Autor: Susete Rodrigues
Há 11 anos que Rubén Monfort fez da ilha de São Miguel a sua nova casa. Nasceu em Espanha, na cidade de Benicarló, localizada entre Barcelona e Valência. Por enquanto, não pensa regressar porque cá encontrou o seu lugar, mas refere que sempre que pode, visita os pais, a família. Diz que tem uma “conexão forte” com a sua família. “Sou filho único... mas é também certo que passado uma ou duas semanas lá, já sinto saudades de cá”.
Rubén Monfort conta que desde muito pequeno sempre teve um grande interesse pelas artes. Começou no coro infantil da cidade, depois entrou na filarmónica. Afirma que em Valência, tal como nos Açores, as filarmónicas são muito importantes, “são como um eixo social da cidade. Consegue-se juntar pessoas de diversas idades, com ensaios contínuos e semanais. Isso foi fundamental para o nosso desenvolvimento. Obviamente que a minha parte artística já estava presente”.
“Lembro-me que, por volta dos meus 6 ou 7 anos, descobri a máquina fotográfica analógica dos meus pais e comecei a testar”, conta acrescentando que “os meus pais não tinham grande relação com a fotografia ou com as artes. Portanto, é uma coisa minha. A partir dos 16 anos, quando apareceu as primeiras câmaras digitais, fiquei fascinado. Também a partir daí comecei a editar vídeo, fui sempre o fotógrafo dos meus amigos”, revela-nos.
Quando chegou a altura de decidir que curso iria seguir na universidade, Rubén Monfort estava entre a Arqueologia e os Audiovisuais e “fui visitar a minha faculdade que acabava de abrir, com instalações todas novas e foi aí que se deu o clique”.
O artista licenciou-se em Comunicação Audiovisual na Universitat Jaume I de Castelló. O curso foi muito interessante porque os “técnicos dos laboratórios deram-nos muita liberdade em experimentar, passávamos muito tempo nos laboratórios e nos estúdios. Foi uma oportunidade que nem todas as faculdades conseguem proporcionar. Experimentei todos os formatos, como a produção, realização, rádio e gostei muito de tudo”.
Do seu percurso fazem parte, em 2009 a ida para a Covilhã, no âmbito do programa Erasmus, que foi “centrado no cinema e foi interessante porque foi mais em termos analógicos”. Depois foi para o Brasil e “aí foi mais vídeo. Também no regresso a Portugal, desta vez ao Porto, em 2013 e no Canal 180, bem como aqui nos Açores, em 2014, no Açoriano Oriental, foi também mais centrado no vídeo, embora também tenha feito aqui fotografia”. A partir de 2015, quando começou a trabalhar na Silêncio Sonoro e no Tremor Festival, “investiguei mais o design gráfico e a produção”.
Chegado aos Açores em 2014, como disse, ao abrigo do programa Eurodisseia, por cá ficou porque encontrou uma conexão muito grande e, “sempre agradeço ao Açoriano Oriental porque foi fundamental esta experiência para o meu conhecimento de território”. Recorda o primeiro dia “em que tive de ir a Rabo de Peixe, tinham acabado de fazer as obras do porto; depois foram trabalhos do Santo Cristo, do rali, o “cliff diving”... portanto, foi importante para mim ter essa ligação com o local”.
A partir daí escolheu quais seriam os seus caminhos por cá, tendo estado, nestes 11 anos, em projetos importantes e que foram fundamentais para o desenvolvimento da “arte contemporânea e da música, como é o caso do Tremor, o Walk&Talk e a Vaga”. Adianta que “encontrei o meu lugar e também consegui perceber qual o meu papel em todos estes projetos e a importância que têm”, disse para explicar que estes projetos “foram todos muitos especiais e são difíceis de os encontrar noutro local”.
Sentiu-se muito bem acolhido nos Açores e a barreira linguística nunca foi um problema. “A fotografia e produção são as duas áreas que mais me identifico e onde estou mais à vontade”, conta. Dos seus mais recentes projetos, destaque para a exposição fotográfica “Despensas – A Tradição de Rabo de Peixe”, sobre as danças tradicionais da Vila de Rabo de Peixe. Aliás, Rubén Monfort quer alargar este projeto, ou seja, “estou a candidatar-me à Direção-Geral das Artes para fazer um foto-livro porque não há quase nenhum registo físico desta tradição. Não será só um livro, terá várias atividades paralelas como workshop com as despensas, atividades com as escolas, uma residência artística com uma pessoa da dança, uma nova exposição no Museu Carlos Machado. Tudo isso será para 2026, mas começo este ano todo o processo. As candidaturas vão até ao final de fevereiro, vamos ver se será apoiado ou não, e se não for, é encontrar outras formas de financiamento”. Referência também para a instalação “Laudalino da Ponte Pacheco, o fotógrafo que ainda está lá”, um trabalho que começou com duas semanas de residência artística na freguesia da Maia, para conhecer melhor o legado de Laudalino da Ponte Pacheco e as vivências da população.
Questionado se tem sido difícil obter apoios para a edição, Rubén Monfort refere que sim, explicando que “da parte da DGARTES há um desconhecimento destes projetos mais pequenos nos Açores, mais individuais”. Relativamente aos apoios da DRAC, é necessário cumprir determinados requisitos, por exemplo para uma publicação precisa “ter uma editora, ter o livro pronto quando se apresenta a candidatura, o que não faz muito sentido. Em 2026 esse regulamento vai mudar, esperamos que sim”.
Sobre o que ainda gostava de fazer, o artista confessa que já pensou em voltar-se “para o artesanato, interessa-me muito a joalharia também. Nunca tive tempo para experimentar, mas é uma coisa que me fascina; também interessa-me muito a parte do design de iluminação”.