Açoriano Oriental
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Luís Miguel Dâmaso: “O crescimento turístico ajudou a produção e fez com que se investisse novamente na cultura do ananás”

A Boa Fruta, na Fajã de Baixo, é uma empresa familiar dedicada à distribuição de frutas açorianas e produtora de Ananás dos Açores/São Miguel DOP.

Luís Miguel Dâmaso: “O crescimento turístico ajudou a produção e fez com que se investisse novamente na cultura do ananás”

Autor: Made in Açores

Como começa a sua história na Boa Fruta?
Somos quatro irmãos, descendentes do Humberto Silva e, após o seu falecimento, continuamos a sua atividade e formamos a empresa Boa Fruta. Posso dizer que, de certa maneira, sempre estive cá.
A minha primeira interação com o negócio é de alguém que sempre esteve em contacto com a produção de ananás, dado o contexto familiar. A partir de 2015, com a Boa Fruta, é que assumimos as rédeas da produção frutícola, mas o grupo tem mais áreas.

A época coincide com a de liberalização do espaço aéreo que deu início a uma rota de crescimento no turismo na região. O que sentem que mudou?
Quando constituímos a empresa, a cooperativa que existia já não estava nas melhores condições e a produção estava em declínio. A realidade é que sentimos um aumento da procura, fruto da maior quantidade de pessoas que começaram a entrar nos Açores e a quererem saber mais acerca do sítio que visitam e da sua cultura. Sendo o ananás um produto emblemático da região, é sempre muito procurado. Esse crescimento turístico veio ajudar imenso a produção e fez com que se investisse novamente na cultura do ananás.

Com que outros produtos trabalham, para além do ananás?
Comercializamos outras frutas produzidas na ilha, como a banana, maracujá e pêra abacate. Desenvolvemos alguns contactos no exterior que também nos procuram e têm conhecimento do que fazemos em termos de produção. Percebem que somos uma região mais pequena e que, talvez por isso mesmo, temos mais cuidado naquilo que produzimos. Para além das outras frutas, desde 2019 que desenvolvemos uma marca de subprodutos derivados do ananás. O licor e a compota são os mais típicos, mas também já temos produtos tão diversos como a cerveja, a vodka e o vinagre. O objetivo era gerar mais valor em torno da produção, tendo em conta o mercado global. Hoje em dia, se queremos estar ativos, temos de ser versáteis e arranjar várias formas de nos apresentarmos.

Para si, qual foi o momento mais desafiante ao longo destes anos na empresa?
Houve uma retração grande na altura da epidemia, acho que todos passamos por isso. Como produtores, houve uma fase em que nos tivemos de virar muito para o mercado local porque as exportações eram impossíveis. Por outro lado, surgiram novas oportunidades.

E no presente, quais são os principais desafios que a empresa tem em mãos?
Para ser honesto, neste momento tenho alguma dificuldade em identificar grandes problemas. Tendo em conta o desenvolvimento dos últimos anos, não posso dizer que tenhamos sentido grandes dificuldades. Há as coisas que todos sentem, como o aumento dos preços. No nosso caso, como os custos de produção têm aumentado, os preços acabam também por aumentar, mas a procura não diminui, bem pelo contrário. Chega a ser tanta que não conseguimos aumentar a produção a ritmo suficiente para conseguir dar resposta. Por isso, pensar que o nosso maior problema é o aumento de procura é um contrassenso. Não deixa de gerar alguns desafios, mas estamos cá para isso.

Apesar de a produção ser feita em estufas, as condições climatéricas têm alguma influência?
As alterações climáticas influenciam muito o desenvolvimento da produção. O que programamos acaba por nem sempre bater certo por uma série de factores que não conseguimos controlar. A variação de luz, por exemplo, é algo que tem muito influência. De resto, em termos de sustentabilidade, a nossa produção é orgânica. 90% dos factores de produção são locais. O substrato que usamos, por exemplo, é de flora endógena. Tudo isto implica custos acrescidos. Por isso sim, é uma produção sustentável mas também é mais cara.

Qual sente ser a sua grande missão na empresa?
É tentar levar ao maior número de pessoas um produto que nós acreditamos ser singular e apresentar o máximo de qualidade possível deste mesmo produto. Esforçamo-nos muito para o desenvolver e temos muito orgulho nisso. Como parte de uma sociedade, temos de produzir, e este é um produto que eu sinto que vale mesmo a pena.

Se pudesse voltar atrás e dar um conselho a si próprio quando começou esta aventura, que conselho daria?
Não faria nada diferente. Se soubéssemos como seria o futuro, talvez tomássemos decisões diferentes, mas mesmo que voltássemos atrás e alterássemos alguma coisa, iriam surgir coisas diferentes como consequência. Mas se pudesse dar um conselho a alguém que esteja na mesma posição em que eu estive, diria para tentar precaver-se ao máximo para lidar com as adversidades mas sempre com os olhos postos no futuro. Faz parte do meu modo de ser, não ficar a olhar para trás.

E olhando em frente, quais os planos para o futuro?
Neste momento, é consolidar os processos que temos. Aumentar a produção será sempre difícil, por isso acho que o caminho para nós e, aliás, para toda a região, será conseguirmos diversificar e divulgar o que fazemos. Atualmente, estamos a ter um reconhecimento muito superior ao que temos tido nas últimas décadas a nível internacional. Temos de aproveitar essa abertura ao mundo para tentarmos tirar o máximo valor possível disso.

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