Autor: Susete Rodrigues/AO Online
O Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas tem patente, até dia 16 de janeiro de 2022, a exposição “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”, do artista açoriano João Amado. João Amado, natural de São Miguel, autodidata no universo da arte, é um artista plástico que recorre à técnica da colagem tradicional para compor a estrutura visual e conceptual do seu trabalho.
Em que consiste a exposição “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”?
A exposição é inteiramente à volta do universo da colagem, porque tem sido a génese do meu trabalho. A mostra consiste em duas linhas de trabalho, em que ambas acabam por se assimilar no mesmo trabalho, que passam por abrandar o nosso tempo, o nosso ritmo, na forma como estamos e vivemos no mundo e debruçar um olhar, cada vez mais próximo, sobre como vivemos, nomeadamente no contacto com o espírito, com as raízes naturais e sobretudo porque vivemos num tempo fora do tempo, em termos ecológicos. O conjunto que desenvolvi é uma forma de sensibilização e consciencialização, em que temos que nos preocupar com outras questões e não só com aquelas que mais conforta o nosso dia-a-dia.
Para chegar ao produto final da mostra, demorou muito ou pouco tempo?
É relativo. Existe um trabalho que ninguém vê e que leva mais tempo, ou seja, o trabalho de pesquisa e a seleção de imagens, porque a maior parte do meu trabalho é retirado de livros; tenho de ir à procura do livro certo na livraria ou numa loja de segunda mão, ou então dentro da biblioteca que já tenho. Tenho que andar nessa pesquisa de imagens porque ando sempre à procura de imagens que comuniquem da melhor forma, e nesse sentido o trabalho é mais prolongado.
Que mensagem é que tem a exposição “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”?
A
mensagem principal vai resultar da experiência que cada pessoa irá ter
com a exposição. Como parte da mostra são miniaturas, são trabalhos
muito pequenos face à dimensão da sala, procuro que o observador acabe
por ter uma experiência única com aquilo que está a contemplar e ao fim
ao cabo, transpor para um sentido existencial… A ideia é que as pessoas
consigam abrandar o seu ritmo e coloquem um olhar mais aprofundado
naquilo que experienciam porque, muitas vezes, andamos numa correria.
Por vezes, estamos numa experiência, mas o nosso pensamento está tão
acelerado que nem sempre conseguimos tirar o 'sumo' todo da experiência.
Portanto, é neste sentido que a mostra se debruça até porque o título
da exposição é inspirado no 'Ensaio sobre a Cegueira' de José Saramago
que tinha lido há pouco tempo e, é um pouco isso, andamos 'cegos' no
nosso caminho. Ou seja, vemos, sabemos para onde vamos, mas mesmo assim
não mudamos as nossas atitudes. Por isso a ideia passa, também, por
repensar a nossa posição, sobretudo em relação à ideologia, à
biodiversidade e ao mundo como um organismo comum.
Que trabalho é que tem em perspetiva?
Estou a pensar em trabalhar numa linha completamente diferente. Estou a pensar em trabalhar mais na gravura - isso por curiosidade - mas tendo sempre a colagem como uma base inicial. A ideia é fazer uma fotomontagem através de elementos visuais e depois transpor para outra técnica. Acaba por ser uma necessidade pessoal, o de expandir, não ficar sempre em torno do mesmo método. Além disso, vou estar atento a projetos que possam surgir, tanto cá como no estrangeiro, por forma a dar mais um salto. Considero esta exposição no Arquipélago como o consolidar de um salto, o reflexo de um trabalho que vem sendo desenvolvido há vários anos. E, ter dado esse salto acaba por ser uma motivação para procurar novas realidades.