Autor: Rafael Dutra / Rui Jorge Cabral
Lucas Amaral é o mais novo produtor de vinho dos Açores. Hoje tem 22 anos, mas já começara a produzir vinho em 2020, com 19. Apesar da tenra idade, é proprietário da Adega Vitivinícola Lucas Amaral, que conta já com sete vinhos, e tem ainda mais quatro para vir. O açoriano já viu os seus vinhos premiados e no passado mês esteve em artigo da Forbes.
Filho de pais com vinhas, neto de avô que produzia para consumo próprio, Lucas Amaral, natural da Candelária, no Pico, sempre teve uma ligação próxima com o vinho e as vinhas. Desde pequeno ajudava a apanhar uvas, na altura das vindimas.
No entanto, só por volta dos 10 anos, quando o seu pai “fez o primeiro processo de reabilitação das vinhas de currais” é que o jovem começou a “interessar-se mais” por este processo e todo este mundo, que “achava interessante”, explica Lucas Amaral, em entrevista ao Açoriano Oriental.
Por volta dos 14 anos decide que queria fazer disto a sua carreira. “Vi que a vinha cá no Pico tinha dado um grande salto. Era um mercado que oferecia trabalho certo, assim que acabasse de estudar. Foi por aí que decidi fazer disto a minha vida”, afirma.
Com 16 anos Lucas Amaral acaba por ingressar na Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural, em Carvalhais, no distrito de Bragança, onde tirou o curso de técnico vitivinícola. Foi com a intenção de ganhar experiência prática, “saber mais o porquê das coisas”, e de “levar mais bagagem um dia” para a sua carreira. E foi isso mesmo que fez. Durante o curso realizou quatro estágios: dois de vindima e dois de poda. Dois destes na Azores Wine Company, empresa que tem ajudado a dar uma nova vida a este setor no Pico.
Na escola e nos estágios aprofundou o seu conhecimento prático sobre os “diferentes processos que são utilizados em várias regiões. A partir daí acabei por ganhar bagagem para conseguir produzir os meus próprios vinhos, com um pouco de cada lugar, de cada sítio”, realça o produtor de vinho.
Acabou o curso já no Pico em 2020, porque começara a pandemia. Os pais, que tinham à volta de 15 hectares de vinha, numa produção estimada de 20 toneladas para esse ano, não conseguiram escoar as suas uvas, devido à impossibilidade de compra por parte dos produtores de maior escala na ilha.
Por esta razão, o picaroto aproveitou as condicionantes de um ano atípico para dar tangibilidade a algo que sempre quis: produzir os seus vinhos.
“Decidimos montar a nossa própria adega. Os meus pais ajudaram muito na altura, tinham uma adega cá do meu avô. Reconstrui-a toda, fiz as obras necessárias”, salienta o produtor, que inaugurou a Adega Amaral a 15 de agosto de 2020, com ajuda da família, que o apoia na adega, embora toda a parte produtiva seja ele que realiza.
Atualmente conta com sete vinhos no seu reportório, mas ainda vai lançar mais quatro em breve. Além da sua produção, compra uvas a outros produtores. Utiliza diferentes castas, inclusive a Fernão Pires – é o único nos Açores –, de várias freguesias no Pico. E, pretende ainda “plantar mais coisas, diferentes do que se produz cá”, conta Lucas Amaral, reforçando ainda que “tenho muitas castas plantadas hoje em dia com a iniciativa de fazer, mais tarde, vinhos diferentes, que ninguém está à espera. A minha intenção é dinamizar, descobrir e tentar fazer sempre o melhor, com a melhor qualidade possível”.
Vinhos que, pela sua qualidade, têm recebido boas críticas. Ainda este ano, o Esboçopódio de 2020 foi premiado várias vezes. Vinho que foi feito com as primeiras uvas que recebeu na adega quando iniciou o projeto. Já no passado mês de outubro, num artigo da Forbes, os seus vinhos receberam classificações muito positivas. “O reconhecimento torna-se muito gratificante, ver que consigo fazer coisas muito boas, que as pessoas adoram, e isso é uma sensação espetacular”, sustenta.
Com produção estimada de 20 mil garrafas, a Adega Amaral teve este ano a sua melhor produção. Exporta para quase todas as ilhas da Região, Portugal Continental e até para países como a República Checa e Itália. Só não exporta para outros países porque “acaba por faltar vinho para tantas encomendas”, lamenta Lucas Amaral, apesar de realçar que tem aumentado a produção: “preciso de vinho para vender”, conclui.