Autor: Lusa/AO Online
“Partilho a profunda frustração e deceção das meninas e estudantes do ensino secundário afegão que, após seis meses de espera, foram impedidas de voltar à escola hoje”, disse a alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, em comunicado.
“A incapacidade das autoridades de facto de cumprir o seu compromisso - apesar das repetidas promessas a favor da educação das meninas, inclusive durante a minha visita a Cabul, há duas semanas - é profundamente prejudicial ao Afeganistão”, criticou.
No final de agosto, Bachelet avisou os talibãs que o tratamento das mulheres constitui uma “linha vermelha” na aceitação das autoridades afegãs, tendo pedido hoje “que seja respeitado o direito à educação de todas as meninas e abertas as escolas a todos os alunos sem discriminação ou atrasos adicionais”.
“A negação do direito à educação viola os direitos humanos de mulheres e meninas” e “expõe-nas mais à violência, pobreza e exploração”, acusou a alta-comissária da ONU.
“Esta situação é muito preocupante numa altura em que o país precisa desesperadamente de ultrapassar múltiplas crises”, sublinhou, insistindo que “é contraproducente e injusto privar metade da população afegã de qualquer poder”.
Michele Bachelet também avisou que esta discriminação é prejudicial para as perspetivas de recuperação e desenvolvimento do país.
O anúncio do fecho das escolas às meninas afegãs foi feito no dia de reabertura das aulas, depois das férias de inverno.
“As escolas para as raparigas adolescentes entre o 7.º e 12.º anos (dos 12 aos 18 anos de idade) vão continuar fechadas”, anunciou hoje o porta-voz adjunto do Governo dos talibãs, Inamullag Samangani.
O Ministério da Educação afegão tinha prometido reiniciar as aulas para raparigas em várias províncias, incluindo em Cabul, mas avisou que “precisava de tempo para garantir que as adolescentes eram separadas dos rapazes e que as escolas funcionavam de acordo com os princípios islâmicos”.
A comunidade internacional fez do direito à educação para todos uma condição indispensável para continuar as negociações para ajuda e reconhecimento do regime fundamentalista islâmico.
Já em janeiro, a organização humanitária Human Rights Watch (HRW) concluía que a subida ao poder dos talibãs estava a ter um impacto especialmente negativo na vida e nos direitos das mulheres afegãs.
Logo “nas semanas que se seguiram à tomada do poder, as autoridades talibãs anunciaram uma série de políticas e regulamentos que reverteram os direitos das mulheres e das meninas”, incluindo o acesso ao emprego, à educação e à reunião pacífica, referia na altura a organização.
Mesmo “quando as mulheres são autorizadas a voltar ao trabalho, enfrentam exigentes regras de segregação de género e, desde setembro, estão sujeitas ao novo Ministério para a Propagação da Virtude e Prevenção de Vícios, que substituiu e eliminou o Ministério dos Assuntos da Mulher.
O novo ministério foi encarregue de “fazer cumprir as regras de comportamento dos cidadãos, incluindo a forma como as mulheres se vestem e a proibição de saírem de casa desacompanhadas”, denunciou a HRW.