Açoriano Oriental
Para a maioria dos artistas não existe inspiração, apesar de todo o tempo disponível no confinamento, diz Filipe Souza

“Praia Live” é o nome do projeto do DJ praiense com o mote “Terra, água, fogo e ar” e que o levou a fazer atuações em direto em vários locais emblemáticos da Praia da Vitória.



Autor: Tatiana Ourique/ Açoriano Oriental

Açoriano Oriental -Em que consiste o “Praia Live” que agora termina?

 

Filipe Souza - O Praia Live é um projeto que já tinha há algum tempo em mente. É a minha forma de contribuir de volta todo o carinho e apoio que a cidade da Praia da Vitória tem-me dado ao longo destes anos enquanto artista. Vivendo cá, as nossas paisagens e a nossa natureza inspiram-me todos os dias e através das plataformas de streaming foi-me possível partilhar esta beleza com o resto do mundo, nesta que é uma fusão entre a música e o ambiente circundante. Tentei ao máximo preparar cada atuação de acordo com o lugar onde me encontrava, de forma a que o espectador tenha uma experiência agradável, para além disso, é muito mais divertido e desafiante filmar numa paisagem incrível do que fechado entre quatro paredes! Espero também, desta forma, contribuir para a promoção e divulgação das nossas ilhas.

 

AO - Quais foram os lugares escolhidos para estas produções em direto?

 

F.S. - Foi difícil selecionar os lugares onde filmar de tantos locais magníficos que a Praia da Vitória nos tem para oferecer, portanto decidi abordar a teoria dos quatro elementos clássicos para facilitar essa escolha: terra, água, ar e fogo. Para o elemento terra escolhi a Serra do Cume com a sua deslumbrante “manta de retalhos” e com uma vista para os principais picos vulcânicos da ilha Terceira. O elemento água fez todo o sentido ser gravado na baía da Praia da Vitória, sendo o maior areal da região. Para o “ar” tivemos a ousadia de filmar em cima do Monumento do Imaculado Coração de Maria do Miradouro do Facho. Terminamos com o fogo nas Baías da Agualva, na costa norte da ilha Terceira, onde o mar e a rocha vulcânica se cruzam e formam uma paisagem incrível.

 

AO -Como tem sido a recetividade do público?

 

F.S. - Tem sido fantástico, temos recebido feedback de viajantes que já visitaram os Açores tal como de pessoas com interesse em visitar a região, para além de todo o apoio da comunidade de diáspora portuguesa espalhada um pouco por todo o mundo com saudades da terra. Para além de todo o carinho do público em geral que já sente a falta das pistas de dança e dos festivais, que a partir de casa, fazem a festa comigo online.

 

AO -Num ano que se previa de digressão por vários países o DJ Souza ficou em casa. Foi possível reagendar todos os espetáculos ou a pandemia obrigou ao cancelamento definitivamente?

 

F.S. - Houve logo de início bom senso por parte de todos os intervenientes em adiar os espetáculos, mas o futuro da indústria é neste momento uma incógnita. Quantos espaços noturnos não terão condições de reabrirem quando for possível e de fecharem definitivamente as portas? Quantas empresas e produtores de eventos conseguirão continuar em atividade? Teremos um público o mesmo poder de compra e que se sinta seguro ao voltar para os espaços de diversão noturna e aos eventos? Neste momento estamos todos no mesmo barco a tentar salvaguardar o interesse de todos, que é o de poder voltar a trabalhar.

 

AO - Como foi sobreviver artisticamente a 2020?

 

F.S. - No início do confinamento foi sem dúvida complicado, porque, para além da sensação de impotência e de insegurança que todos nós enquanto sociedade sentíamos, eu tinha acabado de bater com o nariz na porta em algo que tinha sido planeado durante muito tempo e que eu vi a ir por água abaixo. Mais concretamente a tour na Ásia e a celebração dos 10 Anos de carreira de DJ. Após isso seguiu-se um tempo de incerteza com o cancelamento das atuações e só em meados de 2020 é que comecei a trabalhar em projetos e a preparar atuações, como é o exemplo da atuação Retrospetiva em formato vídeo que apresentei em Agosto no Auditório do Ramo Grande, o lançamento do single “Todo Dia” com o Sandro G e o mais recente projeto: Praia Live que contou com o apoio da Câmara da Praia da Vitória. As pessoas em geral têm a ideia que em alturas como esta que surgem grandes obras de arte, mas a verdade é que, para a maioria dos artistas, a inspiração não está lá, não se trata muitas vezes de uma questão de tempo, principalmente para aqueles que têm de se preocupar em como vão viver o dia de amanhã. Felizmente eu, como outros colegas, tenho o privilégio de me dedicar a outros projetos a 100% visto que não estou na estrada entre atuações, mas se a motivação não for a suficiente, de nada adianta o tempo disponível.

 

 AO - Como é que o DJing sobrevive nos Açores?

 

F.S. - Acho que acima de tudo, sobrevive de muita resiliência. Felizmente no meu caso, tenho a oportunidade de atuar mais vezes fora da região do que na região, tendo convites para atuar um pouco por todo o país e algumas datas no estrangeiro, fazendo com que consiga sobreviver do djing. Temos outros exemplos de dj’s que o conseguem fazer disto vida através de atuações em eventos privados e em casamentos, como de dj’s que são residentes em casas de diversão noturna. Sem ser um destes casos, seria muito difícil ser DJ atuando exclusivamente nos Açores nos festivais, nos clubes e nas festas de Verão.

 

AO -Foi em 2020 que surge uma parceria com o artista açoriano Sandro G. Porquê?

 

F.S. - O Sandro sempre foi uma grande inspiração para mim enquanto artista. Sendo eu um consumidor de hip hop desde novo, lembro-me de ouvir as músicas do Sandro em loop em todo o lado e mais tarde, quando me tornei DJ e produtor, via no Sandro um exemplo por também ser açoriano e ter conquistado o seu lugar no meio musical. Os nossos caminhos acabaram por se cruzar nos últimos anos graças a um amigo em comum, o Romeu Bairos, com o qual trocava ideias e beats. O Romeu já era amigo do Sandro há algum tempo e acabou por nos apresentar e daí começou a surgir a ideia de colaborarmos.

 

AO -Como está a agenda para 2021? E para 2022?


F.S. - Incerta, acho que é a palavra mais correta neste momento. Tenho algumas datas reservadas e alguns projetos preparados para quando pudermos voltar à normalidade ou, pelo menos, a uma realidade que nos permita estar fisicamente com o público, mas até lá, eu tal como todos os artistas, técnicos, agentes culturais, estou a aguardar pela possibilidade em voltar ao ativo. No ano passado apresentei no Auditório do Ramo Grande um novo formato de espetáculo de DJ com vídeo para um público sentado que me deu um prazer enorme e que, independentemente do que seja o futuro dos eventos, gostaria de o voltar a apresentar noutras salas da nossa região e do país. 


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