Autor: Lusa/AO Online
“Nós reivindicamos uma tabela com responsabilidade e estamos aqui para chegar a um consenso com a empresa em paz”, afirmou, em declarações aos jornalistas, o dirigente do Sindicato Nacional da Indústria e da Energia (SINDEL) Ricardo Toste.
Cerca de quatro dezenas de trabalhadores, representados por vários sindicatos, saíram à rua em Angra do Heroísmo, numa marcha entre as instalações da EDA e o Palácio dos Capitães-Generais, onde entregaram um memorando com as reivindicações ao vice-presidente do Governo Regional dos Açores (PSD/CDS/PPM), Artur Lima.
O governante ouviu os apelos dos trabalhadores e disse esperar que haja um entendimento com a empresa.
“Espero que, com bom senso e serenidade, se chegue a uma conclusão que seja benéfica para todos, para os trabalhadores, para o Governo e para os açorianos acima de tudo”, disse.
A Região Autónoma dos Açores é o principal acionista da elétrica açoriana (50,1%), que é também detida pela ESA (39,7%), pela EDP (10%) e por pequenos acionistas e emigrantes (0,2%).
Os trabalhadores reivindicam um aumento salarial de 4,7% e um mínimo de 53 euros, quase o dobro dos 2,5% que a empresa ofereceu na última reunião.
No arranque das negociações, as propostas dos diferentes sindicatos oscilavam entre 5 e 10%, mas já houve uma aproximação.
“Nós todos baixámos a nossa faixa para os 4,7%. Estamos a chegar ao limite. Não estamos aqui para baixar mais do que isso”, indicou Ricardo Toste.
A empresa também subiu o valor proposto inicialmente, mas os trabalhadores rejeitam um aumento de 2,5%.
“A primeira proposta que foi feita aos trabalhadores pela empresa, na primeira reunião, foi 2,03%. Isso é proposta que se faça a alguém? Uma empresa que apresenta 10 milhões [de euros] de lucro”, questionou o sindicalista.
Na quarta-feira, interrogado sobre a greve dos trabalhadores dos matadouros públicos dos Açores, que reivindicavam o pagamento de retroativos de 2024, o presidente do executivo açoriano, José Manuel Bolieiro, disse que o Governo “não tem varinhas mágicas para corresponder às ambições de todos".
Ricardo Toste admitiu ter ficado boquiaberto com as declarações do presidente do Governo Regional.
“A gente também não tem varinha mágica para ir ao posto de combustível meter combustível no carro, nem varinha mágica para pagar os preços das casas que estão elevadíssimos e os produtos essenciais nos supermercados”, salientou.
O dirigente sindical reivindicou um “ordenado digno” e que se aproxime dos valores pagos pela EDP no continente e pela EEM na Madeira.
“Os trabalhadores da EDP e da Empresa de Eletricidade da Madeira estão com um diferencial para a EDA de 30 a 40%. Nós fazemos o mesmo que eles fazem, com uma dispersão geográfica muito maior. Muitas vezes os trabalhadores têm de se deslocar de ilha em ilha para fazer serviço noutras ilhas, porque temos pouco pessoal e a empresa cortou nas contratações de pessoal, porque a Entidade Reguladora da Energia não autoriza”, salientou.
Os sindicatos têm nova reunião com a administração da EDA, marcada para segunda-feira, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.
Se não chegarem a entendimento, os trabalhadores avançam com uma greve às horas extraordinárias e às deslocações, a partir do fim do mês.
Na quarta-feira, o presidente EDA, Paulo André, disse à Lusa que há margem para chegar a um entendimento, mas "irá depender também da vontade das estruturas sindicais”.
“Somos uma empresa regulada, os nossos custos têm de ser justificados e aceites pelo regulador, porque são custos que são incorporados a nível da tarifa em termos nacionais. Por isso nós temos de ter alguma cautela na forma como esses custos são aceites na empresa”, apontou.