Açoriano Oriental
Exoplaneta rochoso com atmosfera detetado na "vizinhança" do Sistema Solar
Uma equipa internacional, que integra o investigador Nuno Cardoso Santos, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), Porto, anunciou na revista Nature a descoberta do exoplaneta GJ 1132b, que os investigadores julgam ser semelhante a Vénus.

Autor: Lusa/AO online

 

O planeta rochoso com atmosfera foi detetado na “vizinhança” do Sistema Solar, a 39,14 anos-luz de distância.

Um exoplaneta é um planeta que orbita uma estrela que não seja o Sol e, desta forma, pertence a um sistema planetário distinto do nosso.

De acordo com os investigadores, o planeta GJ 1132b recebe 19 vezes mais radiação da sua estrela que a Terra recebe do Sol, mas a estrela GJ 1132 é uma anã vermelha (também designada anã M), com 20% do tamanho do Sol, e por isso calcula-se que a temperatura do planeta estará apenas entre 135 graus Celsius (C) e 305º C. Esta temperatura é muito mais baixa do que a de qualquer outro exoplaneta rochoso conhecido.

“Apesar de a temperatura ser demasiado elevada para que exista água líquida no planeta, permite ainda a presença de uma atmosfera. Devido à sua proximidade, se existir uma atmosfera, será possível para telescópios atuais e da próxima geração (como o telescópio espacial James Webb, ou o E-ELT do ESO), observarem e caracterizarem a atmosfera deste planeta”, salienta a equipa.

Desta forma “será possível saber a influência que as forças de maré e a intensa atividade estelar das anãs vermelhas têm sobre a evolução de atmosferas do tipo terrestre, algo que terá impacto a longo prazo na procura de vida em planetas que orbitam este tipo de estrelas”, sublinha.

No artigo “A rocky planet transiting a nearby low-mass star”, da revista Nature, os investigadores esclarecem que “o GJ 1132b foi descoberto através do método dos trânsitos (medição da diminuição da luz de uma estrela, provocada pela passagem de um exoplaneta à frente dessa estrela), com observações do observatório MEarth-South”.

Desta forma, a equipa determinou o diâmetro do planeta, que mais tarde foi confirmado com observações do TRAPPIST (telescópio robótico belga dedicado à deteção e caracterização de exoplanetas) e do PISCO (instrumento multibanda instalado no Magellan Clay Telescope, no Chile).

Para determinar a massa do planeta, que em conjunto com o diâmetro permite calcular a densidade e com isso determinar a sua composição rochosa, a equipa aplicou “o método das velocidades radiais a observações efetuadas com o espetrógrafo HARPS (ESO)”.

Em comunicado enviado à Lusa, Nuno Santos (IA e Universidade do Porto) afirma que “esta descoberta mostra a importância de ter a capacidade para complementar observações de trânsitos com medidas de velocidades radiais, uma complementaridade que será fundamental para o sucesso de missões futuras como o PLATO2.0, da ESA”.

Todas estas observações permitiram determinar que o planeta tem 1,6 vezes a massa e 1,2 vezes o diâmetro da Terra, e orbita a sua estrela em apenas 1,6 dias, a uma distância de 2,25 milhões de quilómetros (por comparação, Mercúrio orbita o Sol a cerca de 55 milhões de quilómetros).

Dada a sua proximidade, “este planeta será um alvo favorito dos astrónomos durante anos”, acrescenta o primeiro autor do artigo, Zachory Berta-Thompson, do Massachusetts Institute of Technology (MIT).

O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) é considerado a maior unidade de investigação na área das Ciências do Espaço em Portugal, englobando a maioria da produção científica nacional na área. Foi avaliado como “Excelente” na última avaliação que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) encomendou à European Science Foundation (ESF).

PUB
Regional Ver Mais
Cultura & Social Ver Mais
Açormédia, S.A. | Todos os direitos reservados