No adro da Igreja de Nossa Senhora da Esperança, Madre Teresa
d’Anunciada permanece agora com uma expressão de devoção e súplica, mais
próxima do Senhor Santo Cristo dos Milagres e dos seus devotos. E
espera-se que fique também mais próxima do altar.
“Este ano iniciámos
a celebração dos 365 anos de nascimento de madre Teresa e gostaríamos
que até aos 375 anos – uma data mais fixa, e que vai coincidir
sensivelmente com os 500 anos da história da Diocese, o processo de
canonização da madre Teresa já estivesse noutro nível”, afirmou o cónego
Adriano Borges.
“Um dia que chegue a beata, já não estará no adro
da igreja, mas no altar”, diz o reitor do Santuário que apela aos
devotos que rezem muito pela sua beatificação, e peçam “o seu intermédio
para alcançar graças que sejam verdadeiros milagres, milagres que a
Igreja possa considerar e levar a madre Teresa aos patamares do altar”.
A
nova estátua que representa a madre Teresa d’Anunciada em tamanho
natural foi colocada, ontem, no adro, e o bispo de Angra procedeu à sua
bênção ao fim da tarde. “A subida da imagem para o adro é precisamente
para ficar mais perto do coro baixo, onde está o Senhor Santo Cristo dos
Milagres”, explicou o reitor do Santuário. Mas a localização escolhida
pretende também dar mais dignidade à imagem da impulsionadora do culto
ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. “Espero que num lugar mais amplo,
menos escondido, mais digno, haja um maior respeito pela estátua da
madre Teresa”, e que “por outro lado, o espaço onde as pessoas fazem as
suas orações seja um lugar mais bonito, mais próximo do santuário, um
lugar mais sagrado”, explica, admitindo nunca ter considerado como sendo
“o local mais adequado ter a madre Teresa ao lado do banco de Antero”.
A antiga estátua, de maior dimensão e de expressão austera, que estava
ao lado do “banco de Antero de Quental”, e onde o poeta se suicidou, foi
transferida para o jardim do Convento. “Parece-me que sempre foi uma
ideia das pessoas que são devotas da madre Teresa que aquela estátua (de
1983) não era a mais bonita e a melhor forma de apresentar a Madre
Teresa”, afirma o cónego Adriano. Mas, “com todo o respeito que temos
pelo autor do projeto e pelas pessoas que na altura contribuíram para
que aquela estátua fosse feita, decidimos colocá-la dentro do convento
(no jardim), num lugar digno e por onde as pessoas passam todos os
dias”.
Como explica o cónego Adriano Borges, a ideia de criar uma
nova estátua surgiu em 2018, tendo decidido entregar o projeto a Armando
Moreira. “O conceito, a ideia, o esboço e o desenho, o criador, é
Armando Moreira, que teve a preciosa colaboração de Alda Raposo na parte
artesanal da feitura da imagem”, explica.
“Reconhecemos a Armando
Moreira a brilhante ideia que teve, a investigação que fez, o trabalho
moroso de conceção, que é sempre uma parte criativa importante, e depois
também quem pôs em prática, quem usou as suas mãos para moldar a madre
Teresa - a D. Alda Raposo que, com todo o mérito da colaboração que
prestou, ficará com certeza com um lugar na história”, elogia o reitor
do Santuário.
O reitor do Santuário diz também estar agradecido à
Câmara Municipal de Ponta Delgada que assegurou o custo da produção da
estátua (32,5 mil euros).
Armando Moreira explica que, para o
conceito da nova estátua, partiu da ideia da medalha como o “tesouro dos
pobres”. Assim, madre Teresa d’Anunciada tem na sua mão uma pequena
medalhinha e está “num pequeno pedestal” com o formato de três medalhas.
Armando
Moreira acredita que a nova estátua é “muito mais fiel ao que foi a
madre Teresa d’Anunciada”, em comparação com a antiga que tem “uma
densidade muito grande, quase masculina”. Para chegar a conclusões
sobre a sua fisionomia, procurou nos arquivos informação relevante.
“Foi com base no que li, que tem como testemunhas as madres recoletas,
as abadessas, o que estava à volta dela, a partir dos diálogos, dos
acontecimentos que cheguei a algumas conclusões sobre as suas
características físicas”, acreditando que teria 1,60 m, e que seria
magra, “uma vez que jejuava muitas vezes”. Uma pesquisa cujo resultado
colocou em livro e num telefilme realizado por si e que será apresentado
por altura das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Além da
estátua, foi colocada uma instalação representativa de uma medalha do
Santo Cristo, de, de modo a que, “durante a noite, quem percorrer o
Campo de São Francisco, fique com a ideia de que a medalha está suspensa
no adro”, explica Armando Moreira. E há ainda, no local, um suporte
para as velas, e a representação de duas meias coroas de espinhos onde
podem ser depositadas flores.
Convidada por Armando Moreira para, com
base no seu projeto, esculpir a estátua de barro que foi enviada para
uma fundição no continente para ser reproduzida em metal, Alda Raposo
confessa: “dei muitas vezes por mim a trabalhar sozinha com ela, a falar
com ela, e quando me sentia cansada dizia: ‘por amor de Deus
ajudai-me”. Para a ceramista que fez este trabalho de forma graciosa,
foi um gosto trabalhar na estátua da madre Teresa, mas foi também um
desafio, porque nunca tinha feito um trabalho com mais de um metro.
Com
o seu talento para moldar o barro, Alda Raposo explica que procurou
que, na expressão de Madre Teresa “transparecesse a devoção que ela
tinha ao Senhor Santo Cristo. Tentei transmitir no olhar dela o amor, a
devoção e a lealdade que tinha pelo Senhor”, revela a ceramista premiada
que há 40 anos trabalha o barro, e é autora de obras no espaço público,
como o monumento ao pescador em Rabo de Peixe.