Açoriano Oriental
Nova estátua de Madre Teresa assinala 365 anos do nascimento

A nova estátua da madre Teresa d’Anunciada, colocada no adro da Igreja de Nossa Senhora da Esperança, marca o início das celebrações que o reitor pretende que sejam acompanhadas do avanço do processo de beatificação


Autor: Paula Gouveia

No adro da Igreja de Nossa Senhora da Esperança, Madre Teresa d’Anunciada permanece agora com uma expressão de devoção e súplica, mais próxima do Senhor Santo Cristo dos Milagres e dos seus devotos. E espera-se que fique também mais próxima do altar.

“Este ano iniciámos a celebração dos 365 anos de nascimento de madre Teresa e gostaríamos que até aos 375 anos – uma data mais fixa, e que vai coincidir sensivelmente com os 500 anos da história da Diocese, o processo de canonização da madre Teresa já estivesse noutro nível”, afirmou o cónego Adriano Borges.

“Um dia que chegue a beata, já não estará no adro da igreja, mas no altar”, diz o reitor do Santuário que apela aos devotos que rezem muito pela sua beatificação, e peçam “o seu intermédio para alcançar graças que sejam verdadeiros milagres, milagres que a Igreja possa considerar e levar a madre Teresa aos patamares do altar”.

A nova estátua que representa a madre Teresa d’Anunciada em tamanho natural foi colocada, ontem, no adro, e o bispo de Angra procedeu à sua bênção ao fim da tarde. “A subida da imagem para o adro é precisamente para ficar mais perto do coro baixo, onde está o Senhor Santo Cristo dos Milagres”, explicou o reitor do Santuário. Mas a localização escolhida pretende também dar mais dignidade à imagem da impulsionadora do culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. “Espero que num lugar mais amplo, menos escondido, mais digno, haja um maior respeito pela estátua da madre Teresa”, e que “por outro lado, o espaço onde as pessoas fazem as suas orações seja um lugar mais bonito, mais próximo do santuário, um lugar mais sagrado”, explica, admitindo nunca ter considerado como sendo “o local mais adequado ter a madre Teresa ao lado do banco de Antero”.

A antiga estátua, de maior dimensão e de expressão austera, que estava ao lado do “banco de Antero de Quental”, e onde o poeta se suicidou, foi transferida para o jardim do  Convento.  “Parece-me que sempre foi uma ideia das pessoas que são devotas da madre Teresa que aquela estátua (de 1983) não era a mais bonita e a melhor forma de apresentar a Madre Teresa”, afirma o cónego Adriano. Mas, “com todo o respeito que temos pelo autor do projeto e pelas pessoas que na altura contribuíram para que aquela estátua fosse feita, decidimos colocá-la dentro do convento (no jardim), num lugar digno e por onde as pessoas passam todos os dias”.

Como explica o cónego Adriano Borges, a ideia de criar uma nova estátua surgiu em 2018, tendo decidido entregar o projeto a Armando Moreira. “O conceito, a ideia, o esboço e o desenho, o criador, é Armando Moreira, que teve a preciosa colaboração de Alda Raposo na parte artesanal da feitura da imagem”, explica.

“Reconhecemos a Armando Moreira a brilhante ideia que teve, a investigação que fez, o trabalho moroso de conceção, que é sempre uma parte criativa importante, e depois também quem pôs em prática, quem usou as suas mãos para moldar a madre Teresa - a D. Alda Raposo que, com todo o mérito da colaboração que prestou,  ficará com certeza com um lugar na história”, elogia o reitor do Santuário.

O reitor do Santuário diz também estar agradecido à Câmara Municipal de Ponta Delgada que assegurou o custo da produção da estátua (32,5 mil euros).

Armando Moreira explica que, para o conceito da nova estátua, partiu da ideia da medalha como o “tesouro dos pobres”. Assim, madre Teresa d’Anunciada tem na sua mão uma pequena medalhinha e está “num pequeno pedestal” com o formato de três medalhas.

Armando Moreira acredita que a nova estátua é “muito mais fiel ao que foi a madre Teresa d’Anunciada”, em comparação com a antiga  que tem “uma densidade muito grande,  quase masculina”. Para chegar a conclusões sobre a sua fisionomia,  procurou nos arquivos informação relevante. “Foi com base no que li, que tem como testemunhas as madres recoletas, as abadessas, o que estava à volta dela, a partir dos diálogos, dos acontecimentos que cheguei a algumas conclusões sobre as suas características físicas”, acreditando que teria  1,60 m, e que seria magra, “uma vez que jejuava muitas vezes”. Uma pesquisa cujo resultado colocou em livro e num telefilme realizado por si e que será apresentado por altura das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres.

Além da estátua, foi colocada uma instalação representativa de uma medalha do Santo Cristo, de, de modo a que, “durante a noite, quem percorrer o Campo de São Francisco, fique com a ideia de que a medalha está suspensa no adro”, explica Armando Moreira. E há ainda, no local, um suporte para as velas, e a representação de duas meias coroas de espinhos  onde podem ser depositadas flores.

Convidada por Armando Moreira para, com base no seu projeto, esculpir a estátua de barro que foi enviada para uma fundição no continente para ser reproduzida em metal, Alda Raposo confessa: “dei muitas vezes por mim a trabalhar sozinha com ela, a falar com ela, e quando me sentia cansada dizia: ‘por amor de Deus ajudai-me”. Para a ceramista que fez este trabalho de forma graciosa, foi um gosto trabalhar na estátua da madre Teresa, mas foi também um desafio, porque nunca tinha feito um trabalho com mais de um metro.

Com o seu talento para moldar o barro, Alda Raposo explica que procurou que, na expressão de Madre Teresa “transparecesse a devoção que ela tinha ao Senhor Santo Cristo. Tentei transmitir no olhar dela o amor, a devoção e a lealdade que tinha pelo Senhor”, revela a ceramista premiada que há 40 anos trabalha o barro, e é autora de obras no espaço público, como o monumento ao pescador em Rabo de Peixe. 
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