Autor: AO Online/ Lusa
"Foi um discurso muito importante, porque o Presidente Xi [Jinping] respondeu a muitos daqueles que criticaram a China pela iniciativa 'Uma Faixa, Uma Rota'", afirmou Rebelo de Sousa, em entrevista à televisão estatal chinesa CGTN.
Bancos e outras instituições da China estão a conceder empréstimos para projetos lançados no âmbito daquele gigantesco plano de infraestruturas.
A visão geoeconómica da China inclui uma malha ferroviária e autoestradas a ligar a região oeste do país à Europa e Oceano Índico, cruzando Rússia e Ásia Central, e uma rede de portos em África e no Mediterrâneo, que reforçarão as ligações marítimas das prósperas cidades do litoral chinês.
Críticos apontam para um aumento problemático do endividamento, que em alguns casos coloca os países aderentes numa situação financeira insustentável, permitindo a Pequim avançar com as suas ambições geopolíticas.
O Presidente da República disse ter "apreciado muito" a intervenção de Xi Jinping, no segundo dia do Fórum "Uma Faixa, Uma Rota", que se realiza em Pequim, por ter revelado "concordância" nos princípios e valores defendidos pela União Europeia.
"Nós queremos comércio justo, respeito pelas regras e pelo direito internacional e pelas regras da Organização Mundial do Comércio. Não queremos protecionismo, queremos um desenvolvimento mais sustentável e energia limpa e verde", afirmou, numa entrevista conduzida pela jornalista chinesa Liu Xin.
Portugal é, até à data, um dos poucos países da Europa ocidental a apoiar formalmente o projeto.
As autoridades portuguesas querem incluir uma rota atlântica no projeto chinês, o que permitiria ao porto de Sines ligar as rotas do Extremo Oriente ao oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá.
França e Alemanha recusaram assinar memorandos de entendimento com a China sobre a iniciativa, refletindo preocupações com questões ambientais, endividamento insustentável dos países aderentes e a opacidade dos contratos, que estão fechados a licitações de instituições de países terceiros.
Na intervenção de hoje, Xi Jinping pediu aos participantes no fórum para refletirem e alcançarem um consenso que garanta a "qualidade, resistência e sustentabilidade" dos projetos.
"Sob o atual contexto global, marcado por uma situação económica complexa, crescente instabilidade e incerteza e falta de dinamismo, o fortalecimento da cooperação internacional para maior interconetividade torna-se mais significativo", disse.
Na sexta-feira, o presidente do Banco do Povo Chinês (banco central do país), Yi Gang, afirmou que a China vai trabalhar para resolver a capacidade dos Estados em cumprir os seus empréstimos.
"Precisamos de avaliar objetivamente a questão da dívida dos países em desenvolvimento", disse Yi, perante uma plateia que incluiu a diretora do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde.
Os novos critérios de financiamento, definidos pelo ministério chinês das finanças e pelo banco central, destinam-se a atrair parceiros de investimento estrangeiro, visando aliviar as preocupações quanto à capacidade dos países aderentes cumprirem com as suas dívidas.
A China deverá agora levar em conta a dívida total e a capacidade de financiamento na moeda local do respetivo país e tornar públicos os detalhes dos contratos.
Lagarde considerou estas mudanças um "passo bem-vindo".
Nas vésperas do fórum, Pequim resolveu algumas das disputas relacionadas projetos, que ameaçavam prejudicar a reputação da iniciativa.
A Malásia negociou uma redução equivalente a 5,4 mil milhões de dólares para a construção de uma linha ferroviária na costa leste, de 668 quilómetros de comprimento, que liga a costa ocidental do país aos estados rurais do oeste.
A Etiópia, que tem tido dificuldades em pagar um empréstimo avaliado em 4 mil milhões de dólares, contraído para construir uma ligação ferroviária entre Adis Abeba e o Djibuti, entrou também num processo de reestruturação da dívida.
No Sri Lanka, um porto de águas profundas construído por uma empresa estatal chinesa, numa localização estratégica no Índico, acabou por ser um gasto incomportável para o país, que teve de entregar a concessão da infraestrutura e dos terrenos próximos à China, por um período de 99 anos.