Autor: AO Online/ Lusa
Pela primeira vez a partir dos Açores, e mais cedo do que o habitual, à hora de almoço, Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu-se pela quarta vez aos portugueses pela televisão como Presidente e desejou um ano de 2020 “de esperança”, com um “Governo forte, concretizador e dialogante” e uma “oposição forte e alternativa”.
E, quanto a políticas mais concretas, dado que os recursos financeiros do país são “escassos”, Marcelo fez mais um pedido: seja dada prioridade e que se concentrem esforços na resolução dos problemas na “saúde, na segurança, na coesão e inclusão”.
Aos atores políticos, os que estão no poder e os que estão na oposição, traçou objetivos para dar “esperança” aos portugueses no primeiro ano da nova década, no início de um “novo ciclo”.
Em Portugal, disse, “esperança quer dizer Governo forte, concretizador e dialogante para corresponder à vontade popular que escolheu continuar o mesmo caminho, mas sem maioria absoluta”, numa referência ao executivo minoritário do PS, chefiado por António Costa.
E também significa “oposição forte e alternativa ao Governo”.
Dos Açores, na ilha mais pequena do arquipélago, a 1.890 quilómetros de Lisboa, Marcelo fez o elogio aos corvinos, mas também a quem nasceu nos “Portugais” que “menos têm” e estão “longe”, não só em distância, mas também do bem-estar ou do sucesso.
“Longe porque vivem em pobreza ou em risco dela” ou “longe porque nasceram em ‘Portugais’ cá dentro que menos têm, menos fixam, menos são sinal de futuro”, afirmou.
Ao longo da tarde, sucederam-se os comentários dos partidos com representação parlamentar, à exceção do PSD.
O primeiro foi o Bloco de Esquerda que, através do eurodeputado José Gusmão, considerou “muito significativo” Marcelo recordar que “foi escolha dos portugueses” o PS não ter maioria absoluta, especialmente em altura de debate orçamental.
O que, argumentou, “convoca naturalmente o Governo e o PS” a procurar “entendimentos e convergências que procurem prosseguir para as quais o BE tem alertado” e é preciso saber se as escolhas pelo “desenvolvimento económico e social” do país são “mais importantes do que algumas décimas de superavit para mostrar a Bruxelas”.
O PCP recebeu as palavras de Marcelo sem entusiasmo, admitiu que é a favor do diálogo com o Governo, defendido pelo Presidente, mas deixou um aviso.
“Estamos abertos ao diálogo, mas o diálogo é útil desde que sirva para alguma coisa, desde que sirva para prosseguir avanços e não para encetar políticas de estagnação ou retrocesso”, vincou Rui Fernandes, da comissão política dos comunistas.
Ainda à esquerda, a partir de Ponta Delgada, nos Açores, o presidente do PS, Carlos César, afirmou que as prioridades apontadas pelo Presidente apresentam "uma convergência muito importante do ponto de vista dos objetivos estratégicos" entre Marcelo, o Governo “e o próprio primeiro-ministro".
PS e Governo “têm desenvolvido contactos" sobre o Orçamento do Estado para 2020 e acrescentou que "na próxima sexta-feira", ocorrerão "também outras reuniões” envolvendo os partidos de esquerda com os quais o PS “tem privilegiado o diálogo" na anterior legislatura e na atual.
A líder parlamentar do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN), Inês de Sousa Real, apontou a discussão do orçamento como a “prova de força” da “capacidade de diálogo” do Governo com os partidos da oposição.
À direita, o eurodeputado do CDS-PP, Nuno Melo, destacou o discurso “generalista” do Presidente, mas sem “esconder uma realidade” que penaliza os portugueses, como é o caso do “caos na saúde” ou a “crise de autoridade” da parte do executivo.
Nuno Melo afirmou que o CDS tem sido oposição “alternativa, forte e eficaz” e que continuará a sê-lo depois do congresso de 25 e 26 de janeiro, que escolherá um sucessor de Assunção Cristas, atual líder.
O deputado único do Chega, André Ventura, saudou o Presidente por ter feito a mensagem de Ano Novo desde “uma das regiões mais esquecidas e abandonadas”, mas considerou tratar-se de um discurso sem algo de “concreto ou concretizável”.
Outro deputado único, João Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal, lamentou que o discurso presidencial de Ano Novo não tenha tido "um verdadeiro foco", tendo sido "um discurso sobre tudo, com efeito sobre nada".