Autor: Rafael Dutra/Paula Gouveia
O Estádio Municipal da Madalena foi o palco de uma tentativa para entrar no Guinness World Records. Centenas e centenas de açorianos reuniram-se para dançar a chamarrita e outras tantas assistiram a esta iniciativa. O desejo era comum: conquistar novamente o recorde e trazê-lo de volta à Região; bastava ultrapassar o número de 747 pessoas. E, assim o foi.
No Pico, a 23 de julho de 2015, 544 bailarinos bateram um recorde do Guinness com a ‘Maior Roda de Chamarrita do Mundo’. Entretanto foi batido por várias vezes, inclusive pelo Centro Cultural Português do Mississauga, onde uma comunidade portuguesa em Mississauga, no Canadá, a 17 de setembro de 2022 reuniu 747 pessoas para dançar o ‘Vira Geral’.
O recorde foi mais uma vez superado e regressou no domingo aos Açores, agora por 812 bailarinos das várias ilhas, precisamente oito anos depois do recorde obtido em 2015.
Centenas de pessoas interligadas em enormes rodas juntaram-se nesta ocasião e dançaram a chamarrita típica do Pico. Foram cinco minutos de dança, energia frenética e convívio, seguidos de trinta longos minutos de espera, até que o juiz Pravin Patel do Guinness World Records anunciou o número total de participantes, que batera os do recorde anterior, o que motivou uma grande celebração, culminada com a entrega do certificado do recorde de “Largest Portuguese folk dance”.
O evento inseriu-se na programação das Festas da Madalena, visando promover uma das mais intrínsecas tradições locais.
O presidente da Câmara Municipal da Madalena, José António Soares, contou ao Açoriano Oriental que a motivação para bater este recorde era de todos os açorianos.
“Como tínhamos dado palco à primeira vez achámos que seria bom que todos os açorianos se envolvessem numa causa comum e que faz parte da nossa cultura”, explica José António Soares, adiantando que, “a chamarrita acaba por ser transversal a toda a nossa região, aqueles que estão na diáspora e todos aqueles que nos conhecem, que experienciaram esta questão da chamarrita e de bailar a chamarrita. Todos querem saber bailar e dar este sinal da nossa cultura e deste povo”, realça.
O autarca louva a importância deste tipo de iniciativas que promovem a cultura tradicional dos Açores.
“Bater este recorde é um recorde dos Açores, da diáspora açoriana. Marcar este recorde foi mais um momento muito especial da nossa vida coletiva. E por isso, ontem, num espaço dos Açores, os Açores estiveram todos representados e conseguiram escrever o seu nome no Guinness. É simbólico, é uma marca interessante para a nossa cultura popular”, reforça José António Soares.
O secretário regional das Finanças foi um dos 812 que bateram o recorde do Guinness. Na ocasião, em declarações à TSF, Duarte Freitas destacou a importância cultural e social da chamarrita, que pode se encarada como um elixir de energia a quem a pratica.
“É esta dança que me ajuda a melhor gerir as finanças, ao fim de semana, nos bailes de roda que se fazem nestas ilhas, onde as tradições estão muito vivas. Isto é muito importante não só para a socialização, mas também para quem tem responsabilidades no dia a dia, seja quais forem as funções, para poderem limpar a cabeça e recomeçar na segunda-feira cheios de energia”, diz.
O evento ficou marcado pela participação de açorianos de todas as ilhas, até do Corvo, de onde é natural Vera Câmara. A açoriana adora dançar chamarrita e quando soube que o evento ia acontecer deslocou-se ao Pico. “Estava no Faial, fui experimentar e adorei”, diz Vera Câmara, acrescentando que “uma das coisas mais interessantes é que tinha muita gente do Pico, São Jorge, Faial, mas depois acabei no meio da roda e apercebi-me que havia pessoas de todo o lado, dos Açores e do continente”.
Bailar a chamarrita não é novo para Bruno Costa, pois pertence a um grupo folclórico. No entanto, considera a experiência “um espetáculo, uma coisa que fica gravada para o resto da história”, e que é pertinente para a “história e para manter as nossas tradições”.
Já Sérgio Gonçalves, da Madalena, foi um dos que participou em ambos os recordes alcançados. “Foi magnífico participar e sentir todo aquele calor humano, dedicação, sentido de responsabilidade cultural e partilha de conhecimentos deste baile maior, que é marca registada da cultura açoriana”, afirma.
Por seu lado, Graça Borges, de Santa Luzia, não pôde estar no recorde obtido em 2015, por questões de saúde. Mas, este ano, nem a possibilidade de não ter par na dança a impediu de dançar. “Decidi participar e foi muito emotivo ver tanta gente a participar para conseguirmos chegar ao Guinness”, conta.