Autor: Ana Carvalho Melo
A publicidade e a criatividade sempre fizeram parte do percurso de Luís Rego, autor de várias obras que refletem a sua imaginação e ligação aos Açores.
Natural de Ponta Delgada, Luís Rego viveu os primeiros anos em São Miguel, até que, por volta dos oito ou nove anos, se mudou para Lisboa com a mãe, na sequência do divórcio dos pais.
Esta transição, motivada por laços emocionais e afetivos, levou-o a percorrer um caminho que o aproximou do meio artístico. A mãe, que trabalhava na produção de cinema, proporcionou-lhe um contacto privilegiado com o universo cinematográfico, levando-o frequentemente a filmagens.
A sua formação académica iniciou-se na Escola Dom Pedro Nunes, em Campo de Ourique, prosseguindo depois no ensino secundário entre a Escola Pedro Santarém e a Escola Secundária de Benfica. Houve, no entanto, uma pausa no percurso pela capital, quando regressou à sua terra natal por dois anos onde estudou na Escola Domingos Rebelo, devido a compromissos profissionais da mãe. Concluído esse período, voltou a Lisboa, onde terminou os estudos secundários e ingressou na universidade, escolhendo o curso de Publicidade e Relações Públicas.
“Hoje em dia, considero que fui calhar a este curso um bocadinho à sorte. Eu, como qualquer jovem de 18 anos, estava um bocadinho perdido, porque é uma idade prematura para se tomar uma decisão tão relevante e que vai ter uma influência para o resto da nossa vida. Mas tive sorte, porque já achava muita graça à publicidade e acabei por seguir esse caminho, e de facto era algo de que gostava”, conta.
A sua entrada no mundo do trabalho deu-se na multinacional McCann Erickson, uma das mais reconhecidas agências de publicidade, onde trabalhou como redator publicitário e permaneceu durante cerca de dez anos.
“Até ao meu primeiro emprego, o meu percurso foi sempre pautado por uma proximidade a áreas criativas e artísticas, pelo que a publicidade me permitiu extravasar muito essa criatividade”, recorda.
O passo seguinte levou-o a integrar o projeto da Fisher Portugal, filial de um dos maiores grupos de comunicação da América Latina, onde desempenhou um papel fundamental na sua implementação em Lisboa.
“Começámos numa secretária dividida, mas o projeto foi crescendo e foi muito engraçado”, descreve.
Paralelamente, surgiu uma oportunidade profissional nos Açores, levando Luís Rego a fazer viagens regulares entre Lisboa e Ponta Delgada. Situação que culminou com o regresso definitivo à ilha.
“Eu nunca perdi a ligação sentimental, emocional e até territorial com os Açores, porque vinha cá nas férias. Pelo que a ligação existia e o objetivo de regressar acabou por acontecer. Na altura, foi a campanha política, mas depois começaram a aparecer outros clientes e, a verdade, é que, apesar de não haver um intuito claro de voltar, também estava um pouco cansado da vida em Lisboa e da vida profissional exigente que tinha”, lembra.
E com este regresso surge também a HD Açores, agência publicitária que fundou na Região.
“Foi também um projeto que começou do zero, mas que acabou por ter uma carteira de clientes interessante, com uma companhia de aviação, a SATA, uma cervejeira, a Melo Abreu, a Caixa Económica da Misericórdia e a operadora de telecomunicações NOS. Era uma agência de índole regional, mas que tinha contas que qualquer agência nacional gostaria de ter”, recorda, explicando que este projeto culminou com a criação da ‘Marca Açores’.
“Foi um projeto que foi proativamente apresentado ao então secretário regional da Economia, Vasco Cordeiro. Embora a ideia parecesse ter ficado em águas de bacalhau, um ou dois anos depois foi aberto um concurso público, que a agência venceu”, conta.
Nesta conversa, Luís Rego realça que, apesar da publicidade e da criatividade sempre terem feito parte do seu percurso, a escrita revelou-se um complemento natural do seu talento.
“Sempre tive muito interesse na escrita. A minha função enquanto criativo é ‘copywriter’, redator publicitário, como tal, sempre esteve associada à escrita, ao jogo de palavras, à criação de racionais, conceitos e ‘insights’ publicitários. E isso empurrou-me para a porta da escrita, onde posso explanar a criatividade sem qualquer tipo de limites ou fronteiras”, confessa.
Luís Rego revela mesmo que a escolha dos Açores para viver lhe abriu as portas para se dedicar à escrita.
“O regresso fez-me ver que, no campo da escrita autoral e livre, talvez não exista um lugar melhor no mundo para se viver, porque aqui desfrutamos de uma qualidade de vida que não tem paralelo, em que há tempo para pensar e desenvolver algumas ideias à volta da escrita”, afirma.
‘O Piano de Cauda que Nadou do Pico ao Faial’, com chancela Letras Lavadas, é a sua mais recente obra e vai ser apresentada no dia 21 de fevereiro, pelas 18h00, na Livraria Letras Lavadas, em Ponta Delgada.
Nesta obra, Luís Rego relata a história da vida e as aventuras de um rapaz de uns 17 anos, ao estilo do trabalho ‘Huckleberry Finn’, de Mark Twain, que, numa segunda-feira do Santo Cristo, decide ir a nado até ao ilhéu, de forma a participar numa tradição que junta as famílias de Vila Franca, que para lá se deslocam de barco.
“Ele não tem família nem barco, mas gostava tanto de fazer parte daquele movimento que decide ir a nado. São 500 metros para lá, 500 metros para cá, que se tornam de tal forma numa epopeia que ele começa a ter cada vez mais gosto e prazer em nadar, até que acaba por nadar distâncias maiores à volta da ilha de São Miguel. E há um dia em que decide ir a outra ilha. Esse é o momento de viragem na história, porque ele ganha a noção de que, de facto, se calhar podia ir a nado para todas as ilhas, e ele propõe-se a isso”, descreve.
Este é o quarto livro que Luís Rego publica desde 2012, obras que se caracterizam por apresentar narrativas cativantes que celebram a cultura e as tradições açorianas, sempre com um toque de humor e originalidade.
A sua estreia na literatura aconteceu com o livro infantil ‘O Arranha-Céus Horizontal’.
Em 2018, lançou ‘A Fajã de Cima, ou Como a Bota de Cano se Tornou Mais Atraente que o Salto Alto’, uma obra de ficção inspirada em elementos culturais e sociais desta freguesia de Ponta Delgada.
“Este livro é um retrato pitoresco da Fajã de Cima, mas que tem como ‘melting pot’ os personagens que se cruzam entre a vida rural e a citadina”, descreve.
No ano seguinte, publicou ‘Um Natal nos Açores, ou Como o Pai Natal Trocou as Botas de Cano pelos Chinelos’, um livro infantojuvenil ilustrado por Sara Azad.
“Este é um livro que segue um conceito de surrealismo e conta a história de um homem que vem de férias, se apaixona por São Miguel e acaba por ficar cá”, descreve.
Hoje, Luís Rego divide os seus dias entre a escrita e o trabalho criativo como freelancer, que continua a desenvolver a partir da ilha de São Miguel.