Açoriano Oriental
Santa Maria e Terceira unidas por coração em vimes

Helena Martelo e Aida Bairos são as mentoras do projeto “Organic Flow”, um projeto que visa a sustentabilidade e educação ambiental com um grande enfoque na criação contemporânea, com recurso a diferentes materiais naturais. Um projeto com forma de coração.


Santa Maria e Terceira unidas por coração em vimes

Autor: Tatiana Ourique / AO Online

Há convívio no Forno, em Santa Bárbara, na ilha de Santa Maria, sempre que é tempo de descascar os vimes. Helena Martelo, a residir atualmente na ilha Terceira, garante que os regressos à ilha do sol são sempre especiais: “Sempre que posso vou a Santa Maria participar na tarefa de descascar o vime. É um momento único e inesquecível não só pelo ato em si de descascar o vime e as técnicas associadas, mas também pelo trabalho comunitário e o convívio entre gerações onde são partilhadas histórias antigas de quando trabalhavam e descascavam o vime com os mais velhos. É um trabalho comunitário que ainda permanece na comunidade rural de Santa Maria. Hoje estão a descascar o vime e amanhã estão a trabalhar o campo ou a tratar dos animais em comunidade”, contou ao Açoriano Oriental a fundadora do projeto e marketeer.


A “Organic Flow” vive ao ritmo de residências artísticas onde se criam formas orgânicas de uma maneira fluída e natural. Pretende promover o artesão e a comunidade local em território nacional e internacional.

 

Helena Martelo licenciou-se em Marketing e Publicidade e assume-se desde sempre apaixonada pela natureza. Começou muito jovem a colecionar formas orgânicas, que recolhia durante os seus passeios à beira mar ou no campo e peças de artesanato, resultantes do saber fazer dos ofícios tradicionais. Gosta de imaginar formas inspiradas na natureza e recorrer à arte como forma de expressão. Na sua breve estadia na ilha de Santa Maria, criou, em conjunto com a artesã Aida Bairos, peças decorativas em vime.

 

Aida, mariense, cresceu com a arte de trabalhar o vime. Em criança via o pai a trabalhar sazonalmente os vimes. No início dos anos 80, experimentou com sucesso fazer a sua primeira peça em vime e, até hoje, nunca mais parou. Começou por reproduzir a cestaria tradicional, fazendo uma pesquisa das formas e a sua utilização até que a arte de trabalhar o vime passou a ser a sua atividade principal. A sua paixão é transformar o vime e outras fibras vegetais, na criação de peças utilitárias e decorativas. Procura sensibilizar as pessoas para a aquisição de peças que no final da sua vida útil são biodegradáveis e tem como objetivo continuar a criar, inovar e expandir o artesanato em fibras vegetais.

 

Helena explicou a origem deste projeto-coração”: “no âmbito de uma formação em tendências de mercado, que fiz com a empresa italiana Future Concept Lab. Foram desenvolvidos estudos a nível regional, em termos de hábitos e tendências de consumo sustentáveis, em comparação com os dados recolhidos a nível internacional, que demonstraram um mercado em expansão e a identificação de um segmento de pessoas com hábitos de consumo mais consciente e amigo do ambiente. O Organic Flow procura o “Chic Artesanal”, esculturas amigas do ambiente, as origens dos objetos artesanais, a beleza da natureza em peças de decoração, uma estética natural e esculturas orgânicas. O projeto Organic Flow iniciou-se na coleção “Coração” com a artesã Aida Bairos, dando vida às pedras em forma de coração recolhidas nos passeios à beira mar na Praia Formosa. Foram criados vários protótipos do coração tridimensional até chegar à escultura final”. A artesã diz ainda acreditar num contributo para um mundo melhor: “uma menina de 8 anos, quando viu o coração, disse-nos que podíamos dar a meninos maus para ficarem bons!”

 

A própria matéria prima tem um tempo que só a natureza decide: “é um processo que não é imediato e que tem de acompanhar o ritmo da natureza e das estações. O vime é local. Cresce de uma forma natural na ilha de Santa Maria, na freguesia de Santa Bárbara, no lugar do Forno. Em finais de janeiro, principio de fevereiro o vime é colhido, cozido e descascado. Depois segue-se a secagem do vime para poder ser trabalhado e armazenado. É um processo muito sensorial”.

Questionada sobre a distância geográfica entre as duas artesãs, Helena diz que este processo vive ao ritmo dos vôos: “Este projeto não tem pressa. Ele flui de uma forma orgânica. Temos tempo para respirar e pensar a peça. Por vezes trabalhamos em Santa Maria, outras vezes na Terceira. Somos uma região insular e arquipelágica que nos marca. Costumamos trabalhar ao ritmo dos horários dos aviões. Já estive em vias de perder vários aviões. Quando nos juntamos trabalhamos longas horas com prazer. Temos de respirar ao ritmo da peça: inspira e expira sem forçar o processo criativo. Temos de trabalhar calmamente as peças para estas nascerem de uma forma natural e saudável.”

 

O “Organic Flow” não dispensa as novas plataformas de comunicação e estará disponível em breve num website para chegar a mercados internacionais. “Primeiro Europa, depois quem sabe os Estados Unidos e o Canadá. São mercados muito competitivos, mas muito importantes. Estamos também a estabelecer contactos com lojas selecionadas a nível regional e nacional. Terminámos recentemente uma encomenda para uma loja, na região de Lisboa, que vai expor e vender a nossa primeira coleção de corações. Encomendaram-nos três tamanhos de corações”.

Para onde quer que vá, Helena leva o coração (o de vimes) com ela: “Gosto de ver a reação das pessoas. As pessoas gostam de tocar, sentir e cheirar o coração. As reações têm sido muito boas. Esperamos fazer muitos corações enquanto preparamos a nova coleção dedicada ao mar”.

Depois dos corações unicamente em vime já se perspetiva a inserção de novos materiais: “Já estamos a trabalhar em novas peças e a preparar os protótipos para começarmos a criar com diferentes materiais: cerâmica, vime e madeira. Em setembro deste ano vamos avançar com mais uma residência artística, desta vez com dois artesãos regionais”.

 

Mas ste não é um projeto apenas a 4 mãos. A família faz parte do projeto. Participam ativamente no processo de criação: “Quando regresso de Santa Maria as peças são avaliadas uma a uma pela família. São muito exigentes! Os amigos também se envolvem, tanto em Santa Maria como na Terceira, na avaliação da peça”.

Apaixonado pelo projeto ficou também o fotógrafo Pepe Brix que “passou uma tarde convosco em Vila do Porto, no atelier da Aida Bairos, para fazer o registo fotográfico do nosso trabalho. Ofereceu-nos as fotos para divulgarmos o projeto”.


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