Autor: Lusa
A nomeação de Cameron foi uma surpresa pois é raro que alguém de fora da Câmara dos Comuns assuma um cargo governamental de topo e é ainda mais invulgar para um antigo primeiro-ministro.
Cameron liderou o Executivo britânico entre 2010 e 2016, saindo em desgraça quando se demitiu após o resultado do referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia (‘Brexit’), contra a qual fez campanha.
"O primeiro-ministro pediu-me para ocupar o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros e eu aceitei de bom grado”, afirmou, num comunicado, reivindicando acreditar no “serviço público”.
“Embora tenha estado fora da linha da frente da política nos últimos sete anos, espero que a minha experiência - como líder Conservador durante onze anos e primeiro-ministro durante seis - me ajude a ajudar o primeiro-ministro a enfrentar” uma série de conflitos internacionais, como a guerra na Ucrânia e a crise no Médio Oriente, acrescentou Cameron.
O último ministro dos Negócios Estrangeiros a ocupar um assento na Câmara dos Lordes, e não na Câmara dos Comuns, foi Peter Carrington, que fez parte do governo da primeira-ministra Margaret Thatcher na década de 1980.
A nomeação imprevista aconteceu durante a remodelação desencadeada pelo despedimento de Braverman, uma figura polémica que suscitou críticas por acusar a polícia de ser demasiado branda com manifestantes pró-palestinianos.
Na sexta-feira, publicou um artigo no jornal The Times no qual acusou a polícia de “favoritismo" por permitir uma manifestação no sábado em defesa de um cessar-fogo na Faixa de Gaza, a qual descreveu como “bando de pró-palestinianos” e “manifestantes pelo ódio”.
O artigo não foi aprovado previamente pelo gabinete do primeiro-ministro, como é habitual.
Alguns críticos afirmaram que estes comentários ajudaram a instigar a violência registada, em particular por militantes de extrema-direita que agrediram polícias e tentaram confrontar os manifestantes pró-palestinianos.
Braverman também tinha causado desconforto ao descrever os sem abrigo como uma “escolha de estilo de vida”, palavras das quais Sunak e outros membros do Governo se distanciaram.
“Foi o maior privilégio da minha vida servir como ministra do Interior”, declarou hoje a ex-ministra, prometendo dizer mais "na devida altura”.
Braverman, uma advogada de 43 anos, é favorecida pela ala populista do partido por defender restrições mais duras à imigração ilegal, a qual apelidou de "furacão" que vai trazer "mais milhões de imigrantes para estas costas”.
Os críticos dizem que Braverman tem estado a promover a sua imagem para se posicionar para uma futura disputa pela liderança do partido, que poderá ocorrer se os Conservadores perderem as eleições legislativas previstas para o próximo ano.
A pasta do Ministério do Interior passou para James Cleverly, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros.
Outras mudanças relevantes incluem a saída de Therese Coffey do Ministério do Ambiente, herdado por Steve Barclay, que deixa o Ministério da Saúde a Victoria Atkins.
Ainda hoje demitiram-se ou foram dispensados vários secretários de Estado na Saúde, Educação, Transportes e Ciência.
A remodelação, esperada há várias semanas, é vista por analistas como uma tentativa do primeiro-ministro, em funções há pouco mais de um ano, de relançar o seu governo e preparar-se para as eleições legislativas previstas para o próximo ano.
O Partido Conservador está em risco de sair do poder que ocupa há quase 14 anos, tendo em conta a desvantagem de cerca de 20 pontos percentuais nas sondagens face ao Partido Trabalhista.