Açoriano Oriental
Síria
Portuguesa conta que população oscila entre alegria e apreensão perante novo regime

A religiosa portuguesa Maria Lúcia Ferreira, que vive na Síria, garantiu à Lusa que a atitude do novo governo daquele país tem sido de tranquilizar a população, mas admite que as pessoas estão a viver com alguma apreensão

Portuguesa conta que população oscila entre alegria e apreensão perante novo regime

Autor: Lusa/AO Online

A religiosa, que no dia em que caiu o regime do ex-presidente Bashar al-Assad, comparou o momento com o 25 de Abril português, por não ter havido derramamento de sangue, contou que, nos últimos três dias – desde a queda do regime –, ouve sobretudo conversas de “alegria e esperança” e que ainda se sente “um bocadinho de euforia” no ar.

“A atitude deles tem sido de tranquilizar toda a gente”, afirmou em entrevista à Lusa, referindo-se à coligação de grupos da oposição a Bashar al-Assad que derrubou o regime e assumiu o poder ‘de facto’ na Síria.

A operação começou a 27 de novembro e foi liderada pela Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham - HTS, em árabe), herdeira da antiga afiliada síria da Al-Qaida e classificada como grupo terrorista por países como os Estados Unidos, o Reino Unido, o Canadá e ainda a União Europeia.

Mohammed al-Bashir, braço direito do líder da HTS, assumiu o cargo de primeiro-ministro interino, responsável pela transição na Síria até 01 de março de 2025.

“Eles têm dito ‘estamos convosco’ e ‘vai ser um governo para todos’ e perguntam ‘o que é que vocês precisam?’, mas as minorias, nomeadamente os cristãos, ainda sentem uma grande apreensão”, avançou Maria Lúcia Ferreira, que vive num mosteiro na vila de Qara, perto da fronteira com o Líbano.

“Por agora não tem havido sinais de radicalismo, mas uma vez que o governo esteja formado, a ver vamos”, considerou, sublinhando que “a memória está bem viva”.

Embora a Síria tenha uma comunidade cristã histórica, esta minoria foi uma das mais perseguidas durante a guerra, que durou 13 anos, e constitui uma grande parte dos mais de sete milhões de deslocados internos do país.

Reconhecendo que o facto de viver num mosteiro não proporciona muita informação sobre os refugiados da guerra, Maria Lúcia Ferreira contou que “muitos daqueles que saíram das suas casas com medo quando viram o avanço dos rebeldes, já voltaram porque houve a atitude de tranquilizar e não se fizeram massacres nenhuns”, o mesmo acontecendo a muitos dos rebeldes que estavam no Líbano.

A alegria “até de ver os mercados abertos e a economia a melhorar um bocadinho” mantém-se, mas, admitiu a religiosa ligada à Fundação AIS Portugal, a expectativa de todos vai crescendo à medida que vão sendo anunciadas as escolhas para ministros do novo governo interino.

“Eles são islamistas. Vê-se pelos ministros que sugeriram para o governo”, alertou a portuguesa, admitindo que “alguns são seculares”.

Por outro lado, insistiu, “há alguma desordem”.

“As crianças no início ainda foram à escola, mas pelo menos agora, não estão a ir” e “há pessoas que se aproveitam [da situação] para roubar”, relatou.

A religiosa portuguesa alertou ainda que a desordem ainda pode agravar-se já que muitos “conseguiram ir às casernas do exército e ‘apanhar’ armas” e “há relatos de episódios em que essas armas foram usadas por tribos árabes para, por exemplo, roubar gás”.

Além disso, acrescentou, alguma informação é escassa e ainda difícil de comprovar. É o caso do destino daqueles que faziam parte do regime de Bashar al-Assad.

“Aqueles que não se renderam e que são encontrados são executados”, afirmou, admitindo que “foi o que soube”.

Por outro lado, Maria Lúcia Ferreira garantiu que Israel tem atacado a Síria.

“Vimos aqui ao vivo. Durante dois dias, especialmente de noite, os aviões iam e vinham a bombardear as reservas de armas do governo sírio”, adiantou, explicando que foram duas noites “muito difíceis” porque “nunca se sabe se se aproximam de nós”.

Numa entrevista à estação televisiva do Qatar Al-Jazeera, o novo primeiro-ministro sírio defendeu a necessidade de estabilidade e proteção no país.

“Chegou o momento de este povo usufruir de estabilidade e de calma, de ser cuidado e de saber que o seu governo está aqui para lhe prestar os serviços de que necessita”, afirmou Mohammed al-Bashir.


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