Autor: Lusa/AO Online
“Encaro sempre o vulcão como se fosse o nosso paciente. Nós tentamos ser os médicos da terra”, disse à agência Lusa a coordenadora das operações do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) na ilha de São Jorge, onde se regista uma crise com milhares sismos de baixa magnitude que não provocaram danos.
Uma equipa do CIVISA iniciou, na manhã desta segunda-feira, mais um dia de medições de gases junto ao campo de futebol na vila das Velas e na zona dos Rosais, um trabalho que está a decorrer no terreno desde 20 de março, no dia seguinte ao sismo mais energético desta crise, que ocorreu às 18h41 de 19 de março, com uma magnitude de 3,3 na escala de Richter.
No dia que estava a fazer as escalas das equipas que vão fazer as medições nos próximos dias, Fátima Viveiros comparou este trabalho à função dos médicos que tentam diagnosticar sintomas nos seus pacientes.
“Nós podemos ter um cancro e algumas das nossas análises estarem boas, depende do nosso organismo dar sinal para umas coisas e não dar sinal para outras. O sistema vulcânico pode estar a dar alguns sinais e outros não”, disse a cientista.
Perante isso, é necessário, assim como fazem os médicos, “repetir as análises e ir acompanhando para ir vendo se há pequenas alterações”, referiu Fátima Viveiros, ao explicar que é esse trabalho de definir um perfil diário das emissões que está a ser desenvolvido na componente dos gases vulcânicos.
Em áreas vulcânicas, o dióxido de carbono e o radão, um gás radioativo, são libertados através dos solos, um fenómeno que não é visível a olho nu.
“Temos de ir com equipamento que mede, neste caso, a quantidade de dióxido de carbono que é libertada do solo para a atmosfera, assim como a concentração de gases mesmo dentro dos solos, nas suas primeiras camadas”, explicou Fátima Viveiros.
Além do dióxido de carbono e do sulfureto de hidrogénio, vai passar a ser medido o gás radão, através de um equipamento que chega hoje a São Jorge, ilha que não tem, ao contrário de outras do arquipélago açoriano, fumarolas e nascentes termais, que produzem emissões visíveis associadas aos sistemas vulcânicos.
Uma dificuldade que é, no entanto, ultrapassada pelo trabalho feito em anos anteriores pelos cientistas e que está, nesta crise, a mostrar-se bastante útil.
“Nós temos um mapa destas emissões de 2003 e 2004. Portanto, há um mapa antigo, que permite comparar os resultados que estamos a obter com os resultados da campanha de 2003 e 2004, o que é excelente, porque permite ter referências de dados quando o sistema estava em repouso”, adiantou Fátima Viveiros.
Além disso, segundo a coordenadora das operações do CIVISA, os dados dos dias iniciais da crise sismovulcânica estão a ser utilizadas para repetir um “perfil estabelecido de 18 pontos” que estão a ser medidos ao longo da faixa de cerca de 20 quilómetros dos epicentros dos sismos para perceber se “há um aumento de gás em profundidade associado a um aumento de magma”.
“Até ao momento não tivemos alterações significativas na quantidade de gases que medimos”, assegurou Fátima Viveiros, ao manifestar precaução, uma vez que se está perante um “sistema vulcânico enorme”, que não permite “medir cada centímetro quadrado” dessa faixa de 20 quilómetros.
A crise sismovulcânica está a ocorrer na zona central da ilha de São Jorge, ao longo de uma entre Velas e Fajã do Ouvidor.
A
ilha de São Jorge contabilizou mais de 14 mil sismos, dos quais mais de
200 sentidos pela população, desde o início da crise sísmica, a 19 de
março, segundo os dados oficiais mais recentes.