Açoriano Oriental
Zuraida Soares:
Líder do BE/Açores evoca vida dedicada à liberdade

O atual líder do Bloco de Esquerda dos Açores, António Lima, evocou hoje a memória de Zuraida Soares, primeira deputada regional do partido, lembrando a sua vida dedicada à liberdade e à democracia.

Líder do BE/Açores evoca vida dedicada à liberdade

Autor: AO Online/ Lusa

"Esteve sempre na defesa empenhada da terra que tornou sua, os Açores. Pugnou contra o conservadorismo, pela transparência da coisa pública, pelo desenvolvimento assente no conhecimento e sempre, mas sempre, pela cultura, como pilar de uma melhor sociedade”, disse António Lima, numa nota de pesar divulgada pelo BE/Açores.

"Esta é uma súmula da tua vida pública, dedicada à liberdade, à democracia, ao combate a todas as formas de discriminação e injustiça. Uma vida, como dizias, ‘vivida e gozada’", acrescentou, dirigindo-se simbolicamente a Zuraida.

A antiga coordenadora e primeira deputada do Bloco de Esquerda nos Açores, Zuraida Soares, morreu hoje aos 67 anos, vítima de doença prolongada, informou o partido.

Zuraida Soares foi coordenadora do BE/Açores entre 2004 e 2014, e membro da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda até à X Convenção Nacional, em 2016.

A bloquista foi eleita deputada regional, pela primeira vez, em 19 de outubro de 2008, tendo sido reeleita em 14 de outubro de 2012 e 16 de outubro de 2016.

António Lima, que sucedeu a Zuraida Soares na liderança da estrutura bloquista, lembrou que a atividade cívica e política de Zuraida começou cedo.

"Na universidade empenha-se na luta antifascista, o que lhe cria dissabores com a PIDE. Já em Braga, onde viveu parte importante da sua vida, é fundadora da Associação Arco-Iris – a que viria a presidir -, cuja finalidade central era o combate aos desmandos urbanísticos provocados pelo urbanismo selvagem. Neste processo aproxima-se da política partidária e adere à Política XXI (um dos partidos fundadores do Bloco de Esquerda)", assinala.

A nota de pesar do líder do BE/Açores, que assina em nome de toda a estrutura, lembra que na região a "atividade política e cívica" de Zuraida "manteve-se de forma contundente".

Em 1998, "desafiando o conservadorismo reinante", foi "um dos rostos centrais" na "luta pela despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, no referendo desse ano".

"Este facto, em simultâneo com outras tomadas de posição públicas, levam a que instituição universitária coloque em causa a sua continuidade como professora na nossa academia", prossegue o texto.

"Esta circunstância, a par da destruição de um carro, sua pertença, ou o facto de ter sido brutalmente agredida numa noite à porta de sua casa – o que a levou para a urgência hospitalar – não a remeteu ao silêncio, nem a impediu de continuar a sua luta", continua ainda António Lima.

Depois, dirigindo-se mais uma vez a Zuraida, concretiza: "Vamos sentir saudades da tua gargalhada, da tua alegria de viver, da tua força – onde o impossível não existia – e mesmo da tua obstinação para que tudo estivesse pronto ontem. Vamos seguir o teu exemplo".

Zuraida Soares havia deixado o parlamento dos Açores em 20 de setembro de 2018, tendo na ocasião sido aplaudida de pé pelas demais bancadas.

Nascida em 26 de julho de 1952, Zuraida Soares era licenciada em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa, tendo-se formado posteriormente em Ciências da Educação.

A bloquista tinha também uma pós-graduação em Filosofia Contemporânea e Filosofia Medieval.

Na página Esquerda.net, o Bloco lembra que Zuraida se destacou como defensora dos direitos sociais, dos direitos das mulheres, da autonomia dos Açores e era uma lutadora "por uma sociedade e por uma terra sem amos”.

Na despedida do parlamento açoriano, em 2018, afirmou: "Não há nada que dê mais colorido e força à vida do que lutar por uma sociedade mais digna, mais democrática, mais humana, mais tolerante, mais decente, e sobretudo, no fim, por uma sociedade e por uma terra sem amos".


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