Autor: Lusa/AO Online
O arqueólogo municipal Diogo Teixeira Dias disse à agência Lusa que, a partir de sexta-feira, este município da ilha de São Miguel disponibiliza uma visita virtual, tendo como base o modelo 3D do atual estado do forte, que permitirá perceber como era aquele espaço na época em que acolheu o abrigo de metralhadora.
“Temos um produto visual daquilo que aquele espaço era, mas que já não se pode ver porque, fisicamente, já não existe. Quer dizer, existe uma parte, ainda temos lá a seteira, o buraco da posição de metralhadora ligeira, mas tudo o resto já desapareceu porque era de material perecível, era de madeira, era de terra”, explicou.
Segundo o responsável, com o estudo realizado em 2024, os arqueólogos do gabinete municipal de arqueologia conseguiram identificar alguns dos vestígios no terreno e recorreram a registos planimétricos para criarem o “produto visual” que passa a estar disponível em https://skfb.ly/oUXPU.
O resultado final do projeto é um instrumento digital apelativo, que “possibilita que as pessoas entendam aquilo que ali está”, pois possibilita-se a visualização de recriações e de reconstruções virtuais.
“Também iremos fazer brevemente uma reconstrução virtual deste mesmo sítio, mas com uma escala de evidência histórico arqueológica para que haja, digamos, uma tangibilidade científica do processo, ou seja, para que as pessoas, com auxílio de uma escala de cores possam perceber o quão fiel é este modelo e em que dados nós nos baseámos para criar cada uma destas peças. Porque, recordo, a base deste tipo de ilustrações é uma base científica e não meramente uma base criativa”, adiantou Diogo Teixeira Dias.
A recriação 3D contou com o apoio de instituições museológicas da Rede de Museus e Coleções Visitáveis dos Açores, que Vila Franca do Campo integra, através do seu Museu Municipal.
Colaboraram cientificamente com o projeto o Museu de Angra do Heroísmo - Núcleo de História Militar Batista de Lima (que detém coleções de armamento e fardamento de referência internacional), o Museu Militar dos Açores (que cedeu planimetria da posição de metralhadora, datada de 27 de outubro de 1941) e o especialista em história militar José Manuel Salgado Martins.
Em agosto de 2024, a autarquia de Vila Franca do Campo realizou escavações no forte do Tagarete, codirigidas pelos arqueólogos Diogo Teixeira Dias e Daniela Cabral, que revelaram a existência de uma nova configuração do abrigo de metralhadora ligeira da Segunda Guerra Mundial, que difere da documentação histórica.
“Nós já tínhamos uma suspeita de que num forte do século XVII, que é o forte do Tagarete, iríamos encontrar uma posição de metralhadora, um abrigo de metralhadora ligeira da Segunda Guerra Mundial, datado de 1941. Temos o seu desenho, a sua planta [e] tínhamos, inclusive, um vestígio à mostra. Então optámos por pô-la a descoberto, para a mostrar às pessoas, mas também para perceber quais as dissonâncias que havia com aquilo que tínhamos na documentação escrita”, afirmou, na altura, Diogo Teixeira Dias à Lusa.
As escavações confirmaram as suspeitas em relação ao equipamento defensivo da Segunda Guerra Mundial: “Já tínhamos feito alguns ensaios e tínhamos percebido que aquilo que tínhamos no terreno não era exatamente igual àquilo que temos na documentação histórica. E, de facto, foi aquilo que encontrámos”.
Os arqueólogos utilizaram tecnologia de ponta, tendo efetuado o registo de todo o processo de escavação através de fotogrametria digital, ‘laser scanner’ e modulação 3D.
O forte do Tagarete, também conhecido como forte d’Areia e do Baixio, foi construído para defender os principais areais de desembarque em Vila Franca do Campo e o ancoradouro do ilhéu.