O Serviço de Informações de Defesa da Dinamarca, na sua mais recente avaliação anual, divulgada na quarta-feira, refere que a maior assertividade de Washington sob a administração do Presidente Donald Trump surge num contexto em que a China e a Rússia procuram reduzir a influência ocidental, especialmente a norte-americana.
Particularmente sensível para a Dinamarca – membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) e da União Europeia (UE), bem como aliada dos próprios norte-americanos – é a crescente competição entre essas grandes potências no Ártico.
Trump manifestou o desejo de ver a Gronelândia, um território dinamarquês semi-autónomo e rico em recursos minerais, tornar-se parte dos Estados Unidos, uma intenção rejeitada pela Rússia e por grande parte da Europa.
“A importância estratégica do Ártico está a aumentar à medida que o conflito entre a Rússia e o Ocidente se intensifica, e o crescente foco dos Estados Unidos nas questões de segurança e estratégia na região acelerará estes desenvolvimentos ainda mais”, refere o relatório da ‘secreta’ dinamarquesa.
A avaliação surge também após a publicação, na semana passada, da nova estratégia de segurança nacional da administração Trump, que descreve os aliados europeus como frágeis e visa reafirmar a dominância norte-americana no hemisfério ocidental.
O Presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a Rússia está preocupada com as atividades da NATO no Ártico e que responderá reforçando a sua capacidade militar na região polar.
As conclusões e análises do relatório ecoam uma série de preocupações recentes, sobretudo na Europa Ocidental, sobre a postura cada vez mais unilateral dos Estados Unidos, que, no segundo mandato de Trump, têm privilegiado acordos bilaterais e parcerias em detrimento de alianças multilaterais como a NATO.
“Para muitos países fora do Ocidente, tornou-se uma opção viável estabelecer acordos estratégicos com a China em vez dos Estados Unidos. A China e a Rússia, juntamente com outros Estados com interesses convergentes, procuram reduzir a influência global do Ocidente e, em particular, dos Estados Unidos”, lê-se no relatório.
“Em simultâneo, aumentou a incerteza sobre a forma como os Estados Unidos irão priorizar os seus recursos no futuro. Isto dá aos poderes regionais maior margem de manobra, permitindo-lhes escolher entre os Estados Unidos e a China ou procurar um equilíbrio entre ambos”, adverte o relatório dos serviços secretos dinamarqueses.
A administração Trump tem suscitado preocupações quanto ao respeito pelo direito internacional face à série de ataques mortais contra alegados barcos de tráfico de droga no mar das Caraíbas e no Pacífico Oriental, naquilo que se diz ser parte de uma campanha de pressão reforçada contra o Presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
Trump também se recusou a excluir o uso da força militar na Gronelândia, onde os Estados Unidos já dispõem de uma base militar.
“Os Estados Unidos estão a usar o seu poder económico, incluindo ameaças de tarifas elevadas, para impor a sua vontade, e a possibilidade de recorrer à força militar – mesmo contra aliados – deixou de ser excluída”, conclui o relatório.
