Açoriano Oriental
Técnicos que lecionam cursos de interpretação pedem fim da precariedade

A situação de precariedade dos técnicos que lecionam as disciplinas de interpretação, voz e movimento nos cursos de Interpretação nas escolas secundárias foi um dos temas do II Encontro Nacional de Cursos de Interpretação (ENCI), que decorreu em Santarém.


Autor: Lusa/Ao online

O ENCI, que nesta segunda edição juntou, ao longo de toda a semana, 140 alunos de sete escolas de vários pontos do país, foi criado com o propósito de proporcionar aos jovens que frequentam o curso de Artes do Espetáculo – Interpretação a oportunidade de trocarem experiências e conhecerem diferentes metodologias, tornando-se também um ponto de reflexão dos profissionais que lecionam nesta área, disse à Lusa Sara Gabriel, da organização.

A técnica e docente do curso de Artes do Espetáculo – Interpretação da Escola Secundária Ginestal Machado, em Santarém, que em 2018 assumiu a organização do ENCI, afirmou que o grande objetivo destes encontros é proporcionar aos alunos uma parte formativa, com ‘workshops’ (de manhã e à tarde), mas também oportunidade de apresentarem os seus trabalhos, realizando-se dois espetáculos em cada um dos dias do evento, um ao final da tarde, no Teatro Taborda, do Círculo Cultural Scalabitano, e outro à noite, no Teatro Sá da Bandeira.

“Os alunos saem mais maduros, saem com outra consciência do que é o trabalho formativo, do ensino profissional nesta área e de quais as suas perspetivas de continuação, dentro do curso e posteriormente”, disse.

Com a participação de escolas de Braga, Évora, Lisboa, Portimão, Tomar, Albergaria e da escola anfitriã (mais duas do que na primeira edição), o encontro tem permitido mostrar o trabalho que está a ser desenvolvido, com os jovens a revelarem “uma entrega e um interesse completamente diferentes” do que se nota em alunos de outras áreas, salientou Margarida Gabriel, docente da Ginestal Machado e membro da organização do evento.

A docente realçou ainda o envolvimento dos alunos de Artes Visuais da Ginestal Machado, que conceberam o cartaz do evento e colaboraram na construção dos adereços e do cenário do espetáculo apresentado pela escola anfitriã.

Fátima Fontes, da escola Alberto Sampaio, de Braga, sublinhou a importância de mostrar o trabalho que tem vindo a ser realizado e que rompe com o preconceito de que o ensino profissional é o “parente pobre do sistema”, para “alunos que não dão para mais nada”.

“Estão completamente enganados”, declarou, sublinhando que a Prova de Aptidão Profissional que estes alunos realizam é de tal modo complexa e exaustiva, deixando-os habilitados para fazerem um projeto de raiz, que estão preparados para vir a fazer uma tese de mestrado.

Margarida Gabriel frisou ainda a exposição no palco, a capacidade de partilha, de entreajuda, de reflexão, que estes alunos adquirem, aplicando já na prática o que a nova legislação para o ensino vem pedir às escolas.

Mário Rui Filipe, da escola da Bemposta (Portimão), apontou a importância do ENCI pela oportunidade que dá aos alunos de “saírem da sua bolha e conhecerem outras realidades – outra cidade, outros grupos -, fazerem novas amizades”, a exporem o seu lado criativo, a desenvolverem o sentido de crítica construtiva, acrescentando Fátima Fontes as “relações humanas fortes” que se estabelecem.

O encontro proporciona igualmente um espaço de reflexão, de debate, de partilha entre os profissionais, confessando Fátima Fontes que, depois da participação na primeira edição do ENCI, sentiu que a sua forma de estar mudou.

“Desde que o curso abriu, há dez anos, não tinha com quem partilhar as inseguranças, se estava a fazer bem ou mal. [Com o ENCI] surgiu a oportunidade de perceber que não estou sozinha, que outros têm as mesmas preocupações”, afirmou.

Entre as preocupações dos profissionais estão questões como o financiamento destes cursos profissionais – com escolas a serem financiadas pelo Programa Operacional Capital Humano (à exceção de Lisboa e Algarve), com um histórico de atraso nos pagamentos -, mas também a incerteza que marca a continuação nos projetos, já que a colocação dos técnicos muitas vezes acontece já depois de iniciado o ano letivo.

As disciplinas técnicas (interpretação, voz e movimento) não têm um grupo de recrutamento nem integração nos quadros de escola, sendo os concursos realizados anualmente, nunca sabendo se vão permanecer ou não na mesma escola, salientaram.

Por isso, estes profissionais, alguns com mais de 20 anos de ensino, têm em curso uma recolha de assinaturas pedindo o fim da precariedade, salientando Margarida Gabriel que o ideal será a criação de um grupo de recrutamento específico.


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