Açoriano Oriental
País aplicado no tratamento de toxicodependência para os mais jovens
Portugal faz parte do grupo de sete países da União Europeia com centros de tratamento da toxicodependência destinados especificamente a jovens, revelou um relatório do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT).

Autor: Alexandre Ribeiro de Almeida - Lusa / AO online
O documento sobre a Evolução do Fenómeno da Droga na UE, Noruega e Turquia, e que inclui dados de 2005, refere que "apenas um terço dos países europeus menciona a existência de centros de tratamento da toxicodependência especificamente destinados a crianças ou jovens: Alemanha, Grécia, Chipre, Luxemburgo, Países Baixos, Áustria e Portugal".

A maioria dos países citados afirma ter intervenções específicas para crianças e jovens consumidores nos centros de tratamento de toxicodependentes para adultos, especifica o OEDT num dos três documentos que acompanham o Relatório de 2007, neste caso dedicado ao "Consumo de droga e problemas conexos entre os muito jovens (menos de 15 anos)".

Segundo a agência europeia sedeada em Lisboa, as respostas direccionadas para as crianças que consomem droga variam desde as abordagens de prevenção universal (como nas escolas e nas comunidades) às intervenções precoces (aconselhamento), quando já há suspeitas de consumo de substâncias.

A meio caminho entre estas abordagens estão as respostas preventivas adaptadas aos grupos de alto risco (por exemplo, famílias em risco), em grande medida implementadas através dos serviços de saúde ou dos serviços sociais.

O OEDT sublinha que um factor de risco importante muito mencionado nos estudos dos Estados-Membros é o desconhecimento por parte dos pais das actividades dos filhos durante os períodos de lazer, sendo, por isso, o desenvolvimento da competência parental "uma componente fulcral de muitos programas de prevenção".

Contudo, sobre a prevalência e padrões de consumo de álcool, tabaco e drogas ilegais, a agência europeia destaca que "o consumo de drogas ilegais entre os muito jovens (com menos de 15 anos) é raro na Europa".

"O consumo regular entre jovens com menos de 15 anos é ainda mais raro e apenas presente, em grande medida, entre grupos específicos da população em que o consumo de droga surge associado a outras perturbações psicológicas e sociais", frisa o OEDT, especificando que a substância mais consumida por esta faixa etária é a cannabis, seguida de inaláveis como a cola ou os aerossóis.

"Entre os estudantes com 15-16 anos que dizem ter consumido cannabis, continua a ser pouco comum que esse consumo tenha sido iniciado por volta dos 13 anos (normalmente 1 a 4 por cento)", diz o OEDT, adiantando que, em contrapartida, os inquéritos escolares revelaram que a percentagem de jovens de 13 anos que fumavam tabaco diariamente variava entre os 7 e os 18 por cento na UE.

Também entre 5 e 36 por cento da população estudantil da Europa admitiu já ter tido episódios de embriaguez nessa idade.

Os países que registam dados sobre o consumo de drogas nas faixas etárias mais jovens mencionam um grande aumento da prevalência do consumo de cannabis ao longo da vida durante os primeiros anos da adolescência, em especial entre os 11/12 anos e os 15/16 anos.

Em contrapartida, adianta a agência europeia, "parece haver pouco ou nenhum aumento da prevalência do consumo de substâncias inaláveis depois dos 11/12 anos".

Os inquéritos escolares revelam que o consumo de ecstasy, anfetaminas, cocaína ou heroína ao longo da vida raramente vai além de 2 por cento, segundo o OEDT.

Na Europa, o número de jovens com menos de 15 anos que iniciam tratamento por problemas relacionados com o consumo de substâncias ilegais é reduzido - menos de um por cento dos utentes em tratamento.

Segundo o OEDT, "o reduzido número de jovens com menos de 15 anos em tratamento pode dever-se a várias razões: o consumo de droga neste grupo ser baixo; o consumo problemático ainda não se ter desenvolvido; o tratamento especificamente destinado a esta faixa etária estar pouco disponível; o acesso ao tratamento ser difícil; os problemas de droga não serem registados pelos serviços sociais quando as crianças frequentam programas para outros problemas que não o consumo de droga".

A agência de informação sobre o fenómeno da droga explica que "é frequente os muito jovens iniciarem o tratamento da toxicodependência por acção das famílias ou dos serviços sociais ou por imposição do sistema de justiça penal" e que a grande maioria fá-lo devido ao consumo de cannabis como droga principal.

Só uma percentagem muito reduzida dos jovens utentes consome opiáceos ou outras substâncias como droga principal.

O OEDT sublinha que em 2005 registaram-se na Europa 18 mortes relacionadas com o consumo de droga entre os jovens com menos de 15 anos (0,2 por cento do total de mortes relacionadas com o consumo de droga).

O OEDT destaca que estudos que evidenciam que "as pessoas muito jovens cujos familiares consomem substâncias psicoactivas correm um maior risco de iniciarem precocemente o consumo de droga, devido ao funcionamento social e psicológico problemático da família ou devido às consequências neurobiológicas no desenvolvimento da criança, provocadas pelo consumo de substâncias por parte da mãe durante a gravidez".

Os dados disponíveis na Europa indicam que pelo menos 28.000 utentes em tratamento vivem com os filhos.

Uma relação negativa com a escola (absentismo escolar, expulsão), bem como actividades criminosas e de infracção das normas, parecem estar associadas a um risco elevado de consumo de droga entre as crianças, segundo o OEDT.

 No que se refere a legislação e regulamentos, na maioria dos Estados-Membros da UE, as medidas adoptadas para prevenir o consumo precoce de substâncias legais (álcool, tabaco) também são consideradas preventivas do consumo posterior de drogas ilegais.

Quem incitar ou promover o consumo de drogas ilegais entre os jovens incorre em duras sanções em vários países (como a República Checa, a Estónia e a Eslováquia). A venda de drogas ilegais próximo de escolas ou de outros locais frequentados pelos jovens também é severamente punida, destaca o OEDT.
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