Açoriano Oriental
Médica dedica-se a valorizar o barro de Santa Maria

Tânia Bairos, médica e artesã, encontrou na olaria uma forma de honrar a herança familiar e o barro de Santa Maria. Em homenagem ao bisavô oleiro Jacinto Travassos, criou a linha de peças “Caieu”


Autor: Carlota Pimentel

Tânia Bairos cresceu num ambiente onde a memória da olaria estava presente, através da figura do bisavô, um conhecido oleiro da ilha de Santa Maria. Mas foi apenas em 2020, ao começar a trabalhar com o barro, que a ligação à olaria se tornou mais evidente.

“Assim que toquei no barro, percebi que era algo que não conseguiria deixar de fazer”, afirma Tânia Bairos, em entrevista ao Açoriano Oriental, acrescentando que “percebi que me ajudava imenso a gerir o meu dia a dia, questões relacionadas com a profissão, e situações pessoais e familiares também”.

A experiência com o barro acabou por ganhar um papel ainda mais relevante quando Tânia Bairos teve que fazer uma pausa na carreira médica devido a um burnout. A olaria tornou-se, assim, num refúgio e numa forma de recuperação.

“Procurei recuperar e percebi que o barro tinha ainda mais peso na minha vida (...) Foi muito positivo este impacto que a olaria teve em mim”, realça a médica de família.

Em homenagem ao bisavô Jacinto Travassos, conhecido como “Jacinto Caieu”, Tânia Bairos criou a linha “Caieu”, composta por peças como vasos e jarras. “Esta linha foi concebida exatamente devido a esta memória familiar, mas também coletiva”, conta.

Tânia Bairos recorda que cresceu numa época em que o artesanato não tinha a valorização de hoje, o que influenciou a forma como encarava a profissão do bisavô.

“Havia este conhecimento da profissão do meu bisavô materno, no entanto, não tinha a plena consciência de que esta arte tinha tido tanto impacto na nossa ilha, nem tanto valor a nível pessoal e familiar”, admite.

A médica e artesã faz parte do SÓ atelier, um espaço que partilha com outras artesãs, localizado num edifício icónico de Vila do Porto, “onde foram antigamente os chamados armazéns Lisboa”, “com uma energia muito positiva”.

Este atelier visa dar visibilidade ao trabalho artesanal que é feito na ilha de Santa Maria. “Somos quatro amigas e quatro artesãs (...) Conseguimos abordar várias áreas, mas também trabalhar em conjunto, no sentido de dinamizar a área cultural da ilha, apoiando os artistas e os artesãos locais”, explica.

A artesã destaca a importância de resgatar e valorizar o barro de Santa Maria, reconhecido pela sua elevada qualidade.

“Santa Maria foi durante muito tempo conhecida pela qualidade do seu barro. E tivemos, durante muitos anos, produção não só de cerâmica, mas especificamente da telha e dos tijolos. Exportávamos barro para todas as ilhas. Era um barro que está documentado como sendo o melhor da Região. Tem uma qualidade superior”, salienta Tânia Bairos, lamentando, no entanto, que não esteja a ser utilizado de forma regular em Santa Maria, o que considera “uma pena enorme”.

No entender de Tânia Bairos, há que “começar a sensibilizar não só os artistas locais, mas a comunidade em geral para o valor desta matéria prima da nossa ilha, que tem uma qualidade excecional”. 

O objetivo da artesã “é trabalhar diariamente com o nosso barro”, dando uma “perspetiva nova e  um novo design às peças, embora sempre baseada no que era feito antigamente”.

E exemplifica: “Uma das linhas que tenho, tem uma forma semelhante às nossas salgas – peças utilitárias onde colocávamos os alimentos para os manter frescos quando não existia a refrigeração”.

Tânia Bairos defende que “devemos olhar para aquilo que é endógeno e cultural, procurando de que forma podemos continuar e difundir esta herança cultural, que é tão rica”.

A artesã revela que, em conjunto com o Museu de Santa Maria, está planeada uma exposição dedicada ao barro de Santa Maria, prevista para o final do ano.

Olhando para o futuro, Tânia Bairos pretende voltar a exercer medicina, conciliando essa vocação com a olaria - as suas grandes paixões.

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