Autor: Lusa/AO Online
“Para os socialistas dos Açores, a pobreza nunca será um grande problema, pois para se manterem no poder, a prevalência da pobreza é a única solução”, apontou o deputado social-democrata João Bruto da Costa, que entende que o PS “gosta que os açorianos vivam de mão estendida” para poder garantir o seu “abono eleitoral”.
A acusação, feita durante uma interpelação parlamentar suscitada pela bancada do CDS-PP, sobre “pobreza e exclusão social” na região, gerou o protesto das bancadas do Governo Regional e do PS, partido que sustenta o executivo.
“Não admitiremos que em qualquer circunstância, qualquer deputado ou dirigente político afirme que o PS e o Governo se alimentam da pobreza para se perpetuarem no poder”, criticou Berto Messias, secretário regional da Presidência para os Assuntos Parlamentares, garantindo que “a realidade mostra exatamente o contrário”.
André Bradford, líder parlamentar do PS, considerou também “lastimável” que em vez do parlamento estar a debater um tema importante como o da pobreza, esteja a discutir “o grau de agressividade deste novo PSD”, que considerou ser um partido “agreste” e “irritado com o facto de ser oposição”.
A troca de acusações entre socialistas e social-democratas originou novo protesto, desta vez do deputado Paulo Estêvão, do PPM, que acusou a presidente da Assembleia Regional, a socialista Ana Luís, de estar a “favorecer” o PS e o Governo e, simultaneamente, a “prejudicar” os deputados de outras bancadas.
“Vossa excelência permitiu que os trabalhos decorressem desta forma, prejudicando gravemente quem já estava inscrito para o debate e prejudicando, evidentemente, a condução dos trabalhos”, lamentou o parlamentar monárquico.
A interpelação ao Governo dos Açores sobre pobreza, suscitada pelo CDS, surgiu na sequência de um estudo efetuado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), revelado no final de 2018, que dá conta de que 31,5% dos açorianos vive com menos do que o ordenado mínimo nacional.
“Praticamente um em cada três açorianos vive situações de inequívoca privação”, lamentou a deputada Rute Gregório, do CDS, considerando que é uma “fraca consolação” dizer-se que a região não está pior do que há algumas décadas ou anos atrás, já que os Açores e a Madeira são as zonas do país com maior risco de pobreza.
A secretária regional da Solidariedade Social, Andreia Cardoso, lembrou, no entanto, que a pobreza “é um problema” que compete a todos resolver e não apenas ao Governo Regional.
“Trata-se de uma luta que não é só do Governo, e que só será bem sucedida se contar com o comprometimento de todos”, insistiu a governante.
Para o deputado Paulo Mendes, do Bloco de Esquerda, a manutenção das situações de pobreza e de precariedade laboral nos Açores resulta, em parte, da manutenção e fomento de programas ocupacionais e de estágio, por parte do Governo socialista, dando como exemplo o programa EPIC (Estágios Profissionais Integrados Contínuos).
“Ou seja, após um carrossel de programas ocupacionais, que arrastam a situação de precariedade nos Açores, para quem procura emprego e não consegue, o Governo ainda cria mais um programa, que atribui benefícios às empresas que contratem esses trabalhadores”, criticou o parlamentar bloquista, que entende que este não é o caminho certo para resolver o problema.
O debate parlamentar sobre pobreza ficou também marcado por um outro episódio, que envolveu dois deputados do PCP e do CDS, sobre questões de pobreza e de outros problemas sociais, mas fora do âmbito regional.
Em causa, a acusação feita pelo comunista João Paulo Corvelo de que a líder nacional do CDS, Assunção Cristas, se aproveitava da “sopa dos pobres para sua promoção pessoal e política, à custa dos pobrezinhos”.
Artur Lima, líder regional do CDS, não gostou da acusação e lembrou o PCP apoia regimes comunistas antidemocráticos.
“O senhor tenha vergonha e peça desculpa aos nossos concidadãos madeirenses e do continente, que foram expulsos da Venezuela, que foram perseguidos e assassinados”, insistiu o parlamentar centrista, dirigindo-se ao colega comunista.