Açoriano Oriental
Investigador da UA alerta
Metade das espécies naturais e endémicas em risco de desaparecer
Cerca de metade das 300 espécies naturais existentes nos Açores, das quais 80 endémicas, estão em “risco de desaparecer”, alertou hoje Eduardo Dias, botânico e investigador da Universidade dos Açores.
Metade das espécies naturais e endémicas em risco de desaparecer

Autor: Lusa/AO Online

“Esta percentagem não é exclusiva dos Açores, sendo idêntica ao que se passa com a flora de todo o planeta, o que tem consequências nos mais diversos domínios como o clima, a economia e até o turismo”, especificou o investigador em declarações à Lusa.

Eduardo Dias frisou, no entanto, que “estes valores são apenas estimativas", alegando que "faltam estudos a diversos níveis, além de estarem em curso investigações para descrever novas espécies entretanto localizadas”.

Entre as cerca de 80 espécies endémicas, três dezenas são exclusivas do arquipélago açoriano e as restantes da região da Macaronésia - Açores, Madeira e Canárias - enquanto uma das espécies, o dragoeiro, se estende a Cabo Verde.

O investigador salientou que, actualmente, “a flora introduzida no arquipélago ascende a 700 espécies, o que já é mais do dobro da flora natural que existia antes do povoamento das ilhas, que se estima que seriam cerca de três centenas de espécies”.

“Muitos dos espaços para onde a flora natural e endémica se poderia expandir estão ocupados pelas espécies introduzidas, o que é uma causa directa da perda de biodiversidade açoriana”, sustentou o botânico.

A situação resulta, segundo Eduardo Dias, “por uma apetência e gosto pelas espécies exóticas para ajardinamentos e sebes, em detrimento das autóctones”.

O investigador recordou, no entanto, que "as espécies endémicas, porque melhor adaptadas, têm a função de regular as condições ambientais, da água e dos solos, e minimizam as alterações climáticas sazonais negativas”.

“A vegetação das ilhas desenvolveu mecanismos destinados a diminuir os efeitos provocados pelo excesso de água”, afirmou.

Numa altura em que o arquipélago se debate com falta de água, parece paradoxal falar em excesso, mas o investigador salientou que a situação resulta “do desaparecimento das espécies - trufeiras e florestas húmidas - que faziam a retenção (da água) nas zonas altas”.

“O excesso de água, devido à intensa precipitação, era retido nas zonas altas e dispensado de acordo com as necessidades das zonas baixas, num processo regulado pela natureza”, explicou.

As consequências das alterações ocorridas são, por exemplo “as enxurradas e o encharcamento de pastagens”.

Eduardo Dias considerou ainda a situação "prejudicial para o turismo", atendendo a que os Açores estão a deixar de mostrar "as espécies que marcavam a singularidade e a diferença", além do actual quadro "obrigar a gastos nos combates às pragas”.

A situação coloca também problemas de protecção civil devido ao deslizamento de terras e falésias, tendo ainda um impacto cultural porque deixa de se reconhecer a paisagem típica e tradicional por troca com uma paisagem universal.

Eduardo Dias defendeu, por isso, “a introdução na agenda política, de uma forma visível e forte, da protecção da biodiversidade”.

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