Autor: Ana Carvalho Melo
“Adágio” é o nome da exposição de Tomaz Borba Vieira que reúne as suas últimas obras realizadas entre 2019 e 2023 e na qual o pintor nos mostra “do que somos feitos” e expressa que “o sentido da vida está na luta e só nela se justifica”.
Esta exposição, que se realiza quase cinco décadas após a sua estreia no Museu Carlos Machado e quando a carreira completa 62 anos de exteriorização, é uma homenagem ao pintor e pedagogo, como realça o diretor do Museu Carlos Machado, no catálogo que acompanha a exibição.
“Com a exposição “Adágio”, o Museu quer também prestar homenagem a Tomaz Vieira, pintor e pedagogo, a quem somos devedores por tudo o que tem feito em prol da cultura e em particular da divulgação da arte contemporânea que tem marca da açorianidade”, afirma João Paulo Constância.
Refletindo sobre esta mostra, que revela uma série composta por 10 criações intituladas “Adágio”, o diretor do Museu Carlos Machado diz: “Atrevo-me a chamar Opus Adágio, e esta composição que imagino concebida em andamento lento, harmonioso e preciso. Obras inspiradas pela música de Albioni - confessa o artista. Pinturas para serem sentidas. Apreciadas a tempo, a compasso”.
José Maria França Machado, também no catálogo da exposição, realça que estes trabalhos de Tomaz Borba Vieira “já vinham anunciados em exposições anteriores”.
“Há cheios e vazios. Há órgãos de locomoção. E o permanente conflito entre opostos que o são por ocuparem lugares antagónicos. O artista chama a este grupo de trabalhos “Adágios”. Será no sentido musical anunciando um andamento mais lento na música do cosmos? Será a representação de ditos populares? Será um olhar mais pausado sobre a realidade insular? Ou será tudo isso reflectido num pensamento que se pretende mais calmo sobre a realidade circundante onde se procura uma harmonia inconciliável de opostos? Se olharmos pelo lado musical estas obras são mesmo um Adágio”, considera.
“É como se o pintor estivesse num momento de contemplação e desse atenção a pormenores que passariam despercebidos numa visão mais frenética da realidade. Há um contraste de cores que não se conseguem impor umas às outras. Não porque não tenham essa vontade, apenas porque o pintor pensou que não valia a pena, que a composição estava certa nesse momento e, mesmo que voltassem ao equilíbrio no momento seguinte, para quê procurar o que já estava encontrado? As próprias formas encontraram sozinhas o seu lugar, deixemo-las falar”, descreve.
Já sobre Tomaz Borba Vieira, José Maria França Machado afirma que “não é apenas pintor, é, fundamentalmente, um artista”.
“Ou
seja, sabe tudo o que acima foi dito e tem talento para materializar a
verdade das coisas. É motivado pela emoção mas o que diz passa pelo
crivo da racionalidade pelo que as suas obras são sempre um discurso
especulativo sobre a existência. Para ele um barco é um barco mas não é
apenas um barco. Um barco é um momento. Mais do que um objecto físico
que serve para transportar pessoas e coisas é um lugar onde as
mitologias se encontram, onde o partir e o chegar entram em conflito, é
um elemento fechado de liberdade. As pessoas que retrata nunca são
apenas fisionomias são, principalmente, seres com elementos dialéticos
interiores que é o que as tornam efectivamente humanas”, desenvolve.
“O que ele capta da paisagem das ilhas não é o que está à vista e toda a gente pode ver. É o que resulta da tentativa do conhecimento que, por ser impossível, mais imperiosa torna essa tentativa. Toda a sua pintura é de inquietação. E como se pode estar quieto quando se vive sobre fogo, rodeado de um mar que tanto traz alegrias como ameaças, numa comunidade que vive de desafios quotidianos, numa terra que se ama mas se abandona por sobrevivência”, salienta.
Acrescenta ainda que “numa terra onde o sagrado e o profano andam de mãos dadas e onde a palavra salvação tanto se pode referir a uma redenção metafísica como a uma vitória sobre as contingências existenciais. Tomaz Borba Vieira pensa nisso tudo e mostra-nos do que somos feitos ao mesmo tempo que nos diz que o sentido da vida está na luta e só nela se justifica”.
A exposição “Adágio” pode ser visitada até setembro no Núcleo de Santa Bárbara do Museu Carlos Machado.