Açoriano Oriental
Abertura do espaço aéreo fez ‘disparar' turismo mas teme-se pelo ambiente

A liberalização do espaço aéreo dos Açores, no dia 29 de março de 2015, fez disparar o turismo e gerou mais-valias noutros setores económicos, mas hoje crescem as preocupações ambientais face à pressão turística.

Abertura do espaço aéreo fez ‘disparar' turismo mas teme-se pelo ambiente

Autor: Lusa/AO Online

Além de ter introduzido as companhias de baixo custo nas rotas entre o continente e os Açores, a abertura do mercado fez com que a construção civil, algo adormecida após um ‘boom’ na década anterior, fosse uma das principais beneficiárias do novo ciclo económico, com a edificação de novos hotéis e a transformação e reabilitação de habitações para alojamento local.

A responsável pela associação de industriais do setor nos Açores, Alexandra Bragança, refere que o turismo nos Açores foi um “balão de oxigénio” para as empresas até determinada dimensão, numa altura de “desinvestimento público” e apesar do ressurgimento do mercado paralelo.

Nos Açores, onde a agricultura e as pescas são os principais pilares da economia, a abertura do mercado aéreo fez com que se passasse das 1.231.247 dormidas em 2014 para 1.548.389 em 2015, sendo que em 2018 este indicador cresceu para as 2.556.640, segundo dados do Serviço Regional de Estatística dos Açores.

Em termos de proveitos totais, só nos estabelecimentos hoteleiros passou-se de 44,6 milhões de euros um ano antes da liberalização aérea para 54,3 milhões em 2015 e 94,5 milhões em 2018.

Fernando Neves, representante da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) nos Açores, admite, contudo, que a pressão turística representa “alguns perigos” e defende que é necessário “prever o crescimento” do setor.

Ainda assim, considera que existem “mecanismo suficientes” na região para assegurar um turismo sustentável, como o Plano Regional do Ordenamento do Território dos Açores.

Também o mercado 'rent-a-car' sofreu uma subida significativa com o surgimento de novas empresas, algumas das quais internacionais, atraídas pelo potencial turístico dos Açores, a par de mais operadores turísticos que diversificaram a carteira de produtos oferecidos nas várias ilhas.

Para Mário Fortuna, economista, professor universitário e presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada, o turismo “tem ainda muito por crescer em quase todas as ilhas”, não se estando “nem de longe nem de perto ao nível da saturação”.

O economista considera que se “aumentou consideravelmente os postos de trabalho”, estimando-se que “nos últimos anos se tenham criado mais de seis mil empregos” – um contributo para travar a emigração - por via do turismo, a par da “melhor rentabilidade” dos estabelecimentos que já existiam, vários dos quais “iam a caminho da falência”.

Para o representante dos empresários, em termos de sustentabilidade ambiental “está-se longe de ter um problema”, mas é necessário “tomar-se as medidas necessárias para que os turistas e residentes usufruam da oferta ambiental sem estragar”, através de investimento público em infraestruturas associadas ao setor, como miradouros, trilhos, zonas balneares e outros pontos de interesse.

O presidente da Associação Ecológica Amigos dos Açores, Diogo Caetano, refere, por seu turno, que uma das formas de combater a pressão turística sobre os monumentos naturais passa por alargar a rede de trilhos existentes.

Para o ambientalista, desta forma a rede seria “mais eficaz e diversa” e promoveria uma “maior dispersão no território”, reduzindo-se assim a carga que cada turista gera, sobretudo sobre as áreas protegidas.

Diogo Caetano considera que “a sustentabilidade não pode ser apenas um rótulo” quando “surgem modelos de hotelaria” que apostam em hotéis de grande dimensão, como uma unidade com cerca de 580 camas, no concelho de Vila Franca do Campo, em São Miguel, o que “surge ao arrepio” do que se pretende em termos ambientais.

Para Filipe Tavares, responsável pela Associação Regional para a Promoção e Desenvolvimento do Turismo, Ambiente, Cultura e Saúde, o turismo é uma mais-valia para a economia dos Açores, mas torna-se “imperioso definir o modelo que se pretende para a região".

O responsável lamenta que, apesar de o Governo dos Açores defender um turismo sustentável, “na prática surjam muitas medidas e obras que não evidenciam este percurso que se pretende seguir”.

Filipe Tavares manifesta-se contra os grandes hotéis, como o que se pretende erguer em Vila Franca do Campo, considerando-o “bastante desadequado da escala e realidade açoriana”, e defende que a revisão do Plano de Ordenamento Turístico da Região Autónoma dos Açores "já deveria estar em vigor para impedir que determinadas obras surgissem com esta escala”.


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