Açoriano Oriental
Remodelação do governo britânico surpreende com regresso de antigo PM David Cameron

O antigo primeiro-ministro britânico, David Cameron, regressou hoje à vida política como ministro dos Negócios Estrangeiros, numa remodelação governamental resultante do despedimento da ministra do Interior, Suella Braverman.

Remodelação do governo britânico surpreende com regresso de antigo PM David Cameron

Autor: Lusa

A nomeação de Cameron foi uma surpresa pois é raro que alguém de fora da Câmara dos Comuns assuma um cargo governamental de topo e é ainda mais invulgar para um antigo primeiro-ministro.

Cameron liderou o Executivo britânico entre 2010 e 2016, saindo em desgraça quando se demitiu após o resultado do referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia (‘Brexit’), contra a qual fez campanha.

"O primeiro-ministro pediu-me para ocupar o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros e eu aceitei de bom grado”, afirmou, num comunicado, reivindicando acreditar no “serviço público”.

“Embora tenha estado fora da linha da frente da política nos últimos sete anos, espero que a minha experiência - como líder Conservador durante onze anos e primeiro-ministro durante seis - me ajude a ajudar o primeiro-ministro a enfrentar” uma série de conflitos internacionais, como a guerra na Ucrânia e a crise no Médio Oriente, acrescentou Cameron.

O último ministro dos Negócios Estrangeiros a ocupar um assento na Câmara dos Lordes, e não na Câmara dos Comuns, foi Peter Carrington, que fez parte do governo da primeira-ministra Margaret Thatcher na década de 1980.

A nomeação imprevista aconteceu durante a remodelação desencadeada pelo despedimento de Braverman, uma figura polémica que suscitou críticas por acusar a polícia de ser demasiado branda com manifestantes pró-palestinianos.

Na sexta-feira, publicou um artigo no jornal The Times no qual acusou a polícia de “favoritismo" por permitir uma manifestação no sábado em defesa de um cessar-fogo na Faixa de Gaza, a qual descreveu como “bando de pró-palestinianos” e “manifestantes pelo ódio”.

O artigo não foi aprovado previamente pelo gabinete do primeiro-ministro, como é habitual.

Alguns críticos afirmaram que estes comentários ajudaram a instigar a violência registada, em particular por militantes de extrema-direita que agrediram polícias e tentaram confrontar os manifestantes pró-palestinianos.

Braverman também tinha causado desconforto ao descrever os sem abrigo como uma “escolha de estilo de vida”, palavras das quais Sunak e outros membros do Governo se distanciaram.

“Foi o maior privilégio da minha vida servir como ministra do Interior”, declarou hoje a ex-ministra, prometendo dizer mais "na devida altura”.

Braverman, uma advogada de 43 anos, é favorecida pela ala populista do partido por defender restrições mais duras à imigração ilegal, a qual apelidou de "furacão" que vai trazer "mais milhões de imigrantes para estas costas”.

Os críticos dizem que Braverman tem estado a promover a sua imagem para se posicionar para uma futura disputa pela liderança do partido, que poderá ocorrer se os Conservadores perderem as eleições legislativas previstas para o próximo ano.

A pasta do Ministério do Interior passou para James Cleverly, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros.

Outras mudanças relevantes incluem a saída de Therese Coffey do Ministério do Ambiente, herdado por Steve Barclay, que deixa o Ministério da Saúde a Victoria Atkins.

Ainda hoje demitiram-se ou foram dispensados vários secretários de Estado na Saúde, Educação, Transportes e Ciência.

A remodelação, esperada há várias semanas, é vista por analistas como uma tentativa do primeiro-ministro, em funções há pouco mais de um ano, de relançar o seu governo e preparar-se para as eleições legislativas previstas para o próximo ano.

O Partido Conservador está em risco de sair do poder que ocupa há quase 14 anos, tendo em conta a desvantagem de cerca de 20 pontos percentuais nas sondagens face ao Partido Trabalhista.


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