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Aníbal Moura: “O que me faz sentir que deixarei um legado é ver hoje a ilha toda povoada de pequenos rebanhos de ovinos”

O presidente da ARCOA – Associação de Criadores de Ovinos e Caprinos dos Açores louva o crescimento da atividade e anuncia a realização do 1º Congresso de Ovinocultura e Caprinicultura nos Açores a 24 e 25 de janeiro de 2025, em Santa Maria


Autor: Made In Açores

Como começou o seu percurso na ARCOA?

Foi em 1986 como produtor de ovinos. Foi o auge da associação, que foi criada para o desenvolvimento da ovinocultura nos Açores. Cerca de dez anos depois, houve uma fase em que as pessoas começaram a desinteressar-se pela atividade, sobretudo por terem acontecido muitos ataques de cães. De 5 mil ovelhas ficamos reduzidos a cerca de 500. Na altura comentávamos entre nós que talvez não valesse a pena continuar, mas eu sugeri que nos focássemos na ilha e nos tornássemos na Associação de Ovinos e Caprinos de Santa Maria. Assim foi e, ao longo do tempo, fomos desenvolvendo o projeto, criando animais, alguns importados do continente. Começou a haver interesse de novos produtores que se foram juntando à associação e fomos sempre crescendo. A dada altura, quando vimos que já tínhamos um número de sócios considerável, decidimos orientar o âmbito da associação novamente para o arquipélago dos Açores. Inicialmente, na década de 80, a associação era só de ovinos mas, neste momento, já inclui também os caprinos. Neste momento somos 70 sócios divididos por várias ilhas. Para além de Santa Maria, temos sócios na Terceira, Faial, Pico e São Miguel.


Que produtos resultam, hoje em dia, destas criações?

Há o borrego de Santa Maria, que é a nossa carne por excelência. Já tem o certificado Marca Açores e estamos agora a trabalhar para que tenha o certificado IGP (Identificação Geográfica Protegida). Gostaríamos que o processo fosse mais rápido, mas estas coisas levam o seu tempo. Entretanto, há cerca de cinco anos, surgiu um projeto piloto em ovinos de leite de forma a fazer cá uma queijaria. Santa Maria era a única ilha dos Açores que não tinha uma queijaria. Hoje em dia já fazemos queijo de ovelha, mas a produção é sazonal. Por isso temos também o leite de vaca, que vem dar complementaridade e mantém a queijaria sempre aberta. Neste momento, por exemplo, não temos leite de ovelha, mas estamos a produzir o leite de vaca cru e pasteurizado.


Quais são as principais dificuldades que tem sentido à frente da associação?

Como somos uma ilha pequena, por mais que os animais sejam trocados entre produtores, acaba sempre por ser difícil garantir a sua continuação. Temos sempre de importar animais reprodutores para que se mantenha uma boa genética e garantir a boa qualidade da carne. A Secretaria da Agricultura tem-nos ajudado nesse sentido. Se não fosse com o apoio dos nossos governantes, era impensável, se bem que os apoios estão cada vez mais difíceis. As coisas demoram, a burocracia é mais que muita. Este foi um ano de seca tremenda, pelo que a dificuldade agravou-se ainda mais, mas felizmente tivemos ajuda da Secretaria, nomeadamente com a importação de um contentor de fibra para os ovinos. Estamos agora a mobilizar esforços para que venha feno do continente. A nossa ideia nunca é que seja o Governo Regional a pagar pelos animais. A ajuda que pedimos é nos transportes, porque estes chegam a ser mais caros que os próprios animais. É o problema de vivermos em ilhas.


Ao longo destes anos ao serviço da associação, o que destaca como algo que o tenha deixa orgulhoso?

Sinto-me orgulhoso do trabalho feito porque é árduo e, muitas vezes, nem é reconhecido, mas isso faz parte. O que realmente me apraz e me faz sentir que deixarei um legado é ver hoje a ilha toda povoada de pequenos rebanhos de ovinos. Há uns anos quase não havia ovelhas em Santa Maria e agora, ao dar uma volta pela ilha, vemo-las a pastar. O que é ainda mais gratificante é ver jovens a pegar nesta atividade. Há uns anos, como falámos inicialmente, isso seria impensável. Agora a situação dos cães está mais controlada e os ataques são cada vez menos frequentes. Mas quer queiramos, quer não, os ovinos e caprinos continuam a ser o parente pobre da vaca. Elas têm muito mais peso na região, não há como fugir a isso. Mas outra coisa que me põe muito orgulhoso é estar à frente deste projeto da queijaria. Já tinham sido feitas várias experiências em Santa Maria mas nunca se tinha conseguido pôr um queijo no mercado. Hoje temos queijo de ovelha, queijo de mistura de vaca e ovelha, o pasteurizado e o cru de vaca, o requeijão de vaca e o requeijão de ovelha. São produtos que trabalhamos e que me dá muito gosto termos no mercado. São o resultado de muito trabalho, muito esforço, mas é um esforço compensado.


O que é que lhe dá motivação para continuar?

Sem dúvida o gosto pelos animais. Temos de gostar daquilo que fazemos, e eu gosto do que faço. Gosto dos animais, de falar com os produtores acerca do que pode ser feito. Queremos sempre mais, mas vamos trabalhando com o que temos e seguindo. O caminho faz-se caminhando.


Que planos tem para o futuro?

Temos a intenção de juntar mais pessoas, tanto nas ilhas em que já temos sócios como nas outras, e entender quais os seus problemas. Queremos estar representados em todas as ilhas dos Açores. A certificação IGP para o borrego da ilha de Santa Maria é também uma aposta nossa, que tenho confiança que conseguiremos alcançar. Isso não impede que, mais tarde, não se tenha um borrego IGP também nas outras ilhas. Cada ilha tem de ter sempre a sua própria certificação porque a carne é diferente de uma para a outra, já que as condições em que os animais são criados acabam por variar, desde a erva que consomem ao clima a que estão sujeitos. Agora as coisas estão a fluir, queremos também consolidar a queijaria, que tem sido um sucesso. Vamos, com certeza, continuar a trabalhar para o desenvolvimento da ovinocultura e caprinicultura nos Açores.

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