Açoriano Oriental
Economia
Porto de Ponta Delgada com menos navios e carga
Fim de um ciclo de grandes obras públicas e criação de plataforma de distribuição de combustível na Terceira, provocou quebra de movimento e de carga no Porto de Ponta Delgada, revelam dados do INE, que comparam Janeiro a Setembro de 2007 e 2008. Isto quando a Madeira subiu
Porto de Ponta Delgada com menos navios e carga

Autor: Rui Jorge Cabral
O Porto de Ponta Delgada tem registado este ano menos embarcações, menor arqueação (dimensão das mesmas) e tem ainda regredido no movimento de carga, quer nacional, quer internacional. Os dados são do Instituto Nacional de Estatística (INE), comparam os períodos de Janeiro a Setembro de 2007 e 2008 e estão publicados no seu mais recente Destaque sobre a Actividade dos Transportes.
Uma menor prestação do Porto de Ponta Delgada, que acompanha quebras registadas em Lisboa e Leixões, mas que está em contraciclo com as subidas verificadas no Porto de Sines e na Madeira.
Uma redução que é justificada sobretudo pelo arrefecimento da construção civil nos Açores, devido ao fim de um grande ciclo de obras públicas que atingiu o ponto alto de estaleiro em 2007 e também por a construção civil ser o primeiro sector a sentir os efeitos da crise internacional nos Açores, pois é aquele que mais depende da banca, quer para construir, quer depois para vender aquilo que constrói.
“Os armadores dizem-me que há menos carga” em Ponta Delgada, admite ao Açoriano Oriental o presidente do conselho de administração da Portos dos Açores, Carlos Adalberto Silva, que no entanto garante ser ainda cedo para se falar numa situação de crise ao nível do comércio, justificando para já a redução do movimento e da carga no Porto de Ponta Delgada apenas com o arrefecimento no sector da construção civil.
De facto, este ano tem-se registado uma diminuição na importação de clínquer (a matéria-prima do cimento) e de ferro, o que se deve muito ao fim de obras como as Portas do Mar e todo o reordenamento da zona nascente da avenida marginal ou da SCUT  entre a Ribeira Grande e a Lagoa. 
Além disso, o Porto de Ponta Delgada perdeu também, quer em número de navios, quer em movimento de carga, com a passagem da distribuição de combustível no Grupo Central para o Porto da Praia da Vitória, na ilha Terceira. Isto porque, até Maio deste ano, todo o combustível que abastecia os Açores passava por Ponta Delgada. Agora, o combustível que é descarregado em Ponta Delgada destina-se, sobretudo, a abastecer apenas as ilhas do Grupo Oriental. Além disso, há que ter ainda em conta que o grande consumidor e importador de combustível, a EDA, tem vindo a reduzir progressivamente o seu consumo e as suas importações, com o aumento da produção de energia nos Açores a partir de fontes renováveis.
A situação do Porto de Ponta Delgada só não é pior no número de navios e da sua arqueação, porque este ano Ponta Delgada tem tido uma boa prestação ao nível dos cruzeiros, após a abertura das Portas do Mar. Mas com a crise financeira instalada no mercado norte-americano, aquela que ainda é a grande mais-valia de Ponta Delgada - que é a de ser uma escala na deslocação dos navios de cruzeiros da Europa para os Estados Unidos para aí fazerem a época de Inverno nas Caraíbas - também poderá ressentir-se.
É que algumas companhias estão a reduzir a oferta de cruzeiros para o mercado americano neste Inverno, devido ao sentimento de crise que se vive actualmente naquele país.
E é preciso também ter em conta que, enquanto Ponta Delgada tem como objectivo chegar às 100 escalas de cruzeiros por ano, a Madeira já passou as trezentas e já conseguiu aquilo que Ponta Delgada está agora a tentar, que é a inclusão do Funchal em circuitos e não apenas em escalas técnicas.
Ao nível estatístico, registe-se que o número de embarcações que entraram nos portos entre Janeiro e Setembro teve um aumento de 0,2% no continente e de 6,9% na Madeira ao contrário dos Açores, que baixaram 3,8% face ao período homólogo de 2007. Em termos de arqueação bruta total, houve um aumento nacional de 7,7 por cento face ao período homólogo de 2007.  O continente subiu 7,9% e o Funchal subiu 21,1%, isto enquanto Ponta Delgada baixou, tendo ao nível da arqueação um valor que é cerca de metade da dimensão dos navios que escalaram o Funchal, o que se justifica em grande parte pela diferença no número de navios de cruzeiro entre as duas ilhas.
No movimento de mercadorias, houve uma redução nacional de 6,5% face aos primeiros nove meses de 2007, derivada sobretudo da redução do tráfego nacional, uma vez que o tráfego internacional até teve uma evolução positiva. O Porto de Ponta Delgada registou também aqui quebras, quer no movimento nacional, quer no internacional, sendo aliás no movimento nacional que se regista a maior descida, com 922 mil toneladas nos primeiros nove meses deste ano, por comparação com os 1,2 milhões de toneladas do período homólogo de 2007, o que significa uma quebra 25,7%. No tráfego internacional, a quebra foi menor, com uma diminuição das 275 mil toneladas dos primeiros nove meses de 2007 para as 237 mil toneladas deste ano.


Aeroporto também registou quebra na maior ilha
Ao nível do movimento nos aeroportos, Ponta Delgada também registou quebras, quer nos passageiros, quer na carga e correio, nos primeiros nove meses deste ano por comparação com igual período de 2007, segundo o INE.
A excepção nesse período foi para o número de aviões no Aeroporto João Paulo II, que subiu 1,8%, de 4592 para 4674 aterragens. Aqui terá sido o ano menos bom ao nível do turismo, sobretudo no Inverno, que São Miguel teve este ano a justificar a descida no número de passageiros e de carga, o que a juntar ao aumento do número de aterragens pode indiciar que a rota de Ponta Delgada sofreu este ano uma ligeira deterioração ao nível das taxas de ocupação dos aviões e da sua competitividade no mercado nacional e internacional.
Mas voltando aos dados do INE, nos passageiros embarcados, desembarcados e em trânsito, o aeroporto de Ponta Delgada baixou 1,1 por cento no número de passageiros, dos 759 mil para os 751 mil passageiros, comparando os primeiros nove meses de 2007 e de 2008. A Horta também caiu no mesmo período 1,4% no número de passageiros, com menos três mil passageiros a usarem o aeroporto do Faial e a excepção nos três principais aeroportos dos Açores foi as Lajes, que cresceu 1%, passando dos 383 mil passageiros dos primeiros nove meses de 2007 para os 387 mil do período homólogo deste ano.  De notar que todo o movimento de passageiros dos nove aeroportos dos Açores é cerca de 12 vezes inferior ao movimento do principal aeroporto português, o de Lisboa. E que os Açores, no seu conjunto, ainda acumularam cerca de 400 mil passageiros a menos do que Madeira, nos primeiros nove meses deste ano.
Por fim, também a carga e o correio nos aeroportos e aeródromos dos Açores registou uma quebra nos primeiros nove meses de 2008, acompanhando a tendência verificada nos portos. O aeroporto de Ponta Delgada foi quem mais se ressentiu, com uma quebra de 5,7 por cento, baixando de 6116 para 5768 toneladas, comparando os primeiros nove meses de 2007 e de 2008. Isto apesar do aeroporto das Lajes ter subido 2,3% no mesmo período, das 3037 para as 3106 toneladas.
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