Autor: Tatiana Ourique/ Açoriano Oriental
Numa altura em que o São João e muitas outras festas populares terceirenses são canceladas as costureiras veem o seu volume de trabalho reduzido de forma drástica e preocupante. Mas essa ansiedade não impediu que as costureiras e amantes de costura se juntassem numa missão solidária para oferecer kits de proteção individual aos profissionais de saúde do HSEIT que combatem na dianteira a pandemia mundial do Covid-19.
A iniciativa partiu da empresa familiar Modelina Tecidos, formada há 33 anos na Praia da Vitória por Roberto Toste, Delmina Aguiar e Clotilde Fagundes e que atualmente exporta para diversas ilhas açorianas.
O Açoriano Oriental conversou com Miriam Toste, de 28 anos, filha de Roberto e Delmina. A jovem praiense cresceu entre rolos de tecido e hoje dedica também a vida ao negócio dos pais e teve sempre gosto por trabalhos manuais e de costura. “No início realizava trabalhos da minha autoria para rainhas de festas populares, marchas, bailinhos e danças. No entanto, com o aumento do trabalho na empresa e com o meu maior envolvimento na gerência, acabei por deixar essa área para trás apesar de ainda gostar muito de acompanhar o processo de criação de vestuário e acessórios de cada grupo”.
Depois do fecho das duas lojas da empresa nas duas cidades da ilha “tivemos que ficar de quarentena e quisemos ajudar os profissionais de saúde ao mesmo tempo que ocupávamos os nossos dias”.
A iniciativa é solidária, de sensibilização e em simultâneo pretende divulgar a marca Modelina Tecidos: “Foi uma maneira de sensibilizar as pessoas, através do Facebook, a ficarem em casa e perceberem a realidade e a necessidade do hospital. É também uma forma de promover a página da loja e o trabalho que fazemos nesta quarentena”.
O contacto com o Hospital da ilha Terceira surge, estranhamente, através de uma intermediária no continente: “Soubemos através de uma prima que vive no Porto- e que á distância também faz parte deste negocio familiar- e que tem colegas médicas na ilha Terceira. Conseguimos o contacto com a pessoa responsável por este equipamento e pusemos mãos á obra”.
O Hospital já tinha uma quantidade considerável de TNT (tecido não tecido) armazenado para a produção dos equipamentos e Miriam achou que devia pedir ajuda: “decidi falar com uma cliente que também ajudava nestas causas para se juntar a mim e depois foram-se juntando mais pessoas”
Mas foi a publicação no Facebook que os contactos foram em massa: “surgiram imensas mensagens e telefonemas… Até à data contamos com a ajuda de 35 pessoas de toda a ilha Terceira”.
Estão a ser confecionadas cogulas e cobre botas com o material fornecido pelo HSEIT, com gramagem especifica para esta funcionalidade e em breve deverão chegar mais 500 metros de TNT doados por 3 instituições – a Academia do Bacalhau da Ilha Terceira, Associação a Fraternidade que nos Une-FraterUne e a Casa do Povo de São Bartolomeu- que me contactaram após a publicação no Facebook. “O plano é preparar o material em forma de kits, com moldes e indicações, para entregar a cada costureira de forma a que todos os equipamentos sejam produzidos de forma idêntica”, refere Miriam Toste.
Até à data, já foram entregues ao HSEIT cerca de 230 conjuntos (1 cogula e 1 par de cobre botas) e o grupo de voluntárias espera totalizar cerca de 500 conjuntos.
Fotos: FraterUne e Modelina Tecidos