Ministra espanhola fala em "deterioração maiúscula" do Governo de Sánchez

A dirigente do partido espanhol Somar e ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, exigiu ao primeiro-ministro socialista, Pedro Sánchez, uma remodelação radical no Governo, falando em "deterioração maiúscula" e "situação muito complicada" no executivo



"Assim não é possível continuar", disse Yolanda Díaz, numa entrevista na televisão La Sexta.

A ministra e uma das vices presidentes do Governo referia-se à sucessão de notícias sobre suspeitas de corrupção e de assédio sexual a mulheres que envolvem atuais e antigos dirigentes do Partido Socialista (PSOE), incluindo um ex-ministro (José Luis Ábalos) e um ex-funcionário da Presidência do Governo (Francisco Salazar), ambos, como outros nomes, considerados durante anos dos políticos mais próximos e de confiança de Sánchez.

Nos casos relacionados com assédio sexual há ainda relatos de mulheres que se queixaram nos canais criados para esse efeito no PSOE de terem sido ignoradas ou de o partido ter demorado meses a contactá-las.

"A deterioração é maiúscula, é a corrupção, é o machismo", sublinhou Yolanda Díaz, que disse já ter falado com Pedro Sánchez e pediu "medidas imediatas" face a uma "situação muito complicada e insuportável".

"O Governo tem de ser reformulado de maneira radical, de cima a baixo" e é preciso negociar e acordar no parlamento um novo plano de "regeneração democrática", que previna e combata a corrupção, defendeu.

Questionada sobre o que fará o Somar (esquerda) caso Sánchez não responda a este apelo do parceiro de coligação governamental, Yolanda Díaz disse que o partido "tomará as decisões que tiver de tomar, mas esta mudança tem de se produzir".

A ministra disse que o PSOE e a liderança do Governo "têm de dar explicações" e garantiu que se fosse primeira-ministra falaria ao país sobre as polémicas que se estão a suceder.

"Governar não é resistir", disse Yolanda Díaz, que pediu a Sánchez para atuar e alertou que este tem de ser "um ponto de viragem", que é preciso "uma limpeza de cima a baixo" e que há "desolação" entre as mulheres, que representaram 56% do eleitoral do PSOE nas últimas eleições legislativas nacionais, em julho de 2023.

"Acabaram-se as reflexões, as reformas cosméticas", acrescentou, dizendo que o que está a acontecer é "uma indecência".

Sánchez já pediu desculpa por diversas vezes nos últimos meses pelos casos de corrupção que envolvem ex-dirigentes socialistas e assumiu esta semana, durante um debate parlamentar, erros na gestão das queixas de assédio sexual que chegaram ao PSOE.

"O feminismo dá-nos lições todos os dias e a mim em primeiro lugar", afirmou, garantindo que assume "os erros" e atua "em consequência", ao contrário da oposição de direita e de extrema-direita.

Pedro Sánchez é primeiro-ministro desde 2018 e chegou inicialmente ao Governo com uma moção de censura ao então executivo de direita do Partido Popular (PP) por causa de diversos casos de corrupção.

A luta contra a corrupção e o feminismo são precisamente dois pilares do discurso de Sánchez e do PSOE, sublinham agora analistas políticos e editoriais na imprensa face às sucessivas polémicas que estão a envolver os socialistas espanhóis e o Governo.

Sánchez foi reeleito primeiro-ministro pelo parlamento espanhol em novembro de 2023, depois das eleições de julho do mesmo ano, por uma geringonça de oito partidos de esquerda e direita, incluindo forças nacionalistas e independentistas do País Basco e da Catalunha.

Um desses partidos, o Partido Nacionalista Basco (PNV, conservador), assumiu hoje, através da líder parlamentar, Maribel Vaquero, que vê que o Governo "está em choque" e não sabe "quanto tempo vai poder aguentar a crise", apostando em eleições antecipadas em 2026.


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