiras. Que todos se respeitem e que os menos crentes respeitem a fé do próximo. Para os devotos desejo que o Senhor lhes conceda todos os milagres que cá venham pedir.


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